segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Capítulo 15

- JOCHEN SADLER -

Já passavam das onze da manhã quando Ben apareceu na delegacia para prestar depoimento.

A Estação Central de Polícia fica na Heinrich Heine Allee, uma rua principal na Altstadt, num prédio grande com uma estrutura moderna, com janelas enormes de vidro mas nada especial. A localização é muito boa para quem chega e sai rapidamente em seus carros.

-Que bom vê-lo por aqui senhor Hallmann. - disse Teuscher tirando os restos de fumo do seu cachimbo que ele havia ganho de sua esposa quando eles fizeram trinta anos de casados.

-Podemos nos sentar em algum lugar? - pediu Ben.

-É claro que sim, vamos até a minha sala. Acabamos de trocar de turno, por isso tudo por aqui ainda está muito quieto.

Havia poucas pessoas no recinto. Um guarda que lia o jornal distraidamente, um outro que se dirigia a uma máquina de café com uma caneca de louça nas mãos e mais três homens que conversavam animadamente sobre o jogo de domingo à noite.

A sala do inspetor Teuscher não era muito grande como a sua no jornal, mas era confortável. Se pensar bem, é pra lá de boa, levando-se em conta que ele deve passar poucas horas aqui dentro. - pensou Ben. Uma poltrona grande de girar em couro na cor vinho e a mesa de madeira escura. Ao fundo, duas janelas grandes e do lado esquerdo um arquivo na cor cinza claro. Nas paredes alguns diplomas de sua especialização. Mas mesmo assim o local lhe parecia como uma gaiola de passarinhos ou como um aquário para peixes.

-Gosta de colecionar diplomas - brincou Ben tentando descontrair-se.

-É a minha especialidade. Aceita um café? - ofereceu Teuscher percebendo que Ben nem sequer sabia por onde começar.

-Aceito.

Teuscher pegou duas canecas de dentro do armário, uma na cor branca com uma foto de menino ao fundo e escrito: "Für Opa“ , (Para vovô) e a outra caneca toda preta com uma flor grande ecolorida estampada. Quando ele voltou com o café, Ben comentou:

-O senhor não parece um inspetor que trabalha para a polícia. - Ben estava morrendo de medo, ele nem sequer sabia o que o inspetor queria dele ao certo, ou mesmo até o que ele estava fazendo ali e tentava não demonstrar o pavor que ele sentia.

-Pra dizer a verdade eu estou mais para pescador. - Ben fez uma cara de pouco entendedor mas sorriu levemente. - Mas o senhor não está aqui pra saber da minha vida, senhor Hallmann.

-Certamente que não. Minha esposa e meu irmão me disseram que o senhor os visitou e queria saber algumas coisas a meu respeito. Achei que seria melhor se eu viesse pessoalmente para responder-lhe as perguntas.

Teuscher não queria intimidá-lo, na verdade ele queria conhecê-lo melhor. O seu senso de inspetor lhe dizia que aquele homem ainda iria surpreendê-lo, ele só não sabia como.

Passavam das duas horas da manhã quando o telefone tocou na casa de Teuscher.

-Como isso foi acontecer? - indagou ele.

-Ainda não sabemos chefe.

-Mas como pode ser de um corpo desaparecer assim do Instituto Médico Legal? E Igor, você já conseguiu falar com ele?

-Essa é uma outra parte da história que não é muito boa inspetor.

-Fale sem rodeios Kling.

-Sinto muito chefe, mas seu amigo está morto, ele foi assassinado. - falou Kling com todo o cuidado.

Teuscher abaixou o fone lentamente, ele tinha os olhos marejados d’água. Tateou a cadeira ao lado e sentou-se. Ele não podia acreditar, havia menos de seis horas que eles haviam se falado e Igor estava super contente, pois ele havia achado algo muito importante para o caso. Mas eles só iriam se encontrar no dia seguinte, pois a esposa de Igor fazia aniversário e ele precisava ir para casa. Mas ao que tudo indicava, ele nem sequer chegou a sair de lá. Teuscher dirigiu-se até a janela, ele pensava no amigo de tantos anos e que agora fora morto. Uma chuva fina começou a cair. Teuscher arrepiou-se da cabeça aos pés, há muito tempo ele não perdia alguém tão querido. As más notícias ainda não terminariam por aí, o caos de Teuscher estava apenas começando. Ele agora pegava o seu caderninho preto e fez ali algumas anotações. Ele desconhecia este tipo de dor no peito. Era a primeira vez que perdia alguém de quem gostava.

Para quem Igor telefonou depois de ter falado comigo? E como eles poderiam saber que ele tinha descoberto alguma coisa importante exatamente agora? E que coisa importante seria esta?

Jochen Sadler era um homem de estatura pequena, gordo para o seu tamanho, era lento em tudo o que fazia. Algum tempo atrás ele trabalhou como primeiro-ajudante de Teuscher. Ele até que era esforçado em tudo o que fazia, mas logo Teuscher percebeu que ele ficaria melhor se ficasse sentado na repartição da estação de polícia do que seguir com ele pelas ruas da cidade.
Teuscher ficou um bom tempo sem assistente até que Kling apareceu e ai pediu a sua nomeação, mesmo que ele fosse ainda jovem. Com isso Sadler havia perdido o lugar almejado por ele. Por outro lado, ele se sentia rebaixado e ficar sentado o dia todo recebendo fax, telefonemas era um serviço para idiota fazer e ele não era idiota. Passar o dia todo sentado atrás de uma escrivaninha escrevendo reclamações das pessoas que compareciam à delegacia, isso não! Isso não era para ele não! O pior ainda era aturar aqueles estrangeiros que sequer podiam falar o seu idioma correto. Falavam alto, cheiravam mal e faziam problemas no país dele. Ele simplesmente detestava tudo aquilo.

Sua vida em casa por causa disso havia se tornado um inferno. A mulher vivia lhe jogando na cara que ele era um imprestável e que ela sentia vergonha dele. Por isso, na noite que ele conheceu Klaus Gühmann no barzinho perto da delegacia e juntos beberam todas naquela noite, ele se achou importante. Klaus ofereceu a ele algo que Teuscher jamais lhe dera: oportunidade de mostrar que ele era bom. Ele se sentiu reconquistando o seu lugar, reconquistando o mundo e o melhor de tudo: reconquistando a sua família.

Klaus precisava de um homem de confiança. E ele era esse homem. Ele, Jochen Sadler iria provar para o velho Teuscher tão cheio de si, que ele sabia fazer a coisa e muito bem.

Por volta das 17:00 horas Teuscher recebeu um fax direto de Linz, na Áustria. Um dos patologistas que estava envolvido com o caso dos corpos estranhos fora assassinado naquele dia quando saía de um restaurante. Tudo o que eles sabiam é que um homem encapuzado em uma motocicleta sem placa, abriu fogo contra Ulrich Gläser. E ele tombou no local já sem vida. Fora disso, mais duas pessoas que estavam com ele no estacionamento também foram atingidas. E para finalizar, o corpo que se encontrava no laboratório simplesmente desaparecera.

- Será que, assim como Igor, ele também havia descoberto algo importante? - Teuscher agora se perguntava. - Mas o quê?

Ele estava achando tudo aquilo terrível demais. Por que será que eles estariam eliminando os patologistas envolvidos no caso e dando sumiço nos corpos? Ligou imediatamente para Linz, pois queria maiores detalhes de como as pesquisas por lá estavam se desenvolvendo, se eles descobriram alguma coisa nova para este caso. Mas ele também não recebeu maiores esclarecimentos.

Por fim ele resolveu manter contato com os outros patologistas envolvidos e decidiu que deveria alertá-los para que eles tomassem cuidado, pois dois deles já haviam sido liquidados.

Naquele estágio em que as coisas estavam caminhando Teuscher já não sabia mais em quem ele podia confiar. Ele achava que em alguma parte de dentro da polícia estava vazando informações. Ele precisava ser cauteloso, ele também estaria correndo risco de vida, assim como Kling e todos que estavam envolvidos neste caso.

Mas o que está acontecendo por aqui? Por que eles estão liquidando todos os patologistas envolvidos neste caso? - Teuscher se indagava novamente.