quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Sinopse

Uma decisão boba do passado mudou o futuro de Benjaminn Hallmann. Dono de um potente jornal em Düsseldorf, ele é o principal suspeito no aparecimento dos corpos encontrados em 4 países na Europa.

Todos os corpos tinham um barco tatuado na nuca. Que significado teria tudo isso?

Steffany, esposa de Ben, é uma mulher astuciosa, inteligente e bonita. Seu envolvimento com o cunhado a leva a decisões mirabolantes em toda esta trama onde ela se descobre apaixonada por Ben. Ela, que sempre brincara com os sentimentos de todo mundo agora se via apaixonada pelo próprio marido. E tenta desesperadamente salvá-lo do próprio irmão. Seria tarde demais para conquistar-lhe a confiança?

Uma séria e intrigante rivalidade envolvia Ben com seu pai, Freddy, e seu irmão, Georg Hallmann, a ponto de um desejar a morte do outro.

Freddy estava envolvido numa pesquisa científica muito importante que iria revolucionar o mundo. Mas os dados sumiram e inicia-se então um ciclo de mortes e revelações que levará Ben a participar de uma vertiginosa aventura.

Gabriella é a mulher que chegou na vida de Ben fazendo com que ele tivesse esperanças de ser feliz e esquecer o seu passado sombrio. Completamente apaixonado, era com ela que ele queria trilhar o seu futuro mas para que isso pudesse acontecer ele teria que apagar as marcas do seu passado.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Capítulo 1

- FAMÍLIA -

A rua estava escura e deserta, um homem estacionou um Mercedes azul escuro metálico e olhava agora o relógio. Passava um pouco das três da madrugada. No banco a seu lado no carro, uma outra pessoa segurava uma caixa preta, ele a pegou e a abriu e de lá tirou um controle remoto. Na parte de cima havia um relógio digital que mostrava os números em vermelho. Ele o ajustou para daqui a quatro minutos. Depois, ligou o carro, olhou para seu amigo e sorriu, como que querendo dizer: missão cumprida. Olhou mais uma vez para a casa branca de onde saíram, acenou com a mão direita dando um adeus e apertou o botão vermelho ativando sua contagem regressiva.

A rua composta só de casas era silêncio total. Pisou o pé na embreagem, passou a primeira marcha e partiu.

No velho porão da casa, por todos os lados havia cartuchos de explosivos altamente inflamáveis ligados ao setor elétrico através de uma espoleta. Do tipo que se coloca em edifícios para serem demolidos, com a diferença de que para uma casa não se precisa de tanto material. Fabricação caseira, é claro.

Eles entraram na casa quando viram que há mais de uma hora as luzes não eram acesas. Não tiveram nenhuma dificuldade para entrar no velho porão, a porta já não era tão resistente, pois nada de valor havia ali, a não ser, algumas quinquilharias, coisa de gente velha. Um guarda-roupa de madeira que já se inclinava para o lado, alguns sacos grandes de plástico com roupas que elas não usavam mais e que possivelmente estariam guardando para serem doadas a Cruz Vermelha, uma caixa de papelão com sapatos velhos, uma mala com roupas leves de verão, algumas ferramentas, muita poeira e muita teia de aranha. O porão cheirava a mofo por causa da umidade, pensou um deles.

Deixaram tudo preparado para que ele pudesse acionar o botão e contemplar de longe a beleza do seu trabalho.

Às 3:18h os explosivos detonaram.

******


Era começo de outubro e faltava uma semana para o aniversário de Ben quando o telefone tocou
no apartamento de Gabriella às 5:37 da manhã.

Ela era uma mulher linda, de estatura mediana, cabelos até aos ombros de cor avermelhada, a pele morena clara e ligeiramente bronzeada, olhos amendoados e castanhos. Embora não estivesse enquadrada nos padrões de altura exigidos pela sociedade, podia se dar ao luxo de arrancar suspiros por onde passava.

Ben havia viajado por uma semana para os Estados Unidos para um encontro de diretores que acontece todos os anos. Ele insistira para que ela fosse junto, mas ela disse que não poderia ir, tinha muito para fazer na revista e não dava para tirar férias de uma semana.

- Kolberg. - respondeu ela sonolenta.

-Graziella? - perguntou a pessoa num sotaque italiano o que Gabriella logo percebeu.

- , chi parla, per favore? Gabriella queria saber quem falava ao telefone.

Ela podia sentir as batidas fortes do seu coração, e sentia que algo ruim deveria ter acontecido.

A voz do outro lado do fio explicava que era a vizinha de sua mãe e sua avó e que naquela madrugada havia tido uma explosão na cozinha.

Gabriella pedia a pessoa do outro lado que falasse logo, mas do outro lado a mulher pedia forças a Deus, pois não sabia como dar uma noticia dessa.

-Diga, por favor. - insistia Gabriella e então ouviu a pior noticia da sua vida: Uma explosão de gás de cozinha havia tirado à vida de sua mãe e de sua avó, agora ela estava sozinha neste mundo. A mulher ao telefone lhe dissera que tudo havia sido muito rápido e que ninguém no povoado pôde fazer qualquer coisa.

Desde que seu pai morrera, ela nunca mais havia chorado e agora não conseguia se controlar.

Na mesma hora, ligou para o aeroporto e fez reserva para o próximo vôo que sairia para a Itália. Gabriella não queria se perdoar por não estar perto da mãe nos últimos tempos. Sentiu-se tremendamente egoísta por só querer viver a sua história de amor com Ben.

As pessoas no avião a olhavam sem entender porque ela chorava. A aeromoça chegou a perguntar-lhe se ela sentia alguma coisa, ao que ela respondeu que iria passar.

Não podia acreditar que elas haviam morrido e de que maneira tão brutal. Como elas não perceberam que o gás estava escapando? Como não sentiram o cheiro? Sua mãe ainda estava jovem, era uma mulher esperta, ativa, como não sentiu nada? Amaldiçoou o sistema tão velho de se usar gás de cozinha, por que elas não tinham um elétrico, por que? Ela sabia que não adiantava reclamar agora, isso só era torturar-se ainda mais.

O vôo foi tranqüilo e não houve turbulências e às 14:30 Gabriella pisou na Itália, no aeroporto de Calábria Térmia.

O dia estava lindo, o sol brilhava no céu azul, mas seus olhos não podiam contemplar toda aquela beleza. Seu coração estava triste demais. Por outro lado também não se sentia muito bem, o estômago estava embrulhado, ela não havia comido nada. Sentia-se fraca, sem forças e sozinha.

Se ao menos Ben estivesse aqui... - pensou.

Pegou um táxi e pediu que o motorista a levasse até Monsoreto que ficava a uma distância de uma hora e meia, mais ou menos, do aeroporto. Monsoreto não chega a ser uma cidade, é uma vila situada nas montanhas. Ali as pessoas se conhecem, o peixe é vendido na porta, às mães criam os seus filhos tranqüilamente, os cachorros preguiçosamente se espojam pela estrada, pois nada há para perturbar a sua rotina. Ela custava a crer que tudo isso acontecera ali, naquele fim de mundo.

Gabriella ficou horrorizada com o que viu, a casa estava totalmente destruída, não havia pedra sobre pedra, a impressão que teve é de que um Jumbo caíra sobre a casa.

Hospedou-se numa pequena pensão que ficava a trinta minutos mais ou menos do local do enterro.

Ela agora se recordava de como ficava feliz quando a Nona os visitava no Lago di Garda quando era criança. As duas desciam os campos amarelos dos limoeiros que embelezavam o caminho. Sobre as suas cabeças o céu azul, fazendo contraste com os picos das montanhas com suas pedras gigantescas. Ela não queria recordar os momentos vividos com sua Nona e com sua mãe, mas tudo lhe vinha tão naturalmente à memória. Ela se sentia embriagada pela dor e tudo o que queria era dormir para esquecer o pesadelo que estava vivendo no momento.

-Essa não! Como fui esquecer meu celular em casa!?

Na manha seguinte Gabriella dirigiu-se até uma cabine telefônica e ligou para Arthur.

- Oi Arthur, sou eu Gabriella.

- Menina, onde você se meteu? Ben está louco atrás de você desde ontem.

Então ela começou a contar-lhe o que havia acontecido.

- Sinto muito, Gabriella. Eu vou falar com ele. - Arthur Kostner é o braço direito de Ben no Düdorf Zeitung, o jornal que Ben dirige.

Na hora do enterro as pessoas notaram o quanto Gabriella estava pálida. Desde a notícia da morte da mãe ela mal conseguia dormir. As pessoas comentavam que ela era muito jovem para viver tudo aquilo, mas sem que os pudesse ouvir, pois podiam perceber que tragédia tudo isso estava sendo.

- Amada filha, falou o padre, sua mãe e sua querida avó, estão neste momento nos braços de Deus. Você não gostaria de jogar a primeira pá de terra sobre o caixão?

Gabriella sentiu um calor diferente pelo corpo, viu o céu rodar e as pessoas girarem a sua volta, depois não viu mais nada. Ao voltar a si ela não sabia quanto tempo havia se passado desde então. A sua volta estavam pessoas que ela não conhecia. E isso a deixou mais angustiada. Ela percebeu que um médico lhe tirava a pressão.

- Dove sono? - Onde estou? Quis saber Gabriella.

- Come si sente signora? - perguntou o médico.

-Un intontita. um pouco tonta, ela respondeu.

O médico podia entender perfeitamente que as notícias dos últimos dias a abalaram sobremaneira, por isso receitou-lhe um calmante leve, a fim de que ela pudesse dormir bem e assim recuperar as forças. Ao término da sua consulta, a cumprimentou, com as suas condolências.

Resolveu retornar à Alemanha na manhã de sábado ao invés de segunda-feira como havia previsto. Havia pensado andar um pouco pelas ruas da cidade onde sua mãe e sua Nona viveram os últimos anos. Queria sentir o cheiro da cidade e contemplar as montanhas da região. Olhar o mar que certamente as duas muitas vezes olharam e caminhar por ali. Mas depois de todo esse mal-estar, resolveu ir embora o mais rápido possível.

Se sentia exausta e cansada quando chegou em casa e resolveu tomar uma das pílulas que o médico havia lhe dado, pois tudo o que queria era dormir.

Seus sonhos estavam povoados de fantasmas que a perseguiam e ela acordou com o toque do telefone.

- Oi, meu amor! Como você está? Acabei de chegar e estou te telefonando do aeroporto. Eu sinto muito tudo o que aconteceu, eu sinto também não estar aqui, justamente quando você mais precisou de mim. - era Ben ao telefone.

- Estas coisas não se podem prever. O que mais me dói é que tudo me parece tão estúpido! - falou Gabriella com embargo na voz.

- Eu sei meu bem, agora tudo o que você precisa é ficar calma. Quero que você saiba que eu estou preocupado com você.

-O pior já passou, agora está tudo bem. Só estou muito cansada Ben, acho que foi a viagem, tudo o que me aconteceu. Sinto uma vontade enorme de dormir e tudo o que eu desejo é esquecer este pesadelo. Podemos nos ver amanhã?

- Está certo. Sonhe com os anjos, meu amor.

-Vou tentar.

Na manhã de domingo... Ben a achou pálida, claro que ele podia entender o quanto ela estava sofrendo. Havia fotos da família espalhadas sobre a mesa, alguns objetos pessoais, como um lenço de pescoço colorido, uma caixinha de música com uma bailarina, um camafeu com a figura de uma mulher jovem, e outros objetos. Com certeza presentes dados por sua mãe a ela. Ele sabia que não restava muita coisa para ser feita, mas mesmo assim ele estava a seu lado e ele queria que ela soubesse disso. Ben a levou para almoçar num restaurante pequeno e aconchegante, mas Gabriella pouco tocara na comida e logo quis voltar ao apartamento. Ele podia sentir que ela não estava nada bem.


******
- STEFFANY -


Manhã de segunda-feira na casa dos Hallmanns...

-O jornal da concorrência desta manhã noticiou que o processo contra Georg já dura cerca de dois anos. Acho que desta vez seu irmão está ferrado. O boato que corre é que há provas bastante comprometedoras. E aquela idiota da mulher dele acredita em tudo o que ele diz. Como pode existir pessoas assim?

-E o que você tem com isso?

- Eu não tenho nada e nem quero ter. Tudo o que eu quero é que esse processo vire um escândalo e que essa moça prove o quanto ele é um mulherengo, traidor, corrupto e que desvia dinheiro do estado. Eu quero mais é que ele se enrole até o pescoço com todos esses boatos e provem que ele não tem condições de se candidatar nem a Ministro, nem a Prefeito e nem a coisa alguma, nem aqui e nem em lugar algum. - Comentou Stefanny com Ben no café da manhã.

-Você nunca o perdoou por ele ter te trocado pela Karin, não é mesmo? Você ficou arrasada com o fora que ele te deu. - falou ele com desprezo.

- E você que me implorou para que eu me casasse com você para que a sociedade se calasse diante daquele escândalo que você se envolveu, já se esqueceu? Pois, é meu querido, desde o momento em que aceitei essa farsa pra te livrar, nada mais me arrasa como pessoa. E fique você sabendo, que se realmente eu quisesse, teria me casado com Georg ou com um outro qualquer melhor que você.

Steffany vomitara as palavras no rosto de Ben.

- Você sabe muito bem que não foi nada disso. E que eu nao sou nada disso.

- Eu é que não sou meu bem, porque já nasci mulher. Enquanto que você até hoje não consegue explicar o que aconteceu naquela noite. Tudo o que é capaz de se lembrar é que me implorou para te tirar daquela merda em que você se enfiou e que estava fedendo até as suas narinas.

-A história também não foi assim... As coisas não estavam tão boas para você não. Você e sua família não tinham onde caírem mortos, viviam só de nome e eu cheguei com uma boa solução para todos vocês: Dinheiro, minha cara. Eu era exatamente a solução rica e financeira para o jogador e perdedor que o seu pai era, para as consumidoras que você e sua mãe eram e são até hoje. Pelo que eu sei e todos nós sabemos, você era a cadela suja da sociedade.

-O que isso foi bastante cômodo e convincente para que você se casasse exatamente com essa cadela suja, pois todos sabiam que na minha cama só homens me visitavam. - falou ela pegando a garrafa de whisky e depositando o líquido no copo e continuou. - Foi muito fácil, depois que te encontraram na cama com aquela bichinha amarela do Richard, você correr para mim e eu dizer que não poderia ser verdade porque estávamos de casamento marcado e que esperava um filho teu. Um filho que nunca nasceu, para a minha felicidade. - Fez uma pausa para tomar um gole da bebida. - E agora vê se me deixa em paz, não meta o seu nariz na minha vida, isto está no nosso contrato de casamento. Não se esqueça, todo silêncio tem o seu preço - ameaçou ela.

Geralmente era assim que terminavam as conversas entre Ben e Steffany. Ele já não media mais suas palavras e não queria mais ter paciência com ela. Ele queria o divórcio. Custasse o que custasse, ele iria consegui-lo. Ele sabia que estava preso nas garras dela. De alguma maneira ela havia conseguido as fotos e negativos daquela noite fatídica para ele. Com isso ela o ameaçava. Vivia dizendo que iria tornar público o seu passado. - Mulheres eram assim mesmo. - pensava Ben. - Não, Steffi era assim. - consertou. - Ele sabia que jamais poderia confiar nela. Às vezes pensava se não teria sido melhor ter enfrentado o escândalo daquela época, pois com o tempo tudo cairia no esquecimento e assim ele teria tido a chance de se apaixonar por uma mulher de verdade, de ter filhos, de ter realmente uma família e ser feliz. Para ele a felicidade se chamava Gabriella.

******

- GABRIELLA -

Ainda manhã de segunda-feira...

Um homem subia às escadas do prédio onde Gabriella mora, quando de repente ele a amparou nos braços e a conduziu para o apartamento. Ele a aconselhou que telefonasse ao seu médico. O homem lhe disse que ficasse na cama até que ele chegasse. Ela se lembrou que deveria ligar para o trabalho, diria que não poderia ir e que esperava pelo médico. Quase meia hora depois o médico chegou.

- O que temos aqui? - perguntou o médico querendo descontraí-la.

- Não sei doutor, acho que vou pegar um resfriado e desses bem fortes.

- Quais são os seus sintomas?

- Vejo o mundo girar à minha volta, é uma sensação horrível de morte. – exagerou.

-Ponha a língua pra fora, por favor. - ela se sentiu como criança fazendo isso.

O médico agora lhe verificava o pulso, seus olhos, verificou a temperatura e fez anotações.

- Como tem se alimentado?

-Pessimamente, não sinto apetite e só de pensar em comida me embrulha o estômago.

- Sei.

- O que é que eu tenho doutor?

-Pode ser muitas coisas, senhorita. Você nos últimos dias tem trabalhado demais?

-Pra ser sincera, nem tanto.

- Sofreu alguma emoção muito forte?

- Sim, perdi minha mãe e minha avó há poucos dias.

-Sinto muito. Creio que o seu sistema emocional está muito abalado. Se você estiver se sentindo bem, amanhã passe no meu consultório; vamos fazer um exame de sangue e um check up.

- Está certo doutor, obrigada.

-Até amanhã, senhorita.

Mal o médico havia ido embora, a campainha tocara. Gabriella pensou que fosse Ben e se abriu em sorrisos para recebê-lo, mas para sua surpresa era o homem que a havia amparado nas escadas.

-Desculpe-me a intromissão, mas é que fiquei preocupado com o seu estado.

- Eu é que lhe agradeço, por favor entre.

-Markus Krämer, sou inglês, apesar do nome alemão. - se apresentou.-

- E eu Gabriella Kolberg, sou italiana, apesar do nome alemão.

Os dois acharam graça da coincidência. O homem contou que seu pai, que era alemão se casou com sua mãe que era americana e que morava na França, e que mais tarde eles foram viver na Inglaterra e lá ele nascera.

Gabriella por sua vez contou que seu pai era alemão e conheceu sua mãe que era italiana quando estava em férias.

-Meu pai ficou tão apaixonado, que nunca mais saiu da Itália.

- Ficou apaixonado por quem? Pela Itália ou pelas italianas?

-Pelas duas, creio eu.

Parecia que já se conheciam há um bom tempo, mas Gabriella se sentia um pouco embaraçada pela presença dele ali. Markus percebeu, e começou a falar algo para quebrar o gelo:

-Você tem um belo apartamento.

- Obrigada. Ainda nem agradeci por ajudar-me esta manhã. Muito obrigada. Você mora no prédio? Eu ainda não o vi por aqui.

- Não, eu não moro no prédio. Eu estou à procura de um amigo de meu pai. Ele perdeu o contato já há algum tempo e como eu estou visitando a Alemanha, queria ver se o encontrava.

- Não o encontrou?

-Não, acho que ele não mora mais aqui.

-Você já tentou a lista telefônica, procure pelo sobrenome.

- É isso o que eu vou fazer assim que chegar no hotel.

- Aceita um café?

A noite veio e com ela trouxe Ben. Ele era um homem alto, com os cabelos muito lisos e num louro escuro, tinha os olhos azuis e a pele branca lhe fazia um contraste pálido. Usa óculos e sem eles, não poderia enxergar nada a sua frente. Gabriella está apaixonada e para ela, ele é o homem mais lindo do mundo. Ben é diferente de todos os homens que ela já havia conhecido. É meigo, carinhoso, atencioso e tudo o que ela sabia sobre o seu trabalho na redação da revista para a qual ela era responsável no momento, ela devia a ele. Já não trabalhavam mais juntos, pois ela há um ano atrás havia decidido deixá-lo. Mas o destino não quis assim e os aproximou novamente. Ele a achou realmente muito abatida. A dor da perda havia sido demais para ela, pensava ele.

-Vou amanhã com você ao médico.

-Ben, isso não, eu posso ir sozinha. Fora disso você precisa estar no jornal.

-Ao menos deixe-me levá-la.

-Está certo, mas só levar-me. - Como era bom estar novamente nos braços fortes dele, era quando se sentia realmente protegida. Que bom que ele existia em sua vida. Essa foi a primeira noite desde então que ela conseguia dormir sem ter aqueles pesadelos onde a morte vinha com um sorriso e depois lhe apresentava a foice e cortava-lhe o pescoço.

Na manhã seguinte quando Gabriella estava saindo do consultório médico sentiu-se tonta novamente. Reclamou consigo mesma porque dispensara a companhia de Ben, agora ela tinha que pegar um táxi. Ela chegou em casa por volta das 11 horas, sentia-se melhor. Como tinha muito o que fazer, resolveu trabalhar de casa, pois há dias não ia à redação da revista.

Já passavam das 13:30 quando o telefone tocou.

-Desculpe-me se tomei a liberdade de telefonar-lhe, mas eu gostaria de saber como foi esta manhã lá no médico? - era markus Krämer.

-Foi tudo bem.

-E agora, como você se sente?

- Estou ótima, é estranho, o mal-estar é somente pela manhã, depois me sinto ótima, estou até trabalhando de casa.

- E você já almoçou?

- Pra dizer a verdade ainda não, porque nunca sinto fome.

- Isso não é bom. Se você não come, aí sim é que pode ficar gravemente doente. Eu não conheço muito bem a cidade mas ontem jantei num italiano e me lembrei que você havia me dito ser italiana. E como toda italiana gosta de uma boa pasta, passo em trinta minutos para pegá-la e não me deixe esperando porque passarei de táxi.

Gabriella nem teve tempo de recusar, ele já havia desligado o telefone. E como ele tinha o número dela? Ela nao se lembrava de tê-lo dado.

Enquanto se arrumava ela pensava que coisa engraçada era tudo aquilo, pois ele nem a conhecia direito e mesmo assim por duas vezes demonstrava certa preocupação pelo seu estado de saúde.- Esses ingleses, são mesmo muito educados. - pensou ela.

Markus tinha razão, o restaurante fazia mesmo uma pasta italiana deliciosa. O ambiente também cheirava à Itália, podia-se dizer. Garrafas de vinhos decoravam o ambiente todo em madeira com quadros da bela Nápole. Ela nem percebeu que havia comido tudo, se sentia faminta e nada restou no prato. Ela estava surpresa consigo mesma.

- Acho que você tem a culpa de me fazer comer tanto.

- Fico contente que tenha gostado.

Markus dera um sorriso tão lindo. Foi quando ela percebeu que homem bonito, gentil e charmoso ele era. Cabelos e olhos castanhos claros, com certeza ele os trazia da sua mãe. Filhos homens sempre puxam o lado da mãe, dizia sua Nona. Ele era um homem atraente, alto, não muito magro um estilo atlético, ele deveria praticar algum tipo de esporte pensou ela. E que olhos vivos e brilhantes ele tinha. Se ela não fosse tão apaixonada por Ben, com certeza ele seria um forte candidato. Sentiu que seu rosto queimava e sabia que mais uma vez ela havia ficado vermelha com os seus pensamentos. Para disfarçar ergueu um brinde.

-Faço um brinde a sua visita à Alemanha!

-E eu faço um brinde à comida italiana!

Na verdade o que Markus queria dizer é que fazia um brinde a ela.

Ele havia ficado encantado por sua beleza assim que a viu pelo retrato quando Arthur Kostner lhe disse que essa era a sua missão: Que ele deveria de qualquer maneira entrar na vida dela e que ele usasse todo o seu charme para isso.

Arthur teve que escolher a dedo, pois conhecendo Gabriella como ele a conhecia, ele sabia que não seria fácil para essa pessoa conquistar a sua confiança.

Mas parece que a sorte estava do lado dele. Ele não sabia que ela havia regressado da Itália, pois o seu vôo de volta à Alemanha estava marcado para segunda-feira. E sendo assim, naquela manhã ele teria tempo de verificar as dependências do prédio onde ela mora para conhecer a área.

Para sua surpresa, ela quase desmaiara em seus braços na escada o que ele gostou muito. Mas por outro lado ele estava preocupado em saber realmente o que ela tinha.

Ele estava como que embriagado pela voz dela, por seu sorriso, por tudo que ela fazia. Desde que ele a conhecera era a primeira vez que a via sorrir, e como ela tinha um sorriso lindo. Pessoalmente ela é muito mais bonita. - pensava ele.

Quarta-feira...

Gabriella resolveu que voltaria a trabalhar.

Sem que ela percebesse, alguém he vigiava cada passo: Markus Krämer. Ele a observou quando ela na tarde daquele dia comprara um lindo cachecol verde escuro de cashimira rajado em preto de muito bom gosto por sinal.

Ela andava pelas ruas da cidade absorvida pelos próprios pensamentos.

-Será que Ben vai gostar do cachecol? E da cor? Não sei, não, é tão complicado comprar presentes para homens. Principalmente para um homem como Ben, tão fino, tão elegante, que já tem tudo. Que presente se dá para um homem que faz 35 anos? Será que eu não deveria ter-lhe comprado um perfume de marca, também?

Gabriella detestava esse tipo de coisa: não saber o que presentear. Ela estava presa a esses pensamentos quando sentiu uma vontade irresistível de comer pepinos em conserva. Resolveu entrar num supermercado para comprar um vidro. Ao experimentá-los sentiu o sabor azedo e arrepiou-se. Mas achou tudo delicioso demais.

Quinta-feira à tarde...

Alguém do consultório médico ligou para ela e pediu-lhe que fosse até lá. Gabriella pensou mil coisas com esse telefonema. Sentiu novamente tudo girar a sua volta, um calor invadiu seu corpo e ela se sentiu sufocada.

- Será que estou com algum câncer? - este foi o seu primeiro pensamento. - Porque o médico não poderia me dizer pelo telefone? Dio mio, será que o meu caso é assim tão grave que ele preferiu me dar a notícia pessoalmente?

- Sentiu vontade de chorar, só de pensar que ela poderia perder Ben. Ao chegar ao consultório...

-Como está se sentindo, senhorita Kolberg?

- Pra ser sincera, muito bem, e já até comecei a trabalhar. - ela tentava disfarçar o seu nervosismo.

- Ótimo! Os resultados dos exames já chegaram.

- E o que é que eu tenho, doutor? - Gabriella já não podia mais se controlar.

-Meus parabéns! A senhorita vai ter um filho!

Gabriella se sentiu nas nuvens, e se não estivesse sentada, possivelmente teria caído no chão.

- Como é doutor?

- A senhorita vai ser mãe.

- O senhor tem absoluta certeza do que está me dizendo?

- Em tantos anos de profissão, essas coisas não se erram mais. E depois, com toda essa tecnologia de hoje é praticamente impossível um laudo desses estar errado, senhorita Kolberg.

-Mas isso é maravilhoso, doutor!

-Acredito que sim.

- O que devo fazer, doutor? Eu nunca estive grávida antes. - O médico experiente podia ver isso no rosto dela.

- A senhorita deve procurar o seu ginecologista o quanto antes, ele lhe dará todas as informações necessárias e todos os cuidados que a senhorita deve ter com a alimentação para que o bebê se desenvolva forte e sadio. E também, ele deve receitar algum medicamento para ajudar com os enjôos.

Gabriella estava nas nuvens. Ia ter um filho de Ben. Ela caminhava pela calçada sorrindo para todas as pessoas, passou a observar melhor as mães que com os seus carrinhos de bebês passeavam pelas ruas da cidade. Todo o mundo a sua volta ficou de um colorido que ela jamais vira. Num grande impulso, ela entrou em uma loja de roupas para bebês, teve a vontade de comprar um sapatinho para o filho que estava esperando.

- Gostaria de ver sapatinhos de bebês, por favor. - disse ela à vendedora.

Que lhe trouxe meia dúzia de sapatinhos. Gabriella se deliciava, observando como eram tão pequeninos. Ela fazia a comparação lembrando-se de como Ben tem pés grandes, afinal ele é um homem de 1,92 m. Com certeza o seu filho também seria tão alto quanto o pai. Ela sorria por todos os cantos da boca, numa felicidade que ela não conseguia frear.

- Vou ficar com este daqui, amarelinho, com acabamento em branco.

Gabriella foi agora para o estacionamento pegar o carro, mas tinha vontade de andar os vinte quilômetros a pé até a sua casa. Queria contemplar a beleza desse dia.

Envolvida em seus pensamentos ela teve uma idéia maravilhosa, não diria nada a Ben até à noite do aniversário onde ela junto ao cachecol entregaria também os sapatinhos que havia acabado de comprar. Ela sorria só de imaginar a cara boba que ele faria e perguntaria a ela:

- Acho que para os meus pés precisam de um número maior. - E então lhe diria sorrindo, que os sapatos não eram para ele e sim para o filho dele que ela estava esperando.

Guardaria segredo até a noite de sábado e então lhe daria esta bela notícia. Isso sim, é que é presente de aniversário, pensava.

Primeiro Steffany concordara com o divórcio e agora ela recebia a notícia do bebê.

Gabriella estava muito feliz. Evitou pensar em sua mãe, pois ela não queria que as tristezas da vida chegassem agora para deixá-la triste. Mas certamente que sua mãe seria uma Nona maravilhosa, isso seria.

Capítulo 2

- RICHARD LACOND -

Sexta-feira à noite...

Passavam cinco minutos das dezenove horas quando a campainha do apartamento de Gabriella tocou. Ela achou que fosse Ben, mas ele tinha as chaves, não precisava tocar.

- Danadinho, me disse que não viria só para me fazer uma surpresa. - pensou Gabriella com os seus botões. Mas ao abrir a porta deparou-se com Steffany, a qual a fez gelar da cabeça aos pés sem saber e entender bem porquê. Mas controlou-se e convidou-a para entrar.

- Me desculpe recebê-la de roupão, eu acabei de sair do banho, eu pensei que...

- Que fosse Ben? - retrucou Steffany.

Ela lhe roubara as palavras da boca. Gabriella estava meio sem jeito, sem saber muito bem o que dizer. Embora Steffany houvesse concordado com o divórcio, esta era a primeira vez que estava frente a frente com ela e a sensação que Gabriella tinha era um pouco constrangedora. Foi Steffany quem quebrou o gelo.

- Você me oferece uma bebida?

- É claro, que bobeira a minha de nem lhe oferecer alguma coisa para beber. Um whisky, não é mesmo? Não é isso o que você gosta de beber? - perguntou Gabriella querendo descontrair-se.

- Vejo que você não se esqueceu, nas poucas vezes em que estivemos juntas.

- Sim, Ben sempre diz que você não dispensa um bom whisky por nada neste mundo.

-Não me acompanha na bebida? - Gabriella estranhou a pergunta, num primeiro impulso pensou em dizer-lhe que estava grávida de Ben e que por isso ela sentia muito em não acompanhá-la, mas depois pensou que nem mesmo ele ainda sabia que iria ser pai, e não seria justo que uma outra pessoa que não fosse ele viesse a ser o primeiro a saber.

- Não estou muito bem do estômago, Steffany, sinto muito em não acompanhá-la.

-Entendo. - Bem, não vou fazer muitos rodeios para lhe dizer o que vim fazer aqui, até porque eu não quero que você se resfrie nesse roupão, mas achei que você deveria conhecer um pouco melhor a vida de Ben, pois afinal vocês querem se casar, não é mesmo?

Gabriella não estava entendendo muito bem aonde ela queria chegar, mas ainda podia se lembrar que ela respondera alguma coisa a Steffany.

-Acho que o que eu conheço de Ben já é mais do que suficiente. - Falou assim e passou a mão pela barriga procurando sentir alguma reação do filho que estava guardado ali dentro.

-Eu não gostaria que você me levasse a mal, mas me entenda, nós duas somos mulheres e podemos perfeitamente nos entender. Sente-se aqui a meu lado, tenho algumas fotos para lhe mostrar.

E dizendo assim começou a tirá-las do envelope que trazia. Gabriella não estava entendendo o que Steffany queria com tudo aquilo.

-O que significam essas fotos de Ben com esse rapaz? Isso deve ser uma brincadeira, não é Steffany? Trata-se de fotomontagem, não é mesmo? Sei bem como se faz isso.

Gabriella estava aturdida sem entender direito o que Steffanny queria.

- Nada disso que você está dizendo é verdade, Gabriella. Na verdade, Ben até hoje não quis admitir esse seu lado, digamos assim: feminino, compreende?

Não, ela não poderia entender. Gabriella sentiu que o chão lhe faltava embaixo dos pés, isso não podia ser verdade, não partindo do homem que ela amava, não do pai do filho que ela estava esperando. Steffany começou a contar-lhe toda a história.

- Eu sinto muito Gabriella, mas achei que você deveria saber toda a verdade. Ben me pagou muito dinheiro para que eu ficasse com ele todos esses anos. É claro que eu nunca pensei em me divorciar dele, pois jurei no leito de morte de seu pai que jamais o abandonaria. O pai de Ben tinha verdadeiro horror de que numa recaída, ele colocasse todo o patrimônio a perder e o que seria ainda pior, um escândalo acabaria com a carreira política de Georg. Mas sabe, eu tenho convivido com Ben todos esses anos, eu o tenho como um irmão. Na verdade eu sempre fui mesmo é apaixonada por Georg, o irmão dele.

-É, eu sei, isso ele me falou.

-Toda esta história que eu estou te contando aconteceu no nosso tempo de universidade, todos nós éramos muito jovens e numa festa sempre pinta de tudo, inclusive um baseado na jogada. Todo mundo faz coisas que depois nem se lembra mais, você sabe como é. Eu tenho convivido com Ben todos esses anos e para ser franca eu nunca o peguei com outro homem. Na verdade ele e Arthur são muito discretos. - E tudo soou ao ouvido de Gabriella como uma bomba, parecia que alguém queria envenená-la com aquela revelação.

- Ben e Arthur?! - Ela estava surpresa e mal conseguia disfarçar o espanto. O ar lhe faltou e ela pensou que por alguns segundos os sentidos lhe iam faltar. Mil idéias lhe cortaram o pensamento neste momento. - Então foi por isso que Arthur se aproximou de mim se fazendo de amigo! Foi ele quem me aconselhou a deixar Ben há um ano atrás dizendo que todos no jornal já faziam os seus comentários… E eu idiota acreditei em tudo! Mas por quê? É claro! Tudo o que ele queria era me afastar de Ben. Mas Arthur não era casado? Não amava a esposa dele?

Steffanny a observava com grande interesse as expressões em seu rosto, em cada palavra dita.

-Eu sinto muito Gabriella, mas era tudo fachada, como é o meu casamento com Ben.

-Meu Deus! Eu verdadeiramente não conheço esse homem que você está me apresentando. Não se trata do mesmo por quem me apaixonei. Isso é cruel demais, é monstruoso, Steffany! Tem certeza que estamos falando do mesmo homem?

Gabriella retinha as lágrimas nos olhos, aquele homem não merecia as suas lágrimas. Todo o seu mundo estava caindo, todos os seus sonhos estavam sendo destruídos por aquele homem. Não pelo fato de Ben ter tido e ter um relacionamento com um outro homem, mas porque ele não lhe fora sincero? Por que, não lhe contou a verdade? Ela poderia tê-lo ajudado como amiga. E ela achando que ele era o homem mais sincero do mundo. Não. Isso não podia ser verdade. Havia algo nessa história que não batia e ela iria descobrir.

Agora Gabriella pensava na possibilidade de Ben a estar usando para conseguir o divórcio. Ele queria ficar livre para ir de encontro à vida que ele sempre quis ter. E ela era a isca para a sua realização. Como ela pôde ter-se enganado tanto?

-Mas Richard... - continuou Steffanny fazendo uma ligeira pausa para que Gabriella pudesse ter tempo de recobrar os pensamentos e entrar em sintonia com a realidade.

-Quem é Richard? - quis ela saber.

-Richard foi a grande paixão de Ben nos tempos universitários. Veja as fotos Gabriella. Todo mundo na universidade sabia dos dois. Aliás eles foram pegos uma vez no carro de Ben fazendo amor. Ben não tinha nenhum pudor e nenhuma vergonha de se mostrar. Essas fotos foram feitas numa festa, veja. Meu irmão Klaus estava presente e foi ele quem depois conseguiu acalmar o pessoal e ficou com todos os negativos. Mas eles ameaçaram de espalhar as fotos pela cidade, de mostrá-la a Georg e de levá-las até seu pai. Ben entrou em desespero por causa da carreira do irmão e pensou que todo mundo já soubesse e correu para mim e praticamente quase me obrigou a casar com ele, para que essa história ficasse abafada, ele estava completamente fora de si. Sinceramente Gabriella, eu fiquei com pena de Ben, sabe como é quando a gente é jovem e amigo eu acabei querendo ajudá-lo e concordei com o casamento. É claro que ele teve que enfrentar o pai, e numa contra partida Freddy o obrigou a ficar responsável e a trabalhar no jornal, porque até então Ben só queria viver uma vida de farras e escândalos.

-Meu Deus! Você está me apresentando um outro homem! Mas você não era namorada do Georg nessa época?

-Não mais. Nós havíamos terminado. Inclusive ele já estava até com Karin. Deixe-me continuar Gabriella, porque tudo isso já é difícil demais. Richard não se conformava com a atitude que Ben tomara, em se casar comigo. E então começou a pedir dinheiro ou então ele iria contar pra todo mundo que o nosso casamento era só uma representação. O pai de Ben, o senhor Hallmann era um homem inteligente, ele sabia que eu era apaixonada por Georg e é claro que ele sabia que eu só havia me casado com Ben para ajudá-lo, porque nós dois sempre fomos ótimos amigos. Ele tinha esperanças de que comigo Ben iria pôr um pouco mais a cabeça no lugar e maneirar no seu jeito boêmio de viver. Por outro lado minha família na época estava em dificuldades e foi por isso que eu topei casar-me com Ben.

- Bem… voltando a Richard, uma noite os dois foram vistos em um bar, eles discutiram alto e brigaram feio. Na manhã seguinte algo terrível aconteceu.

-O quê aconteceu? Eu quero saber.

-Veja você mesma, eu tenho os recortes do jornal daquela época.

Gabriella não podia acreditar no que estava lendo e vendo no velho pedaço de papel. Richard apareceu morto e o principal suspeito pela sua morte era Benjamin Hallmann. Gabriella tremia ao ler a notícia.

-Ele matou Richard, Steffany? - Seus olhos imploravam para que ela negasse aquilo tudo, que Ben não era um assassino voluntário e que para se ver livre de algum problema, acabara cometendo um assassinato. Ela poderia perdoar tudo, mas não que ele tivesse tirado a vida de alguém.

-Eu não sei Gabriella, isso ninguém nunca conseguiu provar. Mas Ben também não tinha um álibi para aquela noite e eu tive que dizer para os policiais que nós estávamos juntos fazendo aquilo que todo casal que acaba de casar faziam: Amor.

Gabriella não queria ouvir mais nada, ela tinha absoluta certeza de que Ben matara Richard. Estava tudo acabado. O pai do filho que estava esperando era um assassino. Steffany observou como Gabriella estava nervosa.

-Você está muito nervosa meu bem, veja como você treme, vou te preparar um chá.

-Obrigada. Eu não sei como te agradecer.

- Você quer o chá com ou sem açúcar?

- Com açúcar, por favor.

Steffany aproveitou enquanto mexia o açúcar no chá quente para colocar um tranqüilizante que ela havia trazido. Ela já tinha imaginado que Gabriella não suportaria toda aquela história. Ela a conhecia bem.

Quando Gabriella bebeu todo o chá, Steffany lhe disse:

-Acho melhor ir agora, creio que você deseja ficar sozinha, não é mesmo? Tente dormir um pouco Gabriella. E me desculpe ter te apresentado um homem que você não conhecia. Mas esse é o verdadeiro Benjamin Hallmann.

Gabriella agradeceu mais uma vez, mas sentia que já não tinha mais forças para se levantar do sofá. Seus olhos estavam pesados demais.


******

- MELANIE KOSTNER -

Steffany era uma mulher alta, de cabelos num louro brilhante e liso. Os olhos azuis trazidos do pai, a pele bronzeada por um Solarium, máquina de bronzeamento artificial. É uma mulher que onde chega marca presença pela sua pisada forte e firme, pela sua maneira esguia de andar e principalmente por sempre saber o que quer. Sorri alto, lembrando sempre aos que estão a sua volta que ela é o centro do universo. Tem um corpo muito bem feito e treinado pelas academias. Seus quadris alargados dão-lhe uma forma que os homens gostam de olhar.

Ben havia providenciado tudo o que Steffany lhe havia pedido.

Ela sorria de satisfação ao vê-lo tão inocente dando as últimas ordens para a sua própria festa de aniversário, afinal ele também queria que Gabriella gostasse de tudo. Por ela ele parava o mundo.

Já passavam das dez da noite quando ele resolveu dar mais um boa noite para Gabriella e saber se estava tudo bem. O telefone tocara, tocara mas ninguém atendera. Ele tentou através do seu celular e a secretária eletrônica entrou, ele deixou um recado dizendo-lhe que tornaria a ligar mais tarde. Uma hora mais tarde ele voltou a ligar-lhe e a mesma coisa aconteceu, o telefone tocou, tocou e ninguém atendeu.

Achou estranho, pois Gabriella nunca dormia cedo. Será que lhe aconteceu algo? - pensou Ben. Ele sabia que ela não andava nada bem nos últimos dias, mas hoje à tarde ela parecia tão feliz ao telefone. Não, com certeza alguma coisa aconteceu e grave. Ele começou a preocupar-se e a ficar inquieto. Steffany o observava de longe.

-O que aconteceu Ben, parece nervoso?

-Não é nada, é besteira minha.

-Está preocupado com a sua amada? - ele a olhou demoradamente. Ele nunca sabia quando ela estava sendo sincera ou nao. Mas o que ele tinha a perder? Nada.

-É, mais ou menos isso. Eu não entendo, o telefone chama, chama e ninguém responde.

-Por que você não vai até lá? Quem sabe alguma coisa aconteceu? Você não disse que desde que a mãe dela e a avó morreram, ela não anda muito bem? Pois então, acho que você tem toda a razão em estar preocupado. Se você quiser, eu vou até lá contigo.

- Não será preciso, Steffany.

Ele já estava à porta quando Steffany numa voz bastante macia e suave disse:

-Ben, se você precisar de mim eu estou aqui, basta me ligar que eu vou imediatamente. Mas eu espero sinceramente que não seja nada e que ela tenha resolvido ir dormir mais cedo.

-Obrigada Steffi. - Ben, nunca iria entendê-la. Às vezes ela era uma verdadeiro anjo, como agora, às vezes uma verdadeira praga.

-Me promete que você me liga para me acalmar, pois agora até eu fiquei preocupada. - ela sabia que não podia contar a ele a conversa que tivera com Gabriella.

-Tudo bem, eu vou ver o que é que há.

Numa outra parte da cidade... um telefone toca...

-Sou eu. Ele acabou de sair de casa e certamente está indo pra lá, agora faça a sua parte e dessa vez não quero erros, pois ela não terá uma segunda chance se você falhar. Está tudo preparado?

-Está tudo pronto.

-Depois me telefone quando tudo estiver acabado.

-Como ela está?

-Ela ainda deve estar dormindo com o sedativo.

Freddy Hallmann e Arthur Kostner eram primos e sempre foram ótimos amigos. Quando eles eram crianças todos os anos na época das férias escolares os pais de Freddy o enviava para os tios que moravam nos Estados Unidos. Quando Freddy quis fazer jornalismo seus pais pensaram que ele poderia estudar nos Estados Unidos ao invés de fazer faculdade na Alemanha e assim ele e Freddy se tornaram inseparáveis. Um era o irmão que o outro não tinha tido.

Arthur estava apaixonado por Claire. Ela era linda com aqueles cabelos castanhos e encaracolados. E o sorriso, uma beleza que ele nunca vira.

Mas ela não queria casar, sempre dizia que havia nascido livre e ia morrer livre também. Mas Arthur a queria para si, queria tê-la vinte e quatro horas no dia. Ela sorria e dizia que ela era como um passarinho e que viver em gaiola nem pensar.

Ele ficava fascinado quando ela pegava o violão e começava a cantar. Ele dizia que isso era tudo o que ele queria: passar o resto de sua vida ouvindo-a tocar. Arthur pensava que com o término da faculdade ela mudaria de idéia e iria querer casar-se, como todas as outras moças que ele conhecia, mas não foi assim com Claire. À medida que o tempo passava e ela conhecia mais a vida, aí mesmo é que ela pensava no quanto era bom ser livre.

Quando Arthur terminou a faculdade de jornalismo ele estava cheio de planos e sonhos em relação a ele e Claire, mas ela disse-lhe que não, que a história deles terminava ali.

E assim ele não quis mais saber de ficar nos Estados Unidos e veio trabalhar no jornal do tio e com o primo Freddy na Alemanha e assim curar a sua dor.

Foi Freddy quem apresentou a mulher com quem Arthur quase três anos mais tarde viera a se casar e com ela fora feliz. Melanie não pôde ter filhos, eles tentaram de tudo, mas a ciência ainda não estava tão avançada para o caso dela. Fora disso o tempo ia passando, eles já estavam casados há dezoito anos e as chances de Melanie ficavam cada vez menores.

Um dia Freddy o influenciou a deixar que sua equipe científica onde ele estava investindo muito dinheiro analisasse o caso de Melanie e aí as esperanças que estavam mortas fazia tempo renasceram novamente. Foi quando eles descobriram que Melanie estava com câncer. Mais uma vez Freddy viu nisso uma oportunidade para ajudar o primo, e Melanie praticamente serviu de cobaia para os seus interesses científicos.

Alguns órgãos dela foram substituídos, mas depois de alguns dias houve rejeição e ela não sobreviveu.

Arthur ficou louco, desesperado e achou que se ele não a tivesse influenciado tanto, ela poderia ter vivido muito mais. Ele, somente ele, era o culpado por sua morte.

Foi nesse meio tempo que ele tomou conhecimento em que tipo de pesquisa Freddy estava investindo tanto dinheiro. Na verdade, todo o capital que sua família havia juntado todos esses anos fazendo jornalismo. Ele queria que os cientistas descobrissem o fator longa vida através da reprodução das células. Uma ciência completamente nova e ainda desconhecida e por causa disso Freddy estava investindo tudo o que ele tinha.

Isso revoltou Arthur, pois ele teve a certeza que Melanie fora usada e explorada para o seu intuito científico e se sentiu enganado pelo primo.

Foi Margot, irmã de Claire quem o ajudou explicando-lhe toda essa coisa, o porquê da rejeição dos órgãos e que mais cedo ou mais tarde Melanie iria morrer de qualquer maneira e certamente como tudo aconteceu evitou maiores sofrimentos para ela, pois pelo que ela sabia o câncer já havia tomado todos os seus órgãos. O corpo dela já não podia mais reagir como um corpo normal para as suas devidas funções. Mas Freddy mesmo assim queria tentar salvar-lhe a vida, mesmo quando toda a equipe científica havia dito que seria completamente inútil, ele decidiu seguir em frente pela amizade que tinha a Arthur. Ficar sabendo disso, deixou Arthur emocionado, pois ele confiava muito em Margot desde os tempos da faculdade, pois ele havia aprendido a conhecê-la e ele sabia que ela não misturava os canais. Se existia alguém com cabeça neste mundo, essa pessoa se chamava Margot Krämer. Ela trabalhava com fontes de pesquisa científica na Inglaterra.

Os anos se passaram e Arthur aprendeu a conviver com a sua dor.

Gabriella surgiu em sua vida trazendo-lhe alegria e agora ele se via na obrigação de salvá-la. Ela era a filha que ele não pôde ter. Por isso, agora que Steffany lhe dava uma chance, ele não poderia falhar e para esse trabalho especial ele só podia contar com Markus, filho de Margot, pois ele era a pessoa certa para isso.

-Você está pronto? - perguntou Arthur ao telefone.

-Já estou no local.

Ele subiu as escadas que o levariam até ao apartamento de Gabriella e com um ferrinho japonês forçou a abertura da porta.

Markus podia ver que Gabriella adormecera ali mesmo no sofá.

Ele a pegou no colo e carinhosamente a levou para o quarto.

Ela ainda estava vestida com o roupão o que facilitou o trabalho dele. Ele desamarrou o laço que fechava na frente e o abriu. O que ele contemplou o deixou sem fôlego. Os seios viçosos, redondos, firmes e com os mamilos num marrom claro o deixaram imediatamente erecto. Ele estava apaixonado por ela, ele sabia disso, faria tudo para ter aquela mulher nos braços nem que fosse apenas por uma noite. Mas seria capaz de muito mais para tê-la a vida inteira.

Foi quando Ben abriu à porta e dirigiu-se ao quarto de Gabriella chamando-lhe pelo nome.

-Gabriella, Gabriella, onde você está?

Ben parou na porta do quarto, ele não podia acreditar no que estava vendo.

Um homem estava deitado no lugar dele, com a mulher que ele ama.

Numa fúria louca, avançou para o homem totalmente desconhecido para ele e o esmurrou com toda a sua força, forçando-o a sair de onde estava.

O que viu o deixou ainda mais transtornado, tanto o homem quanto Gabriella, a sua Gabriella estavam nus. Aquele corpo tão maravilhoso que ele pensava ser só dele, agora estava ali e um outro homem o havia possuído. Ben avançou como um selvagem. Eles começaram a socar-se, a esmurrar-se até não se conter mais.

Desde os tempos de escola Ben não havia brigado mais, mas ainda sabia se defender muito bem.

Gabriella por sua vez, sonolenta, acordara com o barulho e caminhou com passos lentos e tortos até a sala, local onde eles estavam agora brigando, ela pediu com voz mole e sem forças para que eles parassem. Ela não fazia a menor idéia do que estava acontecendo. Mas nenhum dos dois parecia que queriam parar com aquilo. Ben queria descarregar toda a sua raiva em cima do desconhecido e Markus queria por sua vez acabar com o grande amor de Gabriella, pois quem sabe Ben fora do caminho dela ele teria melhores chance. Os dois se esmurraram até se cansar.

Gabriella em seu torpor, achava que era mais um de seus terríveis pesadelos. Ela voltou para a cama para dormir novamente e nem percebeu que seu corpo estava nu.

Markus, que tinha muito mais força que Ben, o agarrou pelo colarinho da camisa e disse que ele deveria deixar Gabriella em paz, que ela pertencia a ele.

Ben saiu dali com o mundo pesando-lhe nas costas. Ele descia as escadas sem sentir quantos degraus pulava. Parecia estar bêbado de tanta pancada que levara.

Teve dificuldades em achar as chaves do carro porque tremia de ódio por tudo o que havia acabado de acontecer.

O nariz e a boca sangravam demais, ele tentava com as mãos impedir que o sangue saísse, mas era inútil. Já dentro do carro Ben chorou convulsivamente parecendo uma criança quando perde o seu brinquedo preferido, na verdade ele estava perdendo a sua vida. Ele debruçou a cabeça no volante e chorava agora tão alto que ele mesmo se sufocava nas próprias lágrimas. Ele não tinha mais forças para nada nem mesmo para ligar o carro. Numa raiva incontrolada começou a bater com a cabeça no volante.

Ele sabia que não podia dirigir, ele sabia que se dirigisse, cometeria um acidente. Se ele morresse, tudo bem, o que tinha a perder? Já tinha perdido tudo mesmo. Mas não seria justo causar um acidente e matar alguém que não tinha nada com essa história suja. Mais uma vez ele se lembrou de Steffany. Ela sempre o ajudara em momentos difíceis como este. Ele pegou o seu celular e ligou para casa.

-Steffi, sou eu Ben.

-Está tudo bem?

-Eu preciso de você, pegue um táxi e venha até Essen, eu estou na Witteringstraße, em frente ao número 23.

-Ben, o que aconteceu?

-Não me pergunte nada Steffi, venha o mais rápido que você puder.

É claro que Steffany podia imaginar o que havia acontecido. Com certeza, molengão do jeito que ele sempre fora, um filhinho de papai, ele deve ter apanhado bastante e tanto é que agora estava impossibilitado de dirigir. - pensou ela. Steffany não podia imaginar que as coisas sairiam tão bem assim. Ela iria estar mais do que satisfeita com os resultados finais de toda essa história de amor. Ao chegar ela se espantou com o que viu. O estado dele era péssimo.

-Ben, mas no que você andou se metendo? Você está irreconhecível.

-Não fale muito, Steffi, por favor, pegue o carro e me leve para a casa, eu estou muito nervoso para dirigir.

-E por que você mesmo não pegou um táxi? - Dizia Steffany se deliciando com a expressão de dor no rosto dele. Ela gostava de ver alguém sofrendo. Nao sabia porque, mas sentia prazer nisso.

-Por que não quero nunca mais voltar a este lugar.

E dizendo assim cuspiu através da janela do carro o sangue junto à saliva que lhe escorria pela boca. Quando chegaram em casa, Steffany cuidou carinhosamente dos ferimentos dele. Ele não disse uma palavra, mas ela podia imaginar perfeitamente a cena no apartamento de Gabriella: Um homem na cama da amada. Isso até que poderia ser título de algum filme pensou ela controlando-se para não rir na frente dele.

-Você é meu, Ben, você me pertence.- pensava Steffany enquanto cuidava dele.

Ela lhe providenciou um calmante, pois queria que ele relaxasse, afinal de contas amanhã seria a festa de aniversário dele e ela havia providenciado tudo do bom e do melhor. Esse seria um aniversário inesquecível, ao menos para ele.