segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Capítulo 12

- MARGOT -

Eram vinte horas e vinte e sete minutos quando Ben tocou a campainha no apartamento de Arthur. Ben não percebeu, mas estava sendo seguido.

-Olá Arthur, tentei chegar mais cedo mas não deu.

-Entre por favor, Ben.

A sala tinha uma atmosfera gostosa e uma música suave tocava no velho aparelho de som americano de Arthur.

-Você conhece Margot? - disse Arthur apanhando na geladeira uma cerveja.

-Não que eu me lembre, mas esse nome não me é desconhecido.

-Você tem razão Ben. - falou Margot estendendo-lhe a mão para cumprimentá-lo.

Ben pôde perceber que a mão direita dela tinha um pequeno defeito. A mão tinha um aspecto de que tinha encolhido e ficado pequena, e isso lhe dificultava abrí-la por completo para cumprimentá-lo. Ele também observou que ela não podia esticar perfeitamente o braço, pois ele tinha um pequeno atrofiamento. Mas ela o movimentava normalmente como se tivesse um braço normal.

-Arthur, seu pai e eu freqüentamos a mesma universidade nos Estados Unidos - respondeu Margot.

-É mesmo? Que interessante.

-Sim, nós nos tornamos ótimos amigos. E foi uma perda muito grande a maneira como ele morreu. - Ben somente balançou a cabeça numa afirmativa. Ele não tinha muita coisa boa para se lembrar.

-Então você também é uma jornalista?

-Não, apesar de termos freqüentado a mesma universidade, não segui a carreira de jornalista como seu pai e Arthur. Eu fazia medicina em um outro prédio e Freddy e eu tivemos um namorico de juventude. Minha irmã Claire, é que era namorada de Arthur. Por isso, todos nós nos conhecíamos.

-Interessante. - comentou Ben querendo entender o porquê de tudo aquilo ali.

-E é exatamente sobre Freddy, seu pai, que eu estou aqui e quero falar nesta noite. Eu sei que você e seu pai não se davam muito bem e também que ele descobriu o quanto isso foi uma perda de tempo tanto para ele e principalmente para você. Arthur e eu temos motivos de sobra para pensarmos que seu pai infelizmente sofreu um atentado.

-Isso não pode ser, ele morreu num acidente de carro por dirigir bêbado. - comentou Ben sem muito interesse pelo assunto.

-Tudo foi planejado para que fosse assim, Ben.

-Planejado? Mas por quê? Por quem? Que interesse alguém poderia ter na morte de meu pai?

-Vamos por partes. - disse Margot. - Seu pai estava envolvido em uma série de pesquisas sobre o descobrimento da fonte de juventude, em como não se deixar envelhecer. A nossa idéia era a de copiar os genes, células, tecidos e órgãos para multiplicá-los e assim repô-los nos lugares da células que vão morrendo em nossos corpos.

-Clonagem dos genes? É isso o que você está querendo me dizer? - falou Ben categórico.

-Deixe-me explicar, Ben, como tudo isso acontece. Clone, é uma palavra que se deriva do grego Klón. Quando pegamos o broto de uma planta, esse broto se desenvolve gerando uma nova planta da planta-mãe. Para os microbiólogos, esse termo é usado para microorganismos geneticamente idênticos. Eu sei que fica difícil para pessoas comuns entenderem todo esse processo.

Mas, veja, nada disso é novidade. No próprio homem já ocorre o processo natural de clonagem quando ele gera gêmeos idênticos. Os clones gerados em laboratórios, não são idênticos, há uma idéia errada que o clone é uma cópia idêntica do seu original. Existe uma preocupação muito grande em torno de clonar seres humanos e Freddy estava disposto a pular essa barreira e mostrar que tudo isso era possível. Ele estava investindo muito dinheiro e muitos anos de pesquisa em tudo isso.

-Você mais do que ninguém deve se lembrar o quanto ele sempre foi vaidoso com o corpo.- disse Arthur olhando para Ben. Ele somente balançou a cabeça sem entender muito bem o tema daquela conversa. - Ele tinha algumas pessoas que você conhece muito bem que estavam sempre do lado dele, mas com outros interesses.

-No dia do acidente ele estava tentando fugir, pois ele sabia que eles planejavam matá-lo. O que ele não sabia é que eles seriam tão ousados ao ponto de arriscarem muitas outras vidas para levar a cabo a morte de um, a morte de Freddy. É, porque foi um risco muito grande dirigir aquele carro totalmente desgovernado pela auto-estrada. - comentou Margot.

-Nós não podemos provar Ben, mas eu tenho certeza de que Klaus fez alguma coisa com os freios do carro de Freddy.

- De que Klaus vocês estao falando? E por que ele faria isso?

- Você sabe que Klaus Gühmann é perito em muitas coisas. Eu tenho certeza de que ele sabotou os freios para que em determinada velocidade Freddy não pudesse ter mais controle algum. - disse Arthur.

-E o que lhe dá tanta certeza de que essas pessoas realmente o mataram? E quem são essas pessoas? Pra dizer a verdade não estou entendendo aonde você quer chegar com essa história toda. E por que? Por que Klaus mataria meu pai? E quem é você afinal? - falou com Margot. - O que você tem a ver com isso? E Arthur, que papel tem você nesta história toda? O que é que vocês sabem? Se os freios tivessem sido sabotados, a policia teria descoberto. Não, não e não. Vocês precisam me dar dados mais convincentes. Esta história de vocês não bate com os fatos. E essa história para mim nao está clara. Por favor, sejam mais claros.

-Calma, calma. - pediu Arthur.

-Você já vai entender Ben. - Respondeu Margot. - Você se lembra de Dieter Mörig? De Helmut Riemann e Wolfgang Schepermann?

-É claro, eles freqüentavam a nossa casa junto com mais outros cientistas.

-Pois então, até hoje ninguém consegue explicar a morte que eles tiveram. - disse Arthur meio afoito e nervoso.

-Como não? Uma avalanche os pegou enquanto eles esquiavam e não conseguiram se salvar. Isso é muito comum nas montanhas.

-Pode até ser, mas com eles havia uma quarta pessoa que não foi encontrada. E de Olaf Klein? Ele também era amigo do seu pai. Você pode se lembrar do que aconteceu a ele e sua família? - perguntou Margot com olhos apavorados. - Eles morreram soterrados.

-Também não vejo nisso motivo algum, uma ribanceira despencou num dia de chuva forte e infelizmente ele passava embaixo de carro naquele momento com toda a família vindo ou indo para as férias eu já não me lembro mais.

-E o caso da morte de Otto Fränkel? Você não acha que ele estava muito jovem para ter um possível ataque de coração?

-Sim, é claro. Mas todos nós sabemos que quando alguém jovem tem um ataque de coração é fulminante, não escapa. - comentou Ben mal acreditando que eles o chamaram ali para contar histórias de quem já morreu.

-Mas se eu te disser que todos eles estavam trabalhando para seu pai tentando descobrir essa fórmula da juventude? Você não vai começar a pensar diferente?

-Pode até ser, mas não vejo nada palpável ainda.

-E se eu te disser Ben, que a quarta pessoa que estava nas montanhas junto com Dieter, com Helmut e com Wolfgang era Klaus Gühmann. E que no caso da morte da família Klein, ele estava também de férias num camping ali por perto. Será que você conhecendo tão bem Klaus não vai começar a pensar que é muita coincidência, não? - disse Arthur.

-Mas o quê ele tinha a ver com toda essa gente? Que motivos teria ele para matá-los? - perguntava Ben sem conseguir entender direito o que é que eles queriam lhe dizer.

Ele estava agora começando a suar um pouquinho, ele sabia que seu pai não ousaria a pegar o carro para uma viagem sem antes mandar fazer uma vistoria. Por outro lado também ele sabia que Klaus era perito em muitas coisas desde os tempos da faculdade. Ele estava sempre envolvido com trabalhos estranhos que envolviam pessoas ou grupos ou entidades que Ben nunca ouviu falar.

E se assim fosse, se essas mortes na montanha tivessem sido provocadas por uma avalanche através de explosivos e também o deslizamento de terra matando toda a família Klein? No final das contas ninguém iria desconfiar de nada tudo seria um acidente da natureza. Ben sabia que Klaus era capaz disso.

Mas mesmo assim ele não queria aceitar e nem acreditar tão facilmente naquela história sem pé sem cabeça.

-E como é que você sabe de tudo isso, Arthur? E se você tem conhecimento de algo assim por que já não foi para a polícia? - indagou Ben.

Arthur já esperava por aquela pergunta. Ele ao longo dos anos sempre estava à espera de que no dia em que Ben viesse saber a verdade, essa seria uma das primeiras perguntas que ele faria. Mas mesmo assim, Arthur não estava preparado para aquele momento. Seu corpo todo estremeceu e sua voz saiu num sussurro o que Ben mal podia entender. Ele pediu para que Arthur falasse mais alto.

-Porque estive trabalhando para eles Ben, na pior das hipóteses, eu ainda estou com eles. - Ben sentiu um choque forte por todo o corpo. Ele jamais poderia pensar que Arthur, um homem tão calmo, inteligente, iria se meter neste tipo de coisa. Ben não podia simplesmente aceitar um negócio desses e tentou argumentar alguma coisa, mas Arthur o interrompeu.

-Por favor, Ben, não me interrompa, toda esta coisa já é muito difícil para mim... deixe-me contar o que sei e de uma vez só.

- Tudo isso começou quando Freddy soube que Melanie, minha esposa não podia ter filhos. Ele estava exatamente nesta época investindo muito dinheiro para ver se conseguia descobrir alguma coisa que ajudasse Georg a produzir novamente os espermas, através de uma réplica de algumas células dele ou de certa forma voltar a ativá-los, pois desde aquele acidente quando ele ainda era criança eles ficaram inativos, como você sabe.

- O grande desafio para seu pai estava em fazer Georg pai, pois, para Freddy, Georg era o centro do universo, o filho perfeito, e sendo assim ele deveria continuar o nome da família. Freddy não podia conceber a idéia de que o filho dele preferido, era incapaz de fazer um filho para dar continuidade à família.

-E parece que deu certo. Georg agora é pai - Ben comentou.

-Riemann já havia experimentado com grande satisfação sua nova descoberta em algumas pessoas com o mesmo problema de Georg e parecia que os resultados foram positivos, eu digo que parecia porque toda esta coisa precisava de tempo para começar novamente a se reproduzir e foi assim que Freddy numa conversa com Helmut perguntou se ele poderia também usar o seu descobrimento para ajudar Melanie a ser mãe.

- Quando eles começaram a série de exames em Melanie, eles descobriram que ela estava com câncer e aí Freddy sugeriu operá-la, substituindo-lhe os órgãos, pois esta era mais uma nova faceta dele da qual eu ainda nada sabia.

- Alguns dias depois da operação, houve rejeição dos órgãos implantados e ela morreu. - os olhos de Arthur estavam agora brilhantes, marejados pelas lágrimas. -

-Eu fiquei desesperado e queria até mesmo matar Freddy naquela ocasião. Eu achei que ele a usou como cobaia para os seus experimentos. O que na verdade foi, mas hoje eu também sei que tudo o que ele fez foi tentando nos ajudar. Apesar de Freddy ter sido sempre tão egoísta e ter sempre só pensado em si mesmo, sempre preocupado em manter-se jovem e belo, ele realmente quis me ajudar, pois ele sabia que eu amava Melanie. Freddy e eu, éramos realmente mais que primos, mais que amigos um para o outro. Ele era meu irmao. Antes de morrer Melanie me acalmou, dizendo que ela também havia decidido tentar e que nós não deveríamos culpar Freddy por isso. Como eu sabia que ela não teria mais muito tempo de vida, eu fiquei com ela aqueles dias finais e assim ficamos juntos até que ela se foi. - Lágrimas rolavam do rosto de Arthur ao lembrar-se de Melanie.

Quando voltei, procurei por Freddy e a nossa amizade retornou e ele me pôs a par de todo o seu empreendimento em descobrir a fórmula da longa vida, uma maneira de manter-se jovem através da recomposição das células. Eu achei simplesmente tudo isso uma verdadeira loucura. Mas Freddy era assim: um verdadeiro louco. Um louco pela vida, pelo físico, pelo belo. A princípio, quando ele me contou toda esta façanha eu não quis fazer parte. Achei tudo absurdo demais, como já falei eu fiquei com muito medo, pra dizer a verdade eu estava apavorado. Mas de certa forma aquilo seria fascinante se fosse possível. Imagina só prolongar a vida, manter-se jovem, com saúde. Prolongar a vida da pessoa que se ama e que está para morrer, eu pensei. E se tudo o que Freddy estava me dizendo pudesse se transformar numa realidade, muitas outras pessoas poderiam ser felizes. Imagina só, mães que estivessem para morrer por causa de uma doença como a que Melanie teve. Quem iria cuidar das crianças? Então comecei a ver com outros olhos toda esta história. Pra dizer a verdade, eu acho que no começo nem eu mesmo sabia bem o porquê de tudo aquilo, o que eu queria era ser envolvido. Esta coisa acaba fascinando a gente e eu estava fascinado com a descoberta de Freddy. Tudo passou a ter uma outra perspectiva para mim. - Arthur bebeu o último gole da bebida que tinha em seu copo.

- Há quanto tempo meu pai estava envolvido com esses cientistas?

- Há mais ou menos dez anos, Ben. Trabalho de pesquisa leva tempo. - respondeu Arthur.

- Certa madrugada, porém, recebi um telefonema de Freddy. Ele queria me ver o mais rápido possível e nos encontramos no Flat dele, que no momento estava sendo o apartamento de Margot. Até então eu não entendia porque eu deveria me dirigir para lá, e àquelas horas da madrugada. Mas Freddy foi categórico e disse que era urgente, na verdade havia um certo desespero em sua voz.

- Quando lá cheguei, vi Margot, e pensei que Freddy queria me fazer uma surpresa, pois há anos não nos víamos, na verdade nós havíamos falado apenas umas poucas vezes pelo telefone nesses anos todos.

- Fazia mais ou menos quase seis anos que o marido dela, um cientista inglês havia morrido e Freddy pensou que assim ela estaria livre pra vir para a Alemanha testar tudo o que estava sendo feito há anos no laboratório. Mesmo que ela não fosse mais tão veloz como antigamente por causa do acidente que ela sofreu no laboratório na Inglaterra anos atrás. Freddy a quis na equipe. Até então, eu não sabia do envolvimento dela em toda esta coisa.

- Mas por que meu pai quis envolvê-la nisso tudo já que tinha tantos cientistas envolvidos? - indagou Ben.

- Por que Margot era a pessoa que seu pai mais confiava, Ben. Na época, eles ainda estavam todos vivos. Ela, sem que eles soubessem analisava tudo o que eles anotavam nos quadros no laboratório. Isso dava a ela uma visão melhor dos fatos pesquisados. Sendo assim, ela tinha sempre todas as informações, o que a fazia estar sempre a um passo à frente da equipe de Freddy.

-Com o acidente da montanha, a equipe ficou desfalcada. O que nós até então não sabíamos é que logo mais um deles também sofreria um acidente. E foi ai que Freddy começou a desconfiar. Durante um certo tempo ele ainda manteve o Fränkel nas pesquisas, mas ele sozinho, não podia fazer muita coisa e foi esta mulher aqui, que está a nossa frente que conseguiu descobrir o que os outros não descobriram. Mas infelizmente, foi tarde demais para que alguma coisa fosse feita, pois eles na pressa, já haviam testado os dados que eles tinham e estavam à espera dos resultados. E os resultados saíram monstruosos.

Nesse meio tempo, Freddy desconfiado que Steffany e Klaus estivessem pelas suas costas tramando algo, quis dar por encerradas as pesquisas no laboratório alegando que não tinha mais dinheiro para dar continuidade às pesquisas. Pois ele precisaria contratar novos cientistas e tudo isso seria um outro investimento enorme. E da noite para o dia dispensou Fränkel, tentando dessa maneira protegê-lo. Mas foi inútil. Eles o mataram mesmo assim.

-O quê? O quê tem Steffany com tudo isto?

-Isso ainda não é o final, Ben. - disse Margot.

-Fränkel tinha um caso na cama com Steffany …- continuou Arthur.

-Um caso com a minha mulher, você quer dizer. Toda a minha família sabia que Steffany me traía, mas mesmo assim nunca me falaram nada. Que bela família a que eu tenho.

-Eu sinto muito Ben, eu não podia naquele momento te revelar todas essas coisas. Era muita coisa em jogo e por outro lado todos nós sabíamos que você e Steffany tinham um contrato como casamento e que cada um de vocês dois era livre para fazer o que quisessem. Me deixa continuar, por favor, e foi assim que Steffi ficou sabendo que em alguma parte de toda essa pesquisa os dados estavam errados. E que agora, com certeza Freddy através de alguém da equipe iria tentar descobrir onde o erro estava.

-Mas por quem? Essa era a pergunta que eles se faziam. - perguntou Margot.

-Talvez Freddy já tivesse até descoberto os novos dados e estava agora querendo ganhar tempo para passá-los adiante e não ter que dividir com eles o dinheiro da transação, por isso ele havia dispensado Fränkel. Esse era o pensamento de Georg, Steffany e Klaus a princípio e assim começou uma verdadeira caçada humana atrás de Freddy. Você sabe que Freddy queria sempre toda a glória só para ele. Ele queria entrar para a história. E o jornalismo para ele era pouco. Ele queria a celebridade.

-Uma noite quando eu estava no laboratório trabalhando, - interrompeu Margot. Eu ouvi vozes, no começo eu pensei que fosse Freddy, pois eu sabia que ele sempre vinha quando eu estava lá. Mas logo percebi que Freddy não estava sozinho. Ele estava acompanhado de Georg e Steffany, Klaus não estava presente, ele tinha viajado.

-Eles discutiam entre si. No começo eu não consegui entender muito bem do que se tratava. Apesar do meu alemão ser bom, quando três pessoas falam ao mesmo tempo é difícil a concentração e por outro lado eles estavam em uma outra sala e fora disso eu estava apavorada.
Mas com o passar dos minutos eu consegui controlar minha respiração e as minhas batidas cardíacas e assim pude ouvir claramente que Steffany ameaçava o seu pai de morte se ele não entregasse os novos dados descobertos.

Freddy disse-lhes que os cientistas não haviam conseguido terminar o trabalho dentro do prazo estabelecido, e que ele infelizmente precisaria fazer uma pequena pausa por falta de dinheiro.
Freddy tentou buscar o apoio de Georg dizendo que até ele, sendo Ministro não conseguiu um novo financiamento para ajudá-lo com as despesas de toda esta pesquisa. Mas Georg disse-lhe que ele queria os dados de qualquer jeito e que não acreditava no que Freddy estava falando e reforçou as ameaças de Steffany dizendo que eles fariam o que ela estava dizendo e muito mais. E que a primeira prova disso ele ficaria sabendo pela manhã.

Nessa altura eu já estava embaixo da mesa de pesquisa e quase já não podia mais ficar de joelhos por causa do peso das minhas pernas dobradas. Por outro lado eu tremia de medo e pavor, tudo o que eu queria era sumir dali, eu sentia no ar que aquela história ainda iria acabar muito mal.
Depois que eles se foram, Freddy entrou em minha sala, ele estava como um louco chamando pelo meu nome bem baixinho. Mas eu não saí do meu esconderijo, não disse nada e logo depois ele apagou as luzes e se foi. E chorei ali o meu pavor.

Quando dei por mim, eu já estava na rua quase morrendo por falta de ar de tanto correr. Toda aquela história estava me sufocando. Mas ao chegar no meu apartamento, Freddy estava a minha espera, ele tinha as chaves, ele muitas das vezes agiu assim. Eu quase morri de susto, pois já havia até me esquecido disso. Ele me abraçou e começou a chorar e aí eu não agüentei e disse a ele que também estava lá e que tinha ouvido tudo.

-Mas isso não dá pra acreditar! É simplesmente inacreditável! - dizia Ben pasmo.

-Mas é a pura verdade. - disse-lhe Arthur.

-Depois que nos acalmamos, eu sugeri a Freddy a contar para Arthur do risco que ele poderia estar correndo, pois afinal eles sabiam do envolvimento de Arthur desde a experiência que foi feita em Melanie e na época eles não concordaram de que mais um ficasse sabendo de toda essa história. Naquele momento estava claro para nós que desde o começo eles sempre tiveram a intenção de eliminar todos que estavam envolvidos. E assim Freddy naquela mesma hora telefonou para Arthur e lhe pediu que viesse imediatamente para o seu flat. Foi quando ele ficou sabendo do meu envolvimento.

-Seu pai chorou muito e se culpou por ter começado tudo isso. Eles tinham praticamente exterminado todos que estiveram envolvidos naquele trabalho de pesquisa. Só restava seu pai, Arthur e eu.

-Meu Deus que tragédia! Difícil de acreditar em tudo isso - Ben respirou fundo, ele estava boquiaberto com toda esta história.

-Depois disso, eu voltei para a Inglaterra e procurei não ter mais contato com Freddy. Os dados corretos, eu também entreguei a Freddy, eu os dei antes de partir. Eu não queria ter mais nada que me comprometesse com esta história. Mas quando fiquei sabendo da sua morte e também da morte de Fränkel temi muito pela minha vida e de Arthur. As últimas palavras de Freddy para mim foram de que você deveria ficar sabendo de toda a verdade e entregá-los a polícia.

-Bela parte a que me sobrou! - comentou Ben ironicamente. - E como vou provar tudo isso? O que é que eu vou dizer a polícia? E por falar em polícia ela está no meu pé, eu não sei se vocês sabem, mas eu estou sendo suspeito de ter matado uma mulher. Não, não, não Margot, eu já tenho problemas de sobra com a polícia. Tudo o que eu quero dela é distância.

-Mas isso ainda não é tudo Ben. - disse Arthur.

-Ainda tem mais?

-Por um longo tempo, Freddy foi pressionado por Klaus e Steffany a entregar esses dados. Ele teimava em dizer que eles não existiam. Steffany e Klaus não tinham certeza se ele os tinha ou não, mas insistiam, o torturavam com ameaças diabólicas a fim de conseguir o que queriam. Eu acho que no fundo no fundo eles não acreditavam no seu pai. Pois eles sabiam que Freddy nunca desistia de uma coisa que queria. Steffany tentou fazer um último acordo com Freddy, dando-lhe sua palavra que eles não o matariam, mas ele não acreditou. Por fim, já sem forcas, ele entregou a eles os dados errados que ele tinha e enquanto isso ele ganhou tempo preparando sua fuga para alguma ilha desconhecida. Pois você sabe que Freddy tinha verdadeira fascinação por ilhas.

-Mas que também não deu certo. - comentou Ben tristemente descobrindo afinal de contas que na verdade ele nunca conhecera o pai que tinha. Quanto a Steffany, Klaus e Georg ele já sabia desde os tempos da faculdade que eles eram farinha do mesmo saco. Ele só não contou que eles chegariam tão longe em suas maldades.

-Freddy havia me pedido que eu falasse toda a verdade pra você e que você os entregasse a polícia. Ele iria ficar escondido em algum lugar até que tudo se acalmasse. Foi assim que ele desejou que as coisas acontecessem.

-Por outro lado eu não tinha provas contra eles. Eu mesmo, muitas vezes pensei que a minha vez havia chegado. E foi então que resolvi fingir que estava com eles para o que desse e viesse e procurei ganhar a confiança deles. Tentei passar para eles que eu também não confiava mais em Freddy e que ele era um traidor. Klaus levantou um brinde e a única palavra que ele disse depois de ouvir toda a nossa conversa foi: Vamos à caça. E daí a três dias Freddy sofreu o acidente que o matou.

- Eles foram longe demais - comentou Ben com amargura na voz.

-Tudo estava indo muito bem até que Gabriella apareceu. - continuou Arthur com voz embargada, pois agora para ele vinha a parte mais difícil. Ele viu a reacao de Ben.

-O que Gabriella tem haver com tudo isso? Isso já foi há tanto tempo. Não me diga que ela também estava trabalhando para eles? - Ben recebeu um choque por todo o corpo ao ouvir o nome dela e começou a pensar que ela também poderia estar fazendo parte de toda esta história suja e isso, isso sim , ele lamentaria o resto da vida.

-Acalme-se, ela e você são vítimas em tudo isso. Steffany, esperta do jeito que ela é, logo percebeu que Gabriella e você estavam apaixonados. No começo ela ficou raivosa, e quis se ver livre dela.

-Se ver livre dela, como assim?

-Ela tramou com Klaus de eliminar Gabriella.

-O quê? Eu é que vou matá-la!

-Acalme-se Ben, isso agora pertence ao passado. Pra sorte de Gabriella eu consegui persuadi-la a deixar o jornal e ir trabalhar na concorrência. Eu lhe disse que os comentários nos corredores de que ela estava apaixonada por você estavam quentes demais. Foi quando ela te escreveu aquela carta de demissão.

-Então foi isso o que aconteceu e depois ela sumiu! - comentou Ben passando as mãos por entre os cabelos lisos e escorregadios, pois mesmo depois que eles se reencontraram Gabriella nunca quis tocar no assunto. Ela sempre fugia do assunto quando ele lhe perguntava o motivo daquela carta de demissão.

-Ela passou a trabalhar para a Lotus com um outro nome e assim eu consegui acalmar a bruxa da Steffany. Tudo estava indo muito bem e eu já havia novamente reconquistado o meu lugar de confiança no grupo quando o destino quis brincar mais uma vez comigo, com você ou com a própria Gabriella quem sabe, e vocês por acaso se encontraram naquele café em Freiburg. Você chegou para mim todo entusiasmado e contou-me o motivo de toda a sua alegria e eu vi em tudo isso o começo de uma tragédia.

Steffany que tem espiões por toda a parte, soube que Gabriella reaparecera e assim ela ligou o fato de você estar insistindo com ela sobre o divórcio. Certa noite, quando uma das reuniões que fazíamos terminou, ela e Klaus decidiram liquidar Gabriella e eu fiquei apavorado. Eu estava tão nervoso com aquela trama que comecei a falar desenfreadamente, desesperadamente para ser mais exato. Nessa época Steffany e Klaus estavam planejando o acidente nas montanhas e por isso eu teria mais chance de cuidar da Gabriella. Então, eu falei: - Steffany, você é uma mulher tão bonita e inteligente. Não será matando Gabriella que o coração de Ben ficará livre. Pelo contrário, conhecendo-o do jeito que eu conheço, ele jamais a esquecerá. Você deveria pensar em algo mais inteligente. - eu a desafiei, eu sabia que estava arriscando o meu pescoço, mas fiz. Klaus para minha surpresa veio em minha defesa.

-Nisso Arthur tem razão. - concordou Klaus para a minha salvação. Pois eu mesmo sequer sabia o que eu queria dizer com tudo aquilo.

-E o que é que você me sugere, Arthur? - disse Steffany revidando-me o desafio. Nessa altura eu já estava pra lá de desesperado, também um pouco bêbado pelo álcool, mas mesmo assim tive uma idéia brilhante, isso eu devo ao meu dom jornalístico. Eu sugeri a ela que você tivesse uma bela decepção com a sua Gabriella. E Steffany maldosa do jeito que você sabe que ela é, adorou a idéia e pensou que podia tirar proveito de toda aquela situação. Eu lhe prometi que iria pensar em algo bem terrível e lhe pedi alguns dias para pensar. Neste meio tempo eu fiz contato com Markus Krämer.

-Meu filho. - interrompeu Margot.

-Markus é um agente inglês que trabalha para a ESTSI.

-E o que isto significa? - Ben fez cara de que nao estava entendendo e queria explicacoes.

-Que ele é um Especialista em fazer Recrutamentos em Treinamentos Secretos Internacional. Geralmente ele treina pessoas para se tornarem espiões de guerra ou para algum trabalho de espionagem. Foi nele que pensei, ele seria a pessoa certa para essa missão. Foi ele o cara que você esmurrou no apartamento de Gabriella.

Ben estava de queixo caído. Como a vida das pessoas podiam ser manipuladas por outras que se achavam no direito de decidir o que deveria acontecer.

-Foi nesse meio tempo - continuou Arhtur. Que a mãe e a avó de Gabriella foram assassinadas.

-Assassinadas! Como!? Por quê?

-Sim, assassinadas, Ben. Eu nada sabia, por isso não pude fazer alguma coisa para ajudá-las. Steffany tramou tudo com Klaus. Ele e mais um cúmplice que eu não conheço colocaram explosivos no porão da casa e tudo veio abaixo.

-Santo Deus, que barbaridade! Mas por que matar a mãe e a avó dela? Com que intenção? - perguntou Ben raivoso.

-Com a intenção de deixar Gabriella frágil, triste e sofrida para o próximo passo de Steffany.

-Meu Deus, tenho vontade de vomitar.

-A pressão era grande demais sobre mim. A cobrança de afastar Gabriella de você, tornou uma obsessão para Steffany. Eu sabia que precisava pensar em algo bem convincente e rápido, antes que Steffany fizesse mais loucuras, a vida de Gabriella estava com os dias contados. Foi então que eu pensei em toda aquela encenação no apartamento.

-Então quer dizer que Gabriella não teve nada com esse tal de Markus?

-Nada Ben, ele fez tudo para ajudá-la a meu pedido.

-Eu não entendo como tudo pôde ter se encaixado tão bem... - comentou Ben, querendo entender.

-Steffany esteve antes no apartamento de Gabriella e levou aquelas fotos de você com Richard, e disse que você era o único suspeito da morte dele. Você mais do que ninguém pode imaginar a decepção de Gabriella ao ver e ouvir toda aquela história.

-Santo Deus, Gabriella ouviu toda aquela sujeira! - dizia Ben com lágrimas nos olhos.

-Foi o único caminho Ben que eu encontrei pra salvá-la. O que eu não contei é que aquela diaba da Steffany ia dizer a ela que eu e você tínhamos um caso e sendo assim eu não tive nenhuma chance de esclarecer as coisas para a nossa Gabriella.

Ben agora esmurrava a parede do apartamento de Arthur.

-Eu mato aquela desgraçada! Juro que eu mato! E por que você não me contou tudo antes?

-Acalme-se Ben, por favor. - pedia Margot.

-Arthur, porque você não me contou tudo isso antes? - insistiu Ben com olhar decepcionado.

-Ele tinha medo de que você não acreditasse nele. Que você não confiasse mais nele e também tinha medo de que você estivesse correndo sério risco de vida como agora está. - revelou Margot.

-Eu, correndo risco de vida, como assim Arthur?

-O corpo que foi encontrado na Altstadt Ben, e que para a polícia você é o principal e único suspeito.

-Sim, eu sei, e daí? - falou Ben nervoso.

-Esse corpo, que eles encontraram, ele é resultado das pesquisas feitas por Georg, Steffany e Klaus que não deu certo. - Ben sentou-se pesadamente no sofá. - Mas o pior não é isso, eles resolveram experimentar de várias maneiras os dados que acharam. Mas as coisas não saíram como eles planejaram e os corpos que eles usaram para os experimentos sofreram uma metamorfose que não deu certo e é claro que a polícia já deve ter descoberto que o que tem aparência de mulher, na verdade se trata de homens e por outro lado os tecidos musculares do rosto e das mãos ao contato com a luz solar se desfizeram rapidamente resultando um envelhecimento precoce.

-Santo Deus, mas isso é o fim do mundo! Quer dizer então que a mulher que foi encontrada morta na Altstadt não é uma mulher.

-É isso mesmo, Ben - completou Margot.

-Me dê uma bebida mais forte Arthur - pediu Ben. - Eu preciso de algo mais forte para ter estômago para tudo isso.

- Na verdade Ben - interrompeu Margot os pensamentos de Ben. - eles estão desesperados por causa da pressão das gangs envolvidas .

-Que gangs? Não são só os australianos envolvidos?

-Os australianos foram, na verdade, os primeiros que se envolveram na coisa. Mais tarde ninguém sabe de onde e nem como apareceu esse grupo de russos. Eles chegaram oferecendo muito dinheiro a Georg. E você sabe como ele é louco por dinheiro.

-Georg, claro. Ele e suas transações políticas. E como ele pretende resolver isso? É, porque primeiro ele não tem os dados e segundo ele tem dois compradores. - falou Ben.

-Pelo que eu sei, eles vão dar os dados para as duas partes interessadas. - falou Arthur.

-E como eles esperam fazer tudo isso, Arthur? - perguntou Ben.

-Isso eu ainda não sei.

-Eles enlouqueceram ou o quê? - explodiu Ben. - Com esse tipo de gente não se brinca. Quando eles descobrirem que foram passados para trás, vai sobrar faísca pra todo mundo.

Arthur e Margot balançaram as cabeças querendo dizer com isso que não sabiam mais de nada.

-Me diga uma coisa Arthur, como eles conseguem convencer essas pessoas a fazer parte dessa experiência? Pessoas que se deixam ser cobaias. É, porque o risco que não dê certo é grande. Tudo isso é muito experimental ainda. Como alguém pode ser louco o bastante para se deixar levar na conversa deles?

-É Klaus quem faz os contatos. Na verdade, todos são homens, pois você sabe que ele tem tanto atrações femininas quanto atrações masculinas e depois de uma noite de amor o indivíduo não acorda mais. Ele é sedado e levado para o laboratório e lá ele é preparado.

-Que coisa mais apavorante! Chega a me dar arrepios, parece história de terror. Margot, você me contou que de certa forma você conseguiu descobrir como essas células de rejuvenescimento se reproduzem. Quem ficou com os dados anotados por você depois que meu pai morreu? Estão com você Arthur?

-Não, comigo não.

-Então com você Margot?

-Comigo também não.

-Mas com quem então ele deixou esses dados?

-Eu não acredito que ele tenha deixado esses dados com alguma outra pessoa, pois ele sabia do grande risco que estaria causando confiando-os a alguém e mais esse erro Freddy não queria cometer. Eu acho que ele os escondeu em algum lugar bem seguro. - Disse Arthur.-

-Mas que lugar bem seguro seria para Freddy? - indagou Margot.

-Tudo o que eu me lembro é que ele me disse que você Ben ao ficar sabendo da verdade iria descobrir onde ele possivelmente poderia tê-los escondido. - disse Arthur.

-Essa é muito boa! Toda esta merda agora fica nas minhas mãos. E porque Steffany, Georg e Klaus estão tentando me incriminar? É, porque com certeza foi Steffany quem preparou tudo isso.

-Pra dizer a verdade Ben, eu nem sabia que eles iriam despachar os corpos exatamente agora. -complementou Arthur.

-Os corpos! Despachar os corpos? Tem mais? Quantos são? Como a policia ainda não os descobriu? - perguntou Ben estarrecido com a revelação de Arthur e tomando o último gole de whisky do copo. Ele estava agora mais que desesperado com toda essa história.

-Ao todo são quatro. Os corpos foram despachados em países diferentes, para não levantar suspeitas de que tudo partiu daqui da Alemanha. Steffi decidiu assim para despistar a polícia. Ela sabe como fazer a coisa Ben, me acredite.

-Tudo muito bem pensado - comentou Ben, impressionado.

-É verdade. As pessoas envolvidas, são altamente profissionais e estão espalhados por toda a parte. - falou Margot.

-E certamente eu também sou o suspeito de todo o resto. Agora posso entender porque o inspetor Teuscher está me fazendo tanta pressão. Também pudera! A minha vida está acabada. Pra dizer a verdade eu nunca tive mesmo a minha própria vida, só quando eu tive a minha Gabriella, aí sim, eu fui feliz. - Ben tinha lágrimas nos olhos. - Creio que é hora de ir, já ouvi demais por esta noite, preciso pôr a cabeça em ordem, preciso descansar e dormir. Se é que vou conseguir digerir tudo isso, tenho até medo agora de fechar os olhos.

Arthur o acompanhou até a porta. Ben estava em silêncio, todo o seu corpo pesava, ele carregava sobre si o peso desses corpos assassinados. Ainda na porta ele se virou e perguntou a Arthur:

-Ao menos você sabe onde posso encontrar Gabriella?

Arthur balançou a cabeça negativamente.

Ben não perguntou mais nada, despediu-se de Margot, deu as costas e saiu.

Arthur ficou observando Ben descer as escadas. Ele sabia que isso ainda não era toda a verdade. O pior ainda estava por vir, quando ele soubesse da morte do filho dele com Gabriella. Mas, por hora, era tudo.

Klaus vigiava o apartamento de Arthur. Ele havia seguido Ben até ali. Ele não estava gostando nada, nada de todo aquele movimento por lá. Algo lhe dizia que Ben já sabia de tudo e que eles precisavam fazer logo alguma coisa.

Já era de madrugada quando Margot saiu do prédio onde Arthur mora e Klaus ainda estava por lá, ele a fotografou e depois a seguiu para saber onde ela estaria hospedada.

De volta em seu apartamento Klaus colocou a câmara digital para ser descarregada Em seu computador ele procurou comparar a foto tirada esta noite com as fotos que ele havia feito na galeria em Düsseldorf. E ele achou um rosto bem parecido, era o rosto de Margot. Para sua alegria ele descobriu que se tratava da mesma mulher com que Arthur se encontrara naquela tarde. Com certeza esta deveria ser o sexto cientista mantido em segredo por Freddy, as coisas começavam a clarear.