segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Capítulo 18

- MARKUS KRÄMER X ARTHUR -

O acidente com o avião na República Dominicana já era notícia em todas as TVs no mundo. Os jornais também traziam algumas fotos dos destroços do avião que boiavam ao mar. A notícia dizia que por enquanto não havia sobreviventes embora as buscas continuassem. A caixa preta ainda não tinha sido encontrada.

Markus tentava entrar em contato com Arthur através do seu celular, mas ele estava desligado por causa da longa e difícil noite que ele tivera. Margot estava desaparecida há 2 dias e ele estava com maus pressentimentos em relação a ela.

Por outro lado Arthur sabia que eles haviam pego Ben para intimidá-lo. Toda esta história estava tomando um outro rumo que Arthur desconhecia.

Markus pegou o seu carro e foi direto para o aeroporto em Düsseldorf, de lá ele conseguiu localizar Arthur.

-Até que enfim que te encontro - disse Markus num só fôlego.

-O que aconteceu?

-Um avião caiu na República Dominicana, eu espero que não seja o mesmo que deveria trazer hoje Gabriella de volta - falou Markus com um nó na garganta - mas tenho maus pressentimentos, Arthur.

-Como é que é? Isso não pode ser! Logo agora que ela e Ben poderiam se entender... Não é possível, você tem certeza?! - falou Arthur desesperado.

-Você acha que eles seriam capazes de sabotar o avião? Você os conhece melhor que eu Arthur. Você acha que eles seriam capazes de colocar em risco a vida de outras pessoas só por causa de uma? - Markus se negava a aceitar, a acreditar. Embora ele em sua profissão sabia muito bem que tudo o que conta são os objetivos finais.

Arthur fez uma pequena pausa, respirou profundamente e então lhe respondeu.

-Em se tratando deles, não tenho a menor dúvida.

-Mas eles não sabiam nada de Gabriella... - argumentou Markus.

-Você acredita nisso, Markus? Eu estou indo para o aeroporto e vou tentar pegar uma lista dos passageiros com o diretor do aeroporto.

-Eu já tentei, mas eles ainda não a liberaram. Eles me informaram que ainda não terminaram as buscas e por causa disso a lista não foi liberada.

-Eu chego num minuto, por favor me espere. Eu o conheço bem e posso conseguir a lista dos passageiros desse vôo. Até mesm o antes da polícia.

Steffany acabava de ouvir as notícias pelo rádio de seu carro. Calmam ente ela estacionou o carro e de seu celular ligou para Klaus.

-Então, irmãozinho , desta vez você não falhou. Parabéns!

-Claro que não maninha. A estas horas ela já virou comida de peixe.

-Com certeza Ben também já deve ter ouvido as notícias, agora mais do que nunca ele sabe que nós não estamos brincando.

-Ele deve estar louco atrás daqueles dados.

-E não é isso o que queremos? - falou Steffany.

Foi muito fácil para Klaus sabotar o avião. Nesses lugares simples e pobre algumas notas de dólares fazem muita diferença na vida das pessoas. Ele estava feliz que tudo terminou como o planejado. Gabriella agora estava realmente fora d o caminho da irmãzinha dele.

Mas foi uma pena uma mulher tão linda e inteligente como ela ter que morrer tão cedo e tão desastrosamente. - pensou ele. Mas era a vida , fazer o quê? - pensou ironicamente.

Ben recebeu a notícia sobre a queda do avião através do noticiário. Ele não precisava correr para o aeroporto e pedir a seu amigo para lhe dar a lista dos passageiros daquele vôo. Na verdade ele soubera do acidente mesmo antes das notícias terem invadido às TVs.

Sua cabeça era só confusão, nada mais fazia sentido para ele. Ele não podia confiar em ninguém. Nem mesmo em Arthur que havia demonstrado ser seu amigo durante todo este tempo, ele não podia mais confiar, ele o havia traído, mentido, ele o enganara. Certamente ele sabia desse atentado, da existência do seu filho, mas nada lhe dissera.

E também não podia contar toda esta história absurda para a polícia. Com certeza eles também não acreditariam nele.

Sua vida nunca tinha tido um sentido de ser. Primeiro seu pai havia passado a maior parte da vida dele odiando-o. Depois ele havia se casado com uma mulher que era uma bandida, criminosa sabe-se lá o que mais. A polícia estava atrás dele e como se isso fosse pouco ele perdia mais uma vez a sua Gabriella, só que agora para sempre. Ele era um homem marcado, um prisioneiro do seu passado.

A cabeça dele estava a mil, seus pensamentos não conseguiam se coordenar por mais que ele tentasse, mas uma decisão ele havia tomado.

-Esta criança, eu preciso salvá-la. Ela é tudo o que me resta. Muito obrigada, meu amor, por ter me dado um filho. Eu te prometo, menino, esteja você onde estiver eu vou salvá-lo das mãos desses bandidos.

Ben acabou por esvaziar a garrafa de whisky que tinha nas mãos. Ele estava sentado no escritório do pai. Ele observava cada mó vel, cada livro, cada estátua como se fosse pela primeira vez em sua vida. Ele sabia que precisava começar a procurar esses dados que tanto Steffany queria, mas não por ela ele faria todo este esforço, mas pelo seu filho.

******

Enquanto isso, Arthur, no aeroporto, não podia se conformar com a notícia da morte de Gabriella. Markus tinha um nó na garganta e lágrimas nos olhos.

-E agora como é que eu vou dar a notícia a Ben sobre a morte dela?

-Não vamos perder as esperanças Arthur, as buscas ainda não terminaram.

-Mas eu já posso imaginar os resultados - falou Arthur desconsoladamente.

Era mais ou menos quase uma da manhã na Alemanha quando a cadeia de televisão trouxe ao ar a notícia de que duas pessoas fora m encontradas vivas nas águas do Caribe.

As câmaras estavam a postos quando um barco de pescadores da região ancorou e dele saiu um casal. Os repórteres estavam eufóricos e quase que caíam uns por cima dos outros.

O local estava apinhado de gente da própria região. Eles queriam presenciar o milagre dessas duas pessoas, tocá-las, conhecê-las, falar com elas.

Gabriella estava assustada, com frio e faminta, mas ela estava feliz por estar salva.

-Senhorita por favor, nos dê uma palavrinha. - pedia um repórter bem moreno o que ela logo percebeu ser um repórter da região. E como ela mais do que ninguém conhece esta árdua profissão ela parou e disse que responderia a todas as perguntas assim que estivesse seca, quente e depois de comer alguma coisa.

Guarda-costas da região informavam que eles seriam conduzidos para o hotel Miramar e que mais tarde no saguão do hotel eles dariam um a entrevist a completa.

Duas horas depois Gabriella e Jackson Lee, o americano que lhe salvara a vida, entravam no saguão do hotel para serem entrevistados. Enquanto os repórteres esperavam, emitiram vários flashes noticiando que um casal escapara com vida do trágico acidente aéreo. As televisões em cadeias mostravam o filme onde apareciam Jackson Lee e Gabriella Kolberg chegando num navio pesqueiro à ilha de Santo Domingo.

-Eu não tenho a menor idéia de como ela pôde escapar de um acidente daqueles? - resmungou Klaus bebendo de uma só vez a sua Vodka. - Essa mulher tem vida de gato.

-Ela tem parte é com o diabo, isso sim. - blasfemou Steffany.

-Isso não está me cheirando nada bem. Você já imaginou o que Ben deve estar pensando agora? Que tudo não passou de um blefe nosso? Ele não vai nos entregar esses dados.

-Isso é o que veremos. Você trata de levantar o rabo dessa cadeira e movimente-se, eu não quero que essa mulher chegue viva na Alemanha, você me entendeu? Converse com seus amiguinhos, peça ajuda , faç a o diab o. Mas ela só entra neste país novamente de pés juntos.

Até hoje fora fácil para Klaus eliminar as suas presas, as suas vítimas, mas essa tal de Gabriella já o estava tirando do sério. Como ela podia ter escapado com vida? Ele tinha feito a coisa certa ele sabia disso. Agora ouvindo a reportagem completa sobre o salvamento dela ele jurou que não só Gabriella morreria mas também esse idiota que havia lhe salvado a vida e se metido no caminho dele.

-É por causa de gente idiota como você que o mundo não vai para a frente. - resmungou Klaus já bêbado e chutando a garrafa vazia de Vodka para debaixo da poltrona. Ele agora precisava pensar em algo bem terrível, ela teria que morrer cruelmente para pagar tudo o que ele estava passando e se possível na frente de Ben para que o seu prazer ainda fosse maior. Ele tinha que pensar logo numa forma bem cruel. Fora disso eles agora corriam o risco que Ben desse com a língua nos dentes para a polícia. Não, ele precisava agir rápido e preciso, por isso pegou o telefone e fez uma ligação importante.


******

- JACKSON LEE -

Gabriella e Jackson Lee não se cansavam de contar como tudo havia acontecido.

Para Gabriella um novo mundo se abriu. A vi da lhe f ora restituí da, isso era o maior presente que ela poderia ter recebido.

Ela sorria com lágrimas nos olhos ao contar de como Jackson a puxava pelos cabelos tentando salvá-la e ele não se cansava de narrar de como ela tinha uma força terrível e de como ele quase desistiu de salvá-la.

Logo assim que as entrevistas terminaram, eles foram convidados para jantar na casa do prefeito da cidade, pois afinal de contas tudo isso era inédito na cidade.

Um carro viria apanhá-los dentro de uma hora. Gabriella pediu uma linha telefônica e tentou localizar Markus, mas foi inútil, resolveu deixar recado na secretária eletrônica do celular dele e deixou também o número telefônico do hote l onde ela está hospedada.

Cinqüenta minutos mais tarde o carro do prefeito parou na frente do hotel a espera das duas vítimas do acidente. Na portaria Gabriella pediu que se alguém chamado Markus Krämer lhe telefonasse que por favor desse o número da casa do prefeito, pois ela estava esperando a ligação dessa pessoa e que essa pessoa era muito importante para ela. O chefe do hotel respondeu-lhe que ela não precisaria se preocupar, pois se essa pessoa lhe telefonasse o número do telefone seria dado. Gabriella agradeceu e entrou no carro onde Jackson já a esperava.

Markus não pôde receber o telefonema de Gabriella, pois ele estava tendo um trabalho muito difícil naquele momento: O d e reconhecer o corpo de Margot.

Margot estava sumida há dias. Markus e Arthur já tinham feito de tudo para localizá-la, mas inutilmente. Alguém tinha encontrado um corpo nas águas do rio Reno em Colônia. Markus fora chamado porque há poucos dias ele havia dado parte do sumiço dela para a polícia. Ele também sabia que ela não iria embora sem antes se despedir dele ou então de lhe telefonar, por isso quando ela não deu notícias ele achou muito estranho. E agora ela estava morta. Ele estava odiando tudo isso, ele havia em pouco tempo perdido as pessoas mais importante da sua vida, Gabriella e su a ti a Margot.

Ele também sabia que só podia ter sido Klaus Gühmann e sua gang.

-Você vai me pagar caro senhor Gühmann. - pensava Markus ao reconhecer o corpo da tia.

Teuscher apresentou-se a Markus.

-Eu sinto muito meu rapaz.

-Eu também.

-Você pode imaginar quem poderia ter feito isso? - perguntou Teuscher puxando o seu caderninho preto.

É claro que Markus podia imaginar quem poderia ter feito isso, mas ele não podia falar nada. Ele também sabia que Teuscher estava cuidando do caso do corpo que fora encontrado no rio Reno, mas ele não podia dizer nada a menos que ele recebesse ordens da Interpol. Tudo ainda estava no mais alto sigilo e nada deveria vazar.

-Não - respondeu ele.

-Esta cidade está ficando cada vez mais perigosa. Pelas credenciais da sua tia ela era uma cientista. - falou Teuscher enfaticamente olhando bem nos olhos de Markus. O que Markus não emitiu nenhum parecer. - Poderia me dizer se sua tia estava metida em alguma pesquisa de alto sigilo, senhor Krämer?

-Nada que eu saiba, inspetor. - falou com tristeza. Markus chorava em silencio.

-Ela nunca citou o nome para quem estaria trabalhando?

-Infelizmente não - Markus procurava ser evasivo.

-Onde o senhor estava nos últimos três dias, posso saber?

-Trabalhando na Inglaterra.

-Alguma referência onde eu possa checar a veracidade do que o senhor está me dizendo?

Markus lhe entregou um cartao seu de visitas onde dizia que ele trabalhava como antiquário, e Teuscher disse-lhe que a polícia iria cuidar de todo o resto e logo que o corpo fosse liberado que ele entraria em contato.

Markus agradeceu e voltou para o carro. Pegou o seu celular para ligar para Arthur e verificou que ele tinha uma mensagem. No mesmo instante ele telefonou para Gabriella na República Dominicana e pouco depois ele estava ligando para a casa do prefeito, onde ela estava.

-Gabriella, você não pode imaginar que maravilhoso é saber que você está viva e poder ouvir a sua voz. - disse Markus emocionado, e aliviado.

-Eu também posso dizer o mesmo Markus.

-Gabriella, escute com atenção tudo o que eu vou te dizer e não diga uma palavra com ninguém sobre este assunto. Também não entre em pânico, mas escute atentamente. Você está correndo perigo de vida.

-Acho que você está fazendo alguma confusão Markus, o perigo já passou. Graças a Deus eu estou viva! - falava Gabriella cheia de entusiasmo. Mas Markus não tinha muito tempo para ela agora.

-Gabriella, não me interrompa, só escute com atenção e me acredite. O acidente com o seu avião foi um atentado, eu não posso te esclarecer os detalhes agora e nem te dizer mais nada. Mas fuja o mais rápido desse lugar e esconda-se. Não diga a ninguém pra onde você vai. Não confie em ninguém a não ser em si mesma.

-Markus, você enlouqueceu?

-Ainda não, mas vou enlouquecer se você não me ouvir com atenção. Há pessoas tentando matar você. - ela interrompeu Markus já meio amedrontada.

-Markus isso é sério?

-Mais do que sério.

-Mas por quê? O que foi que eu fiz?

-Infelizmente eu não posso te dizer nada agora.

-Quem são, você já sabe, quem são? Eu quero saber agora e também o porquê! - perguntou Gabriella aflita.

-Acho que você tem o direito de saber quem são, aliás você conhece a ambos: São Steffany e Klaus seu irmão.

-Mas eu não entendo o motivo. Não posso acreditar.

-Gabriella, a bateria do meu celular está acabando. Eu não posso ajudá-la de onde você está. Por favor, tome cuidado ao retornar a Alemanha. Logo que eu puder, eu lhe esclarecerei tudo. Você se lembra daquela loja de antiguidades chinesa onde você me ajudou na escolha de alguns vasos para o meu apartamento?

Sim, claro que me lembro.

-Então, vá até lá e peça ao dono daquela loja para ver o jarro chinês mais caro que ele tem e coloque dentro dele o endereço de onde você estiver.

-Mas por que o mais caro?

-Porque o mais caro ninguém vai comprar e assim a gente não corre o risco de alguém levar o seu endereço. E depois só para disfarçar, caso você estiver sendo seguida, peça para ver outros jarros, outras coisas, sei lá. Mas acima de tudo tome muito cuidado. Não volte para o seu apartamento, ele está sendo vigiado vinte e quatro horas por dia com câmara a longo alcance. Não use o telefone para falar com ninguém estamos entendidos? E outra coisa: Tome muito cuidado essa gente não está brincando não.

-Sim Markus e muito obrigada. - ela estava agora amedrontada.

Gabriella pôde sentir pelas palavras dele que ela estava em sérios apuros e que ele não podia ajudá-la. Ela teria que cuidar dela mesma, pois se era assim como ele lhe contara, as coisas já haviam ido muito longe e Steffany e Klaus não estavam brincando. - Mas por que eles querem matar-me? - isso ela não podia entender.

Ela não tinha mais nada com Ben já há um bom tempo, o que seria isso agora?

O jantar para ela naquela noite havia perdido toda a graça e mal ouvia e participava da conversa. Ela tentava pôr os seus pensamentos em ordem e bem que Markus podia ter razão. Algumas vezes enquanto ela estava ali na ilha, ela tinha tido a sensação de estar sendo seguida. Mas achou que era coisa da sua cabeça de jornalista ou que alguém a estivesse paquerando.

Forçando bem a memória agora podia se lembrar que ela havia visto alguém bem parecido com Klaus ali. Mas pensou que fora somente uma impressão, pois afinal de contas muitos alemães passam férias na República Dominicana praticamente o ano inteiro e logo se esqueceu do que ligeiramente viu.

Mas agora a história era diferente, essas impressões começavam a fazer parte de uma realidade dura e cruel: eles queriam matá-la. E o que ainda era pior de se pensar que tantas outras pessoas inocentes morreram no lugar dela e se não tivesse sido Jackson a estas horas também ela estaria fazendo parte daquele montante de corpos que foram encontrados mortos. Só de pensar na cena ela se arrepiou de medo e pavor.

Ela se assustou quando Jackson bateu em seu braço direito arrancando-lhe dos seus pensamentos. Todos estavam em pé fazendo um brinde a ela e a ele. Ela pediu desculpas e levantou-se em seguida, ergueu o copo de champagne. Olhou para Jackson e pensou mais uma vez que ela poderia estar morta naquele momento se não tivesse sido salva por ele. Talvez ele pudesse ajudá-la mais uma vez, mas como? Ela não podia falar nada para ninguém, foi isso o que Markus lhe recomendou e ela estava disposta a obedecer às regras até o fim.

Naquela noite Gabriella teve sonhos horripilantes, ela gritou várias vezes no meio da noite e acordou muito assustada. Estava apavorada.

******

- ROBERT JANSEN -

O avião que estava vindo da República Dominicana pousou com sucesso no aeroporto em Düsseldorf. O ônibus do aeroporto já estava à espera dos tripulantes. Gabriella estava naquele vôo. Ela estava desesperada, em pânico sem saber direito o que fazer. E se alguém a estivesse esperando quando ela descesse do avião? E se o motorista do ônibus fosse um deles?

Não, ela não podia descer ali. E quanto mais ela se aproximava da porta de saída do avião onde as aeromoças se despediam dos tripulantes mais desesperada ela ia ficando por não saber o que fazer.

-Senhora Kolberg, ficamos felizes em tê-la à bordo conosco.

Gabriella estremeceu da cabeça aos pés ao ouvir o seu nome. De onde ela a conhecia? Como aquela aeromoça podia saber o seu nome? - Gabriella não estava mais raciocinando. Ela estava em pânico e em seu estado de choque ela se esqueceu de que fora manchete em todos os jornais nos últimos dias.

-Ficamos felizes que a sua história tenha tido um final feliz, senhora Kolberg. Eu li tudo nos jornais. - Falou uma outra aeromoça. Gabriella agora respirava aliviada, então era isso, elas haviam lido tudo nos jornais. Foi então que teve uma idéia relâmpago

-Eu também estou feliz. - disse Gabriella com um sorriso amarelo e se aproximando de uma das aeromoças. - Será que vocês poderiam me fazer um favorzinho? Com certeza lá fora no setor de desembarque devem estar cheio de repórteres, não haveria um outro caminho por onde eu pudesse escapar?

-E a sua mala? - perguntou uma outra aeromoça.

-Tudo o que me restou eu trago agora aqui comigo. - e mostrou a bolsa tiracolo pendurada no ombro.

Elas entenderam e se sentiram até mal em lhe fazer aquela pergunta, com certeza ela perdera toda a bagagem no acidente. - pensou uma delas.

-Bem, acho que não haveria mal nenhum se ela viesse conosco e saísse no setor só para pilotos e aeromoças. - falou uma delas.

-Acho que precisamos pedir permissão. - falou uma das aeromoças.

Elas se entreolharam por alguns segundos o que para Gabriella pareceu uma eternidade. Ela já ia falar que deixassem para lá e que não se dessem ao trabalho. Na verdade o que ela não queria é que alguém do lado de fora daquele avião ficasse sabendo que ela estaria saindo por uma outra porta. Quando uma outra aeromoça disse:

-Que pedir autorização que nada! Vocês sabem como eles são rigorosos. Ela sai comigo e está tudo bem.

Gabriella ficou surpresa com a atitude de coragem dela. Ela jamais iria esquecê-la na vida. Isto é, se sobrevivesse a tudo isso.

Do lado de fora do aeroporto estava Robert Janssen com um binóculo olhando todos que saíam do aeroporto. Ele estava muito bem vestido como se fosse alguém muito importante do governo. Do lado de dentro mais quatro agentes disfarçados se comunicavam com um walk talk preso ao ouvido.

-Vocês já localizaram o presente? - perguntou Robert.

-Ainda não. Mas muitos que vieram neste vôo estão pegando as malas agora, ela com certeza ainda está lá dentro esperando a sua.

-Certo. Vocês já sabem o que fazer. Assim que ela aparecer na porta de saída da alfândega a cerquem e diga-lhe que vocês são da revista para quem ela trabalha e que seu chefe os enviou a fim de protegê-la e que um carro lá fora está a disposição dela. Não deixe que ela fale com ninguém, evite os repórteres porque senão a nossa tarefa será mais difícil. Eu estou no lugar combinado à espera de vocês. Não tirem o olho da porta, a qualquer momento ela irá sair.

-Sim, senhor. Estamos a postos.

Robert desligou o telefone resmungando.

-Cambada de imbecis! Não servem para nada. - falou assim e colocou a mão na cintura e sentiu a sua companheira ali com ele, uma automática com um silenciador de cano curto.

Deu uma baforada no seu charuto soltando a fumaça no ar e disse para si mesmo: - Isso vai ser uma moleza! Amanhã será notícia em todos os jornais: Escapou da morte de avião, mas não escapou com vida de algum maníaco fanático. E deu mais uma forte baforada no charuto que fumava.

Ao sair por uma porta traseira de serviço do aeroporto, Gabriella verificou se ela podia ver alguém suspeito. Mas para dizer a verdade todos pareciam ser trabalhadores. Havia muitos carros que faziam a entrega de pães, jornais, revistas e outros tipos de alimentos. Outros verificavam as turbinas dos aviões e o barulho ali era ensurdecedor. Dois motoristas em carros abertos transportavam malas para um avião estacionado no lado esquerdo.

Alguém lhe gritou que ela não poderia estar daquele lado que somente para trabalhadores era permitido o acesso. Ela também perguntou aos gritos como ela poderia sair dali, pois o barulho dos motores eram insuportáveis, ele apontou para a frente. Gabriella correu até a porta, ela tinha os nervos em frangalhos, as pernas tremiam e ela mal podia andar, ela sentia uma sede incrível, a garganta estava seca pelo medo, seu coração pulsava forte e ela tinha a impressão que ele iria sair por sua boca, ela simplesmente não sabia como sair dali, pensou. Viu-se novamente no mesmo corredor onde as aeromoças a deixaram, ela avistou uma outra porta mais à frente.

-Esta deve ser a saída da qual elas me falaram. Deus dos céus! Estou tão nervosa que saí pela porta errada. Calma, calma Gabriella você vai conseguir. Feche os olhos por alguns segundos e não pense em mais nada. Você vai conseguir. - disse ela firmemente para si mesma.

Poucos instantes ela se viu do lado de fora, respirou fundo o ar e pode sentir que não era dos melhores, mas ao menos agora ela tinha achado a saída certa.

Olhou para ambos os lados e o fluxo de pessoas era grande, umas chegavam outras saíam, isso a deixou tonta. O aeroporto tinha passado por uma reforma rigorosa desde o incêndio na floricultura ocorrido em Abril de 1996, no qual oito pessoas que estavam na sala de espera foram mortos asfixiados por não acharem a saída. Mas ali do lado de fora a reforma ainda não havia terminado.

Mais uma vez respirou fundo e tentou se acalmar, olhou tudo com muito cuidado e como saber se alguém a estava seguindo? Ela com certeza seria logo reconhecida por eles mas ela não sabia quem estaria à espera dela. Ela ergueu os olhos e viu uma mulher que vendia balões de ar para um menino e teve uma idéia fulminante.

-Preciso de alguns desses balões.

-Quantos senhora?

-De uns cinco ou seis. Quanto custa?

-Seis, sessenta Marcos.

Gabriella pegou os seis balões. Ela dava graças a Deus que alguém no hotel lhe entregou um envelope com algum dinheiro alemão, cortesia da agência de viagem.

Ela agora caminhava na direção dos táxis e se escondia atrás deles. É claro que era uma idéia idiota, é claro que ela com aqueles balões, todos olhariam para ela. Para ela não, todos olhariam para os balões e pensariam: qual seria a maluca que teria tantos filhos assim?

Gabriella colocou a cabeça na janela do táxi, e mal ela abriu a boca para dizer o endereço, o motorista lhe disse que com todos aqueles balões no carro ele não a levaria. Ela nem mesmo teve tempo de retrucar, pois o motorista já havia colocado a primeira marcha e partido.

Ela fez sinal para um outro mais adiante e este já de dentro acenou com a mão dizendo-lhe que não.

Gabriella não estava gostando nada, nada da idéia dos balões, mas ela não tinha alternativa. Ela avistou mais um táxi que vinha saindo do terminal “C“ e praticamente se jogou na frente deste obrigando o motorista a parar. Ele olhou para os balões que ela trazia nas mãos e fez cara de quem não poderia levá-la. Nesse mesmo instante do outro lado da rua Robert olhava a cena, mas só viu os balões. Gabriella estava desesperada e não queria perder mais tempo.

Ela lhe perguntou se ele não tinha crianças em casa, pois ela logo reconheceu que ele era um turco e qual era o turco nesta terra de Deus que não tinha filhos? Ela apelou, o que ele acabou balançando a cabeça numa afirmativa de forma que ela entrou no táxi. Sentou-se no banco detrás, nem mesmo o motorista conseguia vê-la pelo espelho retrovisor. Ela disse que caminho tomar e pediu-lhe que desse gás e assim o motorista de táxi desapareceu no tráfego da auto- estrada deixando para trás o aeroporto de Düsseldorf ainda em obras.

Do lado de fora Robert ainda esperava impaciente.

-Não é possível que esses idiotas a perderam. - resmungou ele.

Tornou a chamá-los pelo o walk talk. Deu-lhes ordens expressas para que fossem até ao balcão de informação e que a chamassem pelo auto-falante. Dez minutos depois eles receberam a informação por uma das aeromoças do vôo que ela tinha saído pela porta de serviço do aeroporto. Robert Janssen espumou de raiva, lembrou-se dos balões coloridos que ele havia visto.

-Cadela! - xingou-a com desprezo. Entrou em seu carro e fez uma ligação contrariado. - Perdemos o alvo, ela deve estar chegando no apartamento agora, não a perca de vista, eu já estou a caminho. - Como podia aquela mulher desgraçada ter-lhe fugido assim debaixo do seu nariz? - Pensava Robert irado.

Neste exato momento Gabriella chegava mas não em seu apartamento em Colônia. Ela não precisava de ninguém para protegê-la, ela mesmo iria providenciar isso.

Um Audi verde metálico procurou estacionamento na Immermannstrasse em Düsseldorf, uma rua bem movimentada.

De lá saiu uma mulher muito bem vestida, um chapéu com abas brancas, com luvas curtas e óculos escuros, batom vermelho contornando bem os lábios, um vestido justo moldando bem o seu corpo.

O homem da loja de antiguidades chinesas ficou deslumbrado com tamanha beleza. Ele chegou até mesmo a limpar o seu óculos redondo de aro fino para poder enxergar melhor tudo aquilo que estava diante dele.

Ele sorria por todos os lados quando a linda mulher perguntou qual seria o jarro chinês mais caro que ele teria na loja. O homem estava empolgado, finalmente alguém maluco o suficiente para comprar aquela preciosidade tão cara e que já estava com ele ali há anos. Para tal façanha, somente uma mulher - pensou o vendedor.

Gabriella teceu uma rede de elogios ao lindo vaso, repetiu cada palavra que Markus dissera quando eles estiveram ali sobre a tradição das histórias milenares dos vasos chineses. Depois, perguntou por outras preciosidades da casa e assim que o homem se virou para mostrar-lhe uma série de sinos chineses que haviam acabado de chegar, Gabriella jogou dentro do jarro um pedaço de papel e continuou sorrindo para o homem e seguindo-o pela loja que por sinal era mesmo uma beleza em raridades.