segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Capítulo 21

- KARIN AUSTRIN -

Ben cumprimentou a velha criada que o recebeu festivamente. Ele pediu que ela levasse água fresca para o escritório.

Poucos minutos depois ela entrou trazendo em uma bandeja de prata água mineral e uma garrafa de vinho branco também gelado. Ela sabia que ele gostava da bebida assim. Ele sorriu para ela e agradeceu. Ela saiu silenciosamente e fechou a porta atrás de si.

Ben sentou-se na poltrona de couro que antes pertencera a seu pai e bebeu uma taça do vinho com água. Ele tentava pensar onde seu pai poderia ter escondido os dados. Ao mexer nas gavetas Ben lembrou-se que seu pai tinha uma arma em casa e a procurou avidamente em todas as gavetas. Freddy sempre dizia: “Só por medida de precaução.” - e sorria. Ben agora podia vê-lo falando assim. Ele a pegou e a enfiou no cós da cintura da calça. Ele sabia que estava sendo seguido pela polícia, pelos capangas de Steffanny com certeza e por quem mais sabe-se lá? Queria estar prevenido caso tivesse alguma surpresa. Ele não sabia usar uma arma, aliás ele nunca se metera em confusão, ele tinha pavor disso, mas parece que a vida não queria que fosse bem assim e por isso agora ele estava metido nessa encrenca dos infernos.

Ben esqueceu-se do tempo procurando pelos benditos dados mas sem muito sucesso. Então se lembrou que tinha um encontro com os pais de Karin.

Foi até o toillette, lavou o rosto, fez a barba e penteou os cabelos, mas ele mesmo assim se achava com uma aparência horrível, se sentia cansado por causa da noite em claro que tinha tido. Mas agora não era o momento para pensar nisso.

Ao chegar à casa dos pais de Karin foi recebido calorosamente. Ele sabia que a mãe de Karin tinha uma forte queda por ele, aliás ela queria que ele se casasse com Karin e não Georg. E hoje ele precisava esbanjar todo o seu charme e sorriso para descobrir alguma coisa que pudesse ajudá-lo a achar o seu filho.

-Ben, você é mesmo um cavalheiro, sempre pontual. E que amabilidade a sua em trazer-me flores e bombons. Está vendo só senhor meu marido, - era assim que ela o chamava quando ela queria que ele percebesse alguma coisa. - Ainda existe neste mundo gentlemann, que traz flores e bombons para uma dama.

Ele fingiu não entender o que ela queria lhe dizer e cumprimentou Ben com um largo sorriso sem poder lhe estender a mão porque estava suja de terra por estar cuidando do jardim.

-Volto já, Ben - disse ele mostrando as mãos para que ele entendesse que precisava lavá-las.

Voltou minutos depois. Tomaram café, comeram bolo e conversaram sobre muitas coisas. Ben não queria que eles desconfiassem de nada. Depois ele perguntou sobre o neto e eles se abriram em sorrisos, a mãe de Karin imediatamente levantou-se e foi buscar o álbum de fotos do neto.

- Veja que beleza está esse menino! Ele é o nosso orgulho!

Ben estava fascinado e emocionado em ver a foto do filho e perceber que ele já estava tão crescido.

-Quantos anos ele tem agora? - perguntou Ben e eles sorriram com a pergunta dele.

-Vai fazer quatro anos.

-Que lindo lugar é esse com o lago no fundo? - indagou Ben na esperança de descobrir alguma coisa.

um lugar belíssimo. No verão passado Karin levou o pequeno Victor para que ele conhecesse o lugar preferido dela. “O lago de Constança”. Embora ela morra de medo do mar, adora quando pode ir lá.

-Aposto como Karin e Georg estão de férias neste paraíso. - jogou Ben com as palavras tentando descobrir alguma coisa. Os velhos se entreolharam e Ben percebeu pela boca da mãe de Karin que os seus lábios inferiores tremeram.

-O que foi? Falei alguma coisa errada?

Novamente Ben pôde ver no rosto da mulher um certo receio, se ele observasse melhor ele poderia achar que era de medo por alguma coisa.

Foi quando o pai de Karin começou a falar de um outro lugar e Ben a princípio não entendeu muito bem o que ele queria dizer.

-Sabe Ben, quando eu era pequeno, meus pais queriam descobrir um lugar com sol e ao mesmo tempo quente, com mar e céu azul, pois nós vivíamos entre as montanhas na Bavária e passávamos férias no norte da Alemanha. Minha mãe vivia muito deprimida, pois meu pai nunca tinha tempo para a família por causa da política. Um dia, eles resolveram passar férias na Espanha. Lá, eles descobriram uma terra maravilhosa. Com muita luz e calor, com mar de águas quentes, com ilhas protegidas ainda pela natureza. Experimentaram desde as Paellas, as Tapas e os pratos de Frutos do mar e se apaixonaram por suas comidas e costumes e principalmente pelo bom humor das pessoas dali.

-As férias terminaram e nós voltamos para a Alemanha onde o céu continuava cinzento e chovia todos os dias. Minha mãe protestou dizendo que agora ela só queria passar férias na Espanha e nós ficávamos contando os dias do ano para as férias chegarem. - Ben não estava entendendo nada do que ele queria dizer com toda aquela história. - e ele continuou. - Por causa da política, meus pais não poderiam simplesmente se desfazer de tudo por aqui. Mas eu me lembro da alegria da minha mãe. Bem mais tarde eu decidi assim como meu pai, de seguir a carreira política. Este verme da política, Ben, está enraizado em nossa família. Mas preferi vir para cá, para Düsseldorf, onde eu acho o povo bem mais bonito. - falou assim o velho Austrin e sorriu.

Ben franziu a testa sem entender nada. O velho Austrin fez-lhe um sinal de silêncio levando o dedo indicador à boca.

-Preste atenção meu jovem. - o velho Austrin chamou Ben assim. - A Bavária é conhecida pelas suas belas montanhas e pela magnitude do Königssee.

E dizendo assim o velho Austrin apontou para a foto que estava no álbum e a seguir para o nome que estava escrito a lápis logo embaixo e Ben pode ler: Hotel Dananic em Schwantal.

Mas pelo que Ben sabia e conhecia geograficamente, Schwantal ficava a menos de uma hora de Düsseldorf. Ao mesmo tempo com a outra mão o velho Austrin fez novamente o sinal de silêncio e continuou a contar a sua história.

-Como você sabe meus pais compraram terras na Espanha e mandaram construir residências lá...

E o velho Austrin ainda falou sobre a Espanha descoberta por seus pais por quase uma hora ainda. Depois ambos ao se despedir de Ben, eles o abraçaram firmemente e olharam com lágrimas nos olhos.

Ben pediu a senhora Austrin uma foto do pequeno Victor. Ele queria levá-la para Gabriella. Depois ela o abraçou fortemente. Ben não sabia porque o senhor Austrin lhe falara por enigmas, mas com certeza eles estavam sabendo de alguma coisa que ele ainda não sabia. Era como se eles gritassem por socorro, mas sem que ele pudesse entendê-los.

O que Ben não poderia saber e nem adivinhar é que eles estavam sendo observados. Por isso, o Sr. Austrin havia falado dessa maneira.

Georg tinha comprado uma casa na ilha pouco habitada para uma emergência e parece que aquela ocasião havia chegado. Ninguém mais a não ser ele, Karin, Steffany e Klaus sabiam da sua existência e só se chegava ali de lancha ou num pequeno avião. O lugar era perfeito.

Ele havia levado Karin e Victor para lá. A princípio ela ficou com medo por causa do mar, ela tinha verdadeiro pavor de água, mas ao lado de Georg ela iria até o fim do mundo. Ele é o meu porto mais que seguro, eu o amo. Pensava Karin quando chegara à ilha há duas semanas atrás.

O sol começava a se pôr, mas o dia ainda estava claro.

As lágrimas rolavam por suas faces, tinha sido duro tudo o que ela ouviu. Ela jamais poderia imaginar que Georg e Steffany fossem amantes, se ela mesma não tivesse ouvido a conversa dos dois, ela jamais teria acreditado se alguém lhe tivesse contado.

Naquele fim de tarde ela resolveu dar uma volta na ilha com seu filho, mas depois de meia hora mais ou menos começou uma forte ventania e ela resolveu voltar mais cedo. Victor ficou brincando na frente da casa e Karin queria buscar um agasalho para os dois, ao aproximar-se da janela da casa que dava para a sala ela ouviu vozes e percebeu que Steffany gritava com Georg completamente fora de si o que ela não entendeu a princípio o porquê. Ela havia pensado em aparecer na janela e fazer uma brincadeira com ela, mas alguma coisa que eles disseram a fez parar e ficar ali na varanda ouvindo o que eles diziam.

-Eu estou sendo seguida Georg, eu não sei se pela polícia ou se pela máfia. Por outro lado a polícia prendeu Klaus por suspeitar que ele matou Robert. - disse Steffany num fôlego só.

-Eles têm provas? - perguntou Georg.

-Eles dizem que sim. Acho que Klaus não sai dessa tão fácil.

-Mas Klaus é tão cuidadoso quando elimina alguém, eu não entendo como ele desta vez deixou alguma pista. - comentou Georg.

-Você precisa voltar Georg e tirar Klaus da prisão.

-Você está maluca? - explodiu Georg. - O que você acha que a polícia vai fazer? Você acha que eles vão me dar o seu querido irmãozinho de mão beijada, só porque eu sou Georg Hallmann, o Ministro do Exterior? Por outro lado meu bem, se a polícia tem mesmo provas contra Klaus pode ser que tenham alguma coisa contra mim também, ou melhor, minha querida, contra todos nós. Não Steffany, eu tenho que pensar em todas as possibilidades e no momento eu não posso vacilar. Ou melhor, nós não podemos vacilar, os nossos pescoços estão para ser enforcados e você sabe muito bem disso.

-Georg, nós precisamos de Klaus na operação sem Klaus a transação não vai dar certo.

-Sheisse! Logo agora que estamos na reta final isso foi acontecer - falou Georg colocando o wisky no copo. Ele estava muito nervoso.

-Georg! - murmurou Steffany num pedido.

- Steffi, pense bem. Ben já é suspeito de ter matado aquele fenômeno que foi encontrado no rio Reno, ele é meu irmão. Agora o seu irmão está preso por suspeita de homicídio de um cara que trabalhava para a Interpol e isso numa mesma família. Você não acha que a polícia vai achar tudo muito suspeito? Não Steffi, nós vamos ficar é bem quietinhos no nosso canto e levar a operação até o final, pois falta muito pouco. Por outro lado eu não posso segurar a Karin e Victor aqui por mais tempo, ela já falou que sente saudades dos pais e que quer voltar. Você acha que Ben já encontrou esses dados?

-Se ele ainda não conseguiu, ele vai conseguir por causa do filho. - disse Steffany acendendo um cigarro. - E o que vamos fazer quando ele nos entregar esses dados?

- Como assim? - perguntou Georg.

-Vamos mesmo devolver o filho dele, o menino Victor?

Karin sentiu as pernas bambas, engoliu seco, que história era aquela que ela estava ouvindo? Sentiu -se tonta, um calor descomunal subiu por todo o seu corpo. Ela pensou que iria cair ali mesmo, pois estava vendo tudo rodar.

-Nós vamos mesmo devolvê-lo a Ben? E o que vai ser de Karin? - perguntou Steffany estendendo-lhe o copo de whisky.

- Acho que um nesta história estará sobrando e sabendo demais, você não acha? - falou Georg firme e categoricamente o que Steffany logo entendeu que Ben deveria ser eliminado e isso não estava nos planos dela, pois ela pensava em ficar com Ben no final de tudo isso. A maneira como Georg falou fez com que Steffany lembrasse do passado. Dos tempos de estudante quando tudo para eles era apenas sonho, diversão e fantasia. Mas esse passado estava muito distante para todos eles.

Steffany descobriu que ela já não amava mais a Georg, apenas o tinha para os seus prazeres sexuais e para as suas tramas. Nisso, ele era o parceiro perfeito, mas nada humano, pensou ela.

Lembrou-se de Ben e desejou tê-lo na cama entre quatro paredes. Ele sim era um homem maravilhoso, meigo, atencioso, compreendia tantas coisas. Sabia sorrir, sabia conversar com uma mulher, lhe trazer flores, chocolates, ele era paciente e calmo em muitas situações onde Georg logo explodia. Que burra ela tinha sido todos esses anos de não perceber tudo isso. Ela descobriu-se apaixonada por ele e iria fazer de tudo para não perdê-lo, essa agora seria a sua luta: Tentar conquistá-lo, ganhar-lhe a confiança, levá-lo pra cama e dar a ele um filho e toda essa história de Gabriella seria deixada para traz.

Imagina se ela iria deixar que alguma outra mulher o tirasse dela. Quando ela se casou com ele, ela não sentia nada, mas com o tempo ela aprendeu a admirá-lo e se ela não tivesse se metido no jogo sujo de Georg, certamente ela já teria descoberto isso há mais tempo. Steffany sabia que essa seria uma trajetória longa, mas ela sabia esperar.

Até lá então toda essa história com os dados já estaria resolvida e eles poderiam ser felizes para sempre. Steffany estava disposta a mudar, ser realmente a esposa que Ben precisava ter. Mas por outro lado, ela não poderia deixar Georg perceber absolutamente nada.

-Venha cá meu amor, vamos aproveitar que aquela sua esposa sem sal e sem vida está longe e vamos fazer amor aqui mesmo no sofá eu estou louca por uma aventura. - falou Steffany convidando-o.

-Melhor não, ela poderá voltar a qualquer momento e por falar em Karin, você deixou alguém vigiando os velhos Austrin? - quis saber Georg andando com o copo de whisky na mão em direção a janela onde Karin estava. Ela se espremeu de encontro à parede e de onde estava torceu para que Victor não a chamasse, ela estava suando frio.

-Melhor que isso meu amor, não só eles estão sendo vigiados como há microfones por toda a parte, pois eu não quero que Ben dê com a língua nos dentes e vá perguntá-los onde Karin está. Se isso acontecer eu dei ordens para que os Austrins não conseguissem sair de casa.

-Mas eles não sabem de nada. E você mesma sabe que aqui na casa não existem telefones, nada, e para sair daqui só de avião ou na lancha que se chega e esta fica atracada longe daqui. Não se preocupe quanto àquela idiota, ela não desconfia de nada e está feliz assim como está, e para nossa sorte ela tem pavor do mar. Por isso mesmo fiz questão de comprar esta casa aqui na ilha. Nada poderia ser melhor. - falou Georg.

As lágrimas rolavam pela face de Karin. Tinha sido duro demais tudo o que ela ouviu, tudo o que ela descobriu. Ela não conseguia entender o porquê de tudo aquilo. Ela havia confiado a sua vida a Georg e agora ela descobria que ele só a usara. E que história era aquela de Ben e o seu filho? Ela teve que colocar sua mão direita sobre a boca para abafar o choro. Ela ainda podia se lembrar do dia em que Georg chegou com o bebê nos braços. Ele chegou em casa a tempo de receber os pais dela com festividade.

-Georg me conte essa maravilha. - queria saber o pai de Karin.

-Simples meu caro sogro: Devo tudo à ciência. Primeiro tudo foi feito em laboratório como vocês já sabiam. Depois eles aplicaram o soro em uma paciente voluntária financeiramente falando e no final de nove meses ela nós deu esse lindo bebezinho. Vocês não acham que ele é a minha cara? - dizia Georg sorrindo.

-Os bebezinhos sempre se parecem com os pais. - respondeu a mãe de Karin toda feliz com o neto nos braços.

- O que a ciência já progrediu é algo assim fantástico, não é mesmo mamãe? Imagine, eu me tornei mãe de um filho que é meu, sem que eu precisasse passar pelas fases de uma gravidez.

-Mas minha filha, estar grávida é tao maravilhoso. Nao entendo porque você se negou a isso.

-Mamae, Georg viaja tanto e eu sempre quero acompanhá-lo e uma gravidez estragaria tudo, nao é meu amor?

-Mas não se esqueça meu bem, tudo isso só pode acontecer ainda na família que tem muito, muito dinheiro, pois tudo custa uma verdadeira fortuna. - disse Georg levantando-se e servindo-se mais uma dose de whisky.

-E a mulher, não quis ficar com o bebê? É porque nos Estados Unidos já aconteceram alguns casos assim. - perguntou a mãe de Karin.

-Para isso ela foi muito bem paga. A quantia que ela recebeu ela venderia até a mãe ao diabo.

- Nossa, Georg! - falou Karin com espanto.

-E as complicações com a lei, Georg? - o pai de Karin não estava gostando muito daquela conversa não, principalmente por ele já ter feito parte de vários debates no Senado e ele sabia perfeitamente que na Alemanha isso é expressamente proibido.

-Que lei? Que complicação? E desde quando tudo o que acontece neste país a lei fica sabendo? Nós, somos a lei neste país, meu sogro - respondeu Georg fazendo um gesto com os dedos de que o dinheiro tinha a força da lei.

Karin se lembrava de cada palavra dita naquele dia.

-Será que Ben não sabia realmente de nada? E quem seria a mãe do pequeno Victor? Karin podia se lembrar como Ben havia ficado feliz de ver como o bebezinho era tão bonitinho, ele havia ficado emocionado ao tê-lo tão junto de si. Uma coisinha tão pequena e indefesa, dissera Ben naquela ocasião.

Karin podia se lembrar de tudo perfeitamente de como Steffanny estava calada e observadora naquele dia. Com certeza ela deveria estar achando graça do absurdo que tudo aquilo estava sendo. Parecia que Karin agora ao recordar-se podia ler os pensamentos de Steffany e Georg.

-Se ele soubesse que segura o próprio filho nos braços. Certamente ele mataria você, Steffi e a mim também.

-Meu Deus como eu fui boba, como eu pude aceitar e acreditar em tudo o que esse homem me dizia para fazer? - pensava agora Karin com revolta. - E meus pais? Santo Deus, eles estão sendo vigiados, mas por quê? E Ben, será que eles pensam em fazer alguma coisa contra ele? Mas Georg é irmão de Ben...eu mal posso acreditar, eu preciso fazer alguma coisa. - Karin estava em pânico. E agora, como sair dali sem que eles dessem por sua falta?

Do lado de dentro da casa Georg e Steffany ainda conversavam.

-A transação de tudo já foi confirmada pelos australianos? - perguntou Georg.

-Tudo confirmado, daqui a cinco dias nos encontraremos no trem que vem da Suíça e vamos fazer as transações sem levantar suspeitas.

-E como vamos fazer com os russos? Você já pensou em algo?

-Vamos fazer a transação com eles também ao mesmo tempo. Só que em vagões diferentes. Eu com eles e você com os australianos. Assim não levantaremos suspeitas. Só tenho que tomar cuidado de não me deixar ser seguida por aquele inspetor Teuscher.

-Por que, você acha que ele colocou homens para te seguir?

-Antes mesmo de Klaus ser preso alguém andava vigiando meus passos. Nós não podemos deixar mais nenhum furo até lá, entendeu Georg?

-Você sabe que depois os dois lados irão querer as nossas cabeças, você não sabe?

-Claro que nós sabemos disso. - frisou Steffany. - Mas eles nunca nos pegarão. Klaus já preparou as nossas novas identidades e por um longo tempo o mundo nao ouvirá sobre nós.

-Bem pensado, Steffany.

-Arthur já comprou as passagens, eu só não sei como vamos fazer sem Klaus nessa operação, você sabe que Arthur precisa ser eliminado, ele sabe demais e eu não quero riscos depois que a operação terminar.

-Não se preocupe, nós vamos dar um jeito. - disse Georg.

-Venha cá, me dá um beijo. Você sabe que eu fico super excitada quando sei que alguém vai morrer. - falou Steffany sorrindo e puxando Georg para junto dela. O que ele também não sabia é que ela precisava de Klaus livre nessa transação para a eliminação dele. Fora disso, alguém nessa história entre australianos e russos levaria a culpa de ter assassinado o Ministro do Exterior e não seria ela com certeza. Ela só queria ficar livre de Georg para poder ter Ben só pra ela.

Karin fechou os olhos, ela estava com nojo de tudo aquilo que ela acabava de ouvir. Ela olhou rapidamente para o filho, que brincava ainda distraidamente na frente da casa, tornou ouvir Steffany a convidar Georg para fazer amor com ela no sofá e pôde ouvir a risadinha safada dos dois amantes.

Ela começou a andar automaticamente em direção à cozinha, precisava entrar na casa, mas sem fazer barulho. Ao passar pela varanda que a levaria à porta da cozinha, ficou feliz de ver que a porta ainda estava encostada, tal qual como ela havia deixado antes de sair. Empurrou a porta lentamente, não queria fazer barulho e logo ela estava ali dentro. Ela se lembrou que Georg sempre deixa as chaves do carro na gaveta do armário da cozinha. Ela precisava abrí-la, sem fazer barulho. Eu preciso conseguir, pensou. Com muito cuidado, foi abrindo a gaveta. Karin levou um susto ao ouvir o barulho de um copo se espatifando no chão. E ainda ouviu Georg dizendo a Steffany para que deixasse o copo pra lá.

Num só fôlego, Karin pegou as chaves e a enfiou no bolso da calça. Ela tremia da cabeça aos pés. Quando se virou, ela viu, no chão do corredor que ligava à sala, a bolsa de Steffany. Primeiro ela pensou em pegá-la, mas estava apavorada demais para isso. Deu dois passos na direção da saída da porta quando decidiu voltar e pegá-la. Ela podia ouvir as batidas aceleradas do seu coração, respiração suspensa, nó na garganta. Abaixou-se e engatinhou até a bolsa e com uma das mãos a saiu puxando. Steffany tinha mania de jogar bolsas e sapatos pelo caminho da casa.

Karin sorriu só de imaginar que prato cheio ela tinha nas mãos. E que com certeza quando eles descobrissem a fuga dela iriam ver que ela não era tão burra como eles pensavam. Ela só esperava que tudo desse certo como ela estava pensando em fazer. Ao levantar-se já na cozinha, quase fez barulho esbarrando em uma das cadeiras da mesa. Parou por uns segundos e pendurou a bolsa nos ombros de modo atravessado para que não caísse. Só de pensar que poderia ser pega por eles ela sentiu vontade de ir ao banheiro, mas agora não era hora para isso. Ainda lembrou-se de pegar uma garrafa d'água para o filho, talvez porque ela mesma tinha a garganta seca pelo medo e saiu silenciosamente.

Já do lado de fora, ela passou a mão no menino que brincava distraidamente na areia e caminhou em passos largos que mal o menino podia acompanhá-la.

Em poucos minutos ela chegou novamente à praia sem sequer perceber como ela havia chegado até ali. Já começava a escurecer e ela ainda estava longe da lancha. As lágrimas escorriam pelo seu rosto.

As palavras que ela ouviu de Georg não lhe saíam da mente: - "para sair da ilha, só de avião ou na lancha em que se chega." Karin puxava ainda mais o menino pelas mãos, ele reclamava que doía, mas ela estava alucinada, cheia de pressa e pavor e mal o ouvia. Ela lhe pedia para ter paciência que logo eles estariam fazendo um belo passeio na lancha do papai. Ela pegou a garrafa com água e molhou os cabelos do menino. Victor reclamou com ela. Ela não o ouvia, ela não podia ouví-lo. Ela só tinha um objetivo no momento: Sair dali o mais rápido possível. Quando avistou a ponte de madeira onde a lancha estava atracada, andou em sua direção, certamente o piloto esperava pela volta de Steffany.

Karin tinha um nó na garganta e olhava a cada instante para trás, ela tinha medo de que alguém no último instante aparecesse e a impedisse de fazer o que tinha em mente: Fugir dali. Ela iria mostrar que não era tão idiota assim e que sabia também fazer as coisas. Ela tremia e mal conseguia puxar o menino pelas mãos, sentindo as forças lhe faltarem à medida que ela se aproximava cada vez mais do barco. Suas mãos estavam geladas e ela quase caiu quando colocou o primeiro pé dentro da lancha. Tudo isso para ela havia durado uma eternidade, mas eles ainda não estavam a salvo. Ela cochichou algo no ouvido de Victor e deu a ele a garrafa de água que ela tinha na outra mão.

-Dona Karin! - cumprimentou o piloto da lancha surpreso.

-Boa noite Jacob. A dona Steffany não vai seguir viagem hoje e meu filho tem uma febre muito forte e eu não tenho mais medicamentos aqui na ilha. Eu acho que ele precisa de um médico. Será que você poderia nos levar imediatamente ao pequeno hospital da vila? - falou Karin firme como nunca falara em sua vida.

-Mas dona Karin eu tenho ordens expressas de esperar a dona Steffany, ela...

Karin não deixou que ele terminasse a frase, tinha medo que ele percebesse que alguma coisa não estava correta nessa história dela e por outro lado Georg ou Steffany poderiam aparecer na praia e aí tudo estaria perdido e outra chance como esta ela não teria tão cedo, por isso falou mais dura com ele ainda.

- Ou você pilota a lancha ou eu a pilotarei, o meu filho precisa de um médico.

Ele viu que ela estava diferente, quase selvagem, ele conhecia muito bem isso nas mulheres, elas se transformam em leoas quando os seus filhos ficam doentes. Era assim com sua esposa também.

-É pra já, dona Karin.

-Dê toda a força para a partida Jacob, não quero esperar nem mais um minuto.

Karin não podia acreditar que ela havia conseguido. Ela tinha Victor nos braços que agora cansado de toda uma tarde agitada, começava a adormecer. Ela olhou para trás e pôde ver o quanto Jacob pilotava rapidamente a lancha afastando-se da ilha que se perdia na escuridão que agora se aproximava rapidamente. Ela daria todo o dinheiro do mundo para ver a cara de Steffany quando procurasse por sua bolsa, talvez ela pensasse tê-la esquecido na lancha e quando ela chegasse no ancoradouro e não encontrasse mais a lancha no local, ela correria de volta para Georg sem entender o que havia acontecido e só então é que eles dariam pela falta dela e do menino, mas aí já seria muito tarde.

Ela estava orgulhosa dela mesma. Sempre havia tido pavor do mar desde criança quando ela quase se afogou, por isso Georg sabia que ela nunca teria coragem de sair da ilha sozinha.

-Mas meu filho me encheu de coragem. - pensava Karin agora olhando para o menino que dormia em seus braços.

Depois de quase uma hora de viagem eles atracaram no pequeno porto de pescadores da vila.

-Jacob. - chamou Karin ao descer da lancha. Você não precisa voltar à ilha esta noite, a dona Steffany não volta hoje para a cidade.

- E a senhora, não vai voltar? Eu posso levá-la de volta. Eu conheço esse mar como a palma da minha mão. Vou ficar aqui esperando a senhora voltar do hospital. - Karin foi novamente categórica.

-Eu já disse que não será preciso. Com certeza eu vou passar à noite por aqui no hospital Jacob, vai ser melhor para o menino, você não acha? - e sorriu para ele e bateu com uma de suas mãos no ombro dele. - Vá para casa e volte amanhã por volta das 7 horas e me espere chegar, vou levar pão fresco para Georg e Steffany. - falou sorrindo.

Ela viu quando Jacob pegou as suas coisas e seguiu em direção do estacionamento e entrou em seu carro e deu a partida em direção a sua casa.

Karin se aproximou do carro de Georg e com as mãos trêmulas colocou o menino sentado na cadeira especial para crianças e o afivelou bem. Deu-lhe novamente a garrafa de água para beber e sentou-se no lugar do motorista, segurou bem o volante e fez uma oração a Deus pedindo-lhe forças para dirigir aquele carro, pois há anos ela não dirigia.

Karin estacionou o carro num posto de gasolina e do carro com o celular de Steffany ela ligou para o celular do pai. Em poucas palavras ela relatou tudo para ele e lhe disse que iria se esconder mas que ela ligaria para dar notícias e que ele deveria deixar o celular ligado para uma chamada dela e fora disso eles deveriam ter muito cuidado com os telefonemas e tudo mais pois eles estavam sendo vigiados e assim ela desligou abruptamente a ligação. Ela sabia que Georg e Steffany iriam ficar sabendo deste telefonema dela, mas ela precisava avisá-los do risco que eles estavam correndo.

Seu pai a princípio se negava a acreditar no que Karin havia dito ao telefone, pois ela estava perturbada demais, mas na manhã seguinte ele percebeu que um mesmo carro há dias estava parado em frente ao portão de sua casa e que a rua calma que eles sempre tiveram agora volta e meia estava em movimento pela troca de automóveis.

O velho Austrin com aquele sentido de velho político, começou a vasculhar a casa minuciosamente quando ele achou uma pequena câmara. A senhora Austrin que estava se levantando naquele momento pensou que o marido tivesse enlouquecido, pois tudo agora estava fora do lugar. Ela quis abrir a boca e falar alguma coisa mas ele imediatamente a tapou com suas mãos e disse a ela que eles iriam fazer uma caminhada naquela manhã. Só assim ele se sentia seguro para contar a ela o telefonema de Karin, mesmo que ele sequer conseguia entender muito bem o que estava realmente acontecendo.

Tudo isso se dera uma noite antes de Ben visitá-los. Por isso eles estavam tão cuidadosos quando ele chegou. O velho Austrin havia pensado em como ele poderia dar uma pista a Ben sem levantar suspeitas. Ele mesmo nem sabia para onde a filha tinha ido, mas ele conhecia os gostos dela e para onde possivelmente ela iria com o filho.

Naquela tarde, antes de Ben chegar, ele havia vasculhado cada ponta do jardim e encontrou cabos que haviam sido enterrados e que ligavam a casa, ele os cortou com um alicate especial que isola a energia da corrente elétrica. Também pensou que o lugar mais seguro para recebê-lo seria do lado de fora, no jardim, pois ali seria muito difícil de se ouvir qualquer coisa caso ainda restasse algo escondido.