segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Capítulo 3

- BENJAMIN HALLMANN -

Markus estava sentado no sofá, tentava recuperar as forças perdidas no duelo com Ben. No apartamento de Gabriella os objetos estavam todos em desordem. Markus com muitas dores ainda queria colocá-los nos lugares, mas logo percebeu que não iria consegui-lo sozinho. Ele se dirigiu para o banheiro e tomou uma ducha fria. O sangue escorria-lhe pelo nariz, pela sobrancelha direita, e pelo canto da boca. Viu-se no espelho, ele estava péssimo. Ben o tinha acertado em cheio, ele não podia imaginar que ele fosse tão bom de briga assim. Ele o imaginava um bobão, um panaca, mas que socos fortes ele tinha, pensou.

Markus fazia cara feia todas as vezes que a água fria batia-lhe nos machucados. Ele pegou no armário uma das toalhas de banho de Gabriella e enrolou-a em sua cintura. Depois calmamente vestiu-se novamente e telefonou para Arthur e narrou-lhe tudo como aconteceu. Foi até o quarto onde ela dormia profundamente, pegou o roupão e tornou a vestí-la. Ele não queria que Gabriella suspeitasse de nada quando acordasse.

Contemplou mais uma vez aquele corpo maravilhoso, pensou como deveria ser bom fazer amor com aquela mulher. Fechou os olhos desviando seus pensamentos e acabou de vesti-la.

Verificou mais uma vez a sala e constatou que o que ela iria encontrar ali pela manhã seria bem assustador. Foi até a cozinha e pegou um pouco de gelo para pôr em cima dos ferimentos que começavam a inchar apesar do banho frio que ele havia tomado.

Depois procurou ajeitar-se no sofá da sala e tentou dormir. O sofá era muito pequeno para um homem de grande porte como ele era. Sem conseguir dormir, Markus pensava em tudo o que tinha acontecido ali. Achava tudo muito ordinário, mas o que ele podia fazer? Ele estava cumprindo ordens e melhor ainda, era tudo para o bem de Gabriella.

Ela sequer poderia imaginar que Ben os havia pego nus na cama.

Markus não conseguia esquecer a expressão de ódio que vira no rosto dele e como ele reagiu violentamente. Ele ainda podia sentir as mãos fortes de Ben agarrando-o, esmurrando-o e encurralando-o contra a parede. Somente um homem muito apaixonado poderia reagir assim como ele fez. Markus pensava agora no quanto ele deveria estar sofrendo.

Mas Ben também não poderia imaginar que a primeira vontade de Steffany ao saber que ele estava se encontrando com Gabriella foi de liquidá-la e foi Arthur com o seu jeito calmo e tranqüilo que trouxera Steffany a realidade e se responsabilizara por uma solução menos drástica.

Foi ele quem desesperadamente fez contacto com Markus e pediu a ele que fizesse de tudo para salvar Gabriella das garras terríveis de Steffany. Por isso Markus não poderia falhar. Se ele falhasse, seria o fim dela. Não, tudo deveria ser muito bem feito, nada poderia sair errado, senão eles não teriam uma outra chance.

Ele já estava deitado quando lembrou-se que por medida de segurança deveria ligar para o hotel onde ele estava hospedado, mas só por medida de segurança, no caso de Gabriella perguntar como ele viera parar em seu apartamento.

Depois de muito relutar, dormiu o sono dos deuses, Ben estava fora da vida dela. De certa forma ele estava feliz com isso. Gabriella poderia começar uma nova vida a seu lado.

É claro que ela iria precisar de tempo e tempo era o que ele teria para ela.

Na manhã de sábado Gabriella acordou com um gosto amargo na boca. Seus pensamentos eram confusos, ela tinha um mau pressentimento.

- E se todas aquelas fotos não passassem de fotomontagem? - pensava ela agora com a cabeça

mais fria. Mas ela sabia que não eram, ela conhecia bem este tipo de trabalho. Isso acontecia muitas vezes na revista.

De repente, ela começou a chorar convulsivamente ao lembrar-se da conversa com Steffany. Tudo o que ela queria, era arranjar uma desculpa para não acreditar e nem aceitar a realidade que ela estava vivendo naquele momento.

Ela nunca poderia pensar que um dia em sua vida ela sentiria tanta dor. Tinha pensado que a dor da morte de sua mãe e da avó fossem dores enormes, mas ela estava enganada, existiam outras dores maiores na vida.

A dor de ter sido enganada pelo homem que ela pensava que conhecia e amava. Não, consertou ela, eu ainda o amo. Não poderia tirá-lo assim tão rápido do seu coração, da sua vida. Gabriella se sentia morta por dentro, morta em relação a Ben. Ela não poderia continuar amando um homem que para esconder aquilo que ele era, cometera um crime. Como ele teve a coragem de matar alguém? Não, ela não conhecia esse Ben que Steffany tinha lhe apresentado, alguma coisa estava errada em toda esta história e ela iria atrás da verdade. Mas... e as fotos? As fotos comprovavam as palavras de Steffany. Simplesmente ela não sabia o que fazer.

Pensando bem, talvez fosse melhor não se meter mais nessa história suja, ela tinha que esquecer tudo aquilo. Ela precisava ser forte e jogar fora aquele sentimento.

Foi quando se lembrou que esperava um filho, um filho de Ben. Não, um filho dela, esse filho seria só dela e de mais ninguém. Ele nunca viria a saber que ela estava esperando um filho dele. Gabriella parecia querer gritar essa verdade para ela mesma, as lágrimas escorriam-lhe pelo rosto e ela passou a mão em sua barriga.

-Eu nunca vou deixar que ninguém te faça mal como alguém está fazendo com a mamãe filhinho, isso eu te prometo. - dizia Gabriella assim com os seus pensamentos.

- Ben, Ben, por que? Por que, Ben?

Ela ainda permaneceu assim em sua cama por um bom tempo até que sentiu que o sol mesmo frio queria entrar através das cortinas que cobriam a janela. Resolveu que era hora de levantar-se e alimentar-se um pouco. Assustou-se ao ver que Markus dormia em seu sofá. Como? Como ele havia chegado ali? Acordou-o levemente, tinha medo de assustá-lo.

- Bom dia Gabriella. - disse Markus ao abrir os olhos e vê-la ali a sua frente.

-Gostaria de saber o quê você faz aqui no meu sofá? - Perguntou ela, não gostando muito do que estava vendo.

-Você ontem à noite telefonou para mim, estava nervosa e chorando muito, pediu para que eu viesse. Nós conversamos um pouco e...

Os pensamentos de Gabriella eram confusos, ela não conseguia lembrar-se de ter chamado Markus até ali. Foi quando observou melhor o estado em que se encontrava o seu apartamento e o rosto de Markus...

-Mas o que aconteceu por aqui? O que aconteceu com você? - Markus a olhou firmemente, ele sabia que precisava ser convincente.

-Eu sinto muito Gabriella, mas Ben apareceu e antes que eu pudesse explicar-lhe alguma coisa, ele voou em cima de mim e tudo o que eu fiz foi me defender.

-Ben, aqui? Como? Sinto muito, mas eu não consigo me lembrar de nada? Tudo isso parece um pesadelo em minha cabeça. Eu estava dormindo? Não acordei com vocês brigando aqui dentro? Impossível – Mas Markus afirmou com a cabeça.

-Você se levantou, veio até à sala e nos pediu para que parássemos... ai Gabriella, assim dói.

-Me desculpe. - Ela cuidava agora dos ferimentos dele.

Gabriella podia lembrar-se de que ela havia se levantado, ela podia se ver ali parada entre o corredor e a sala, ela se lembrava de ver dois homens lutando como dois gigantes, dois selvagens, mas pensava que tudo tinha sido apenas um daqueles seus pesadelos. Então desta vez tinha sido real. Ben estivera ali e a vira com Markus e tirara as suas próprias conclusões. Ele não a conhecia realmente, ele certamente duvidara do seu amor. Melhor assim, o que ela tinha a fazer agora era só esquecê-lo e isso ela conseguiria um dia.

Markus levantou-se dizendo que iria embora, ela disse que sim.

Agradeceu-lhe e pediu-lhe desculpas mais uma vez. A caminho da porta, Markus disse-lhe:

-Eu só queria ajudá-la, me desculpe se causei uma confusão maior.

-Não se preocupe, talvez tenha sido melhor assim.

-Se precisar, você sabe onde me encontrar.

E foi exatamente isso que Gabriella fez assim que Markus saiu. Foi até ao telefone e apertou a tecla para verificar a última chamada telefônica e para sua decepção lá estava a recepcionista dizendo:

-Hotel Am Stadtpark, bom dia, as suas ordens.

Gabriella nada respondeu, depositou o gancho novamente no lugar. Ela não podia entender o que tinha realmente acontecido por ali.

******
- GEORG HALLMANN -

Ben estava terrivelmente abalado com os fatos das últimas 24 horas.

Toda a sua alegria de viver havia voltado à estaca zero. Ele não tinha mais prazer e nem ânimo para festejar o seu aniversário. Ver toda aquela gente ali em sua casa lhe pareceu estranho. Ele queria tanto que tudo o que aconteceu no apartamento de Gabriella tivesse sido um sonho mau, um pesadelo e que logo ela estaria ali, entrando através da porta principal. Ou então que ele estaria acordando. Mas as dores e as marcas em seu rosto o traziam para uma triste realidade.

Os convidados queriam saber o que tinha acontecido e Steffany deu a desculpa de que Ben sofreu uma tentativa de assalto.

- Mas como? - perguntou um dos convidados. - Aqui em Düsseldorf? - Mal posso acreditar.

Ben se afastou dali, não queria ouvir as mentiras dela. Àqueles que o conheciam bem, podiam notar que ele estava triste, quieto e calado o tempo todo. Tudo o que ele queria era ficar sozinho com sua dor.

Arthur tentou se aproximar algumas vezes, mas Ben esquivou-se da sua presença, ele não queria falar o que realmente tinha acontecido. Para Arthur ele não precisaria de nenhuma desculpa, ele contaria a verdade, mas não hoje, não agora, ainda não. Infelizmente ele não podia dispensar os convidados, era tarde demais para isso. Por outro lado seu irmão fizera um grande esforço para vir, e não seria justo com ele e nem com Karin.

Ben não sabia quantos copos de whisky já havia tomado quando Steffany se aproximou.

-Ben, por favor, não faz assim. Daqui a pouco você não poderá se controlar.

-Pro inferno todo mundo, eu estou pouco ligando. - disse ele num desabafo sofrido. - Steffany podia ver a dor dele e isso também doeu nela. Pela primeira vez sentiu realmente dó de Ben.

-Eu nunca te pedi nada, mas hoje vou pedir, por mim, você nunca fez nada por mim. Pare de beber e curta a sua festa.

Ben a olhou estranhamente, Steffany nunca falava mole com ninguém e muito menos com ele. Ele deixou o copo na bandeja quando o garçom passou e não pegou um outro. Por incrível que pareça Steffany tinha razão. Ela realmente nunca pedira nada a ele, não daquele jeito tão gentil, tão dócil. Na verdade ela mandava, não pedia. Ele percebeu o quanto ela estava calma nos últimos tempos, mesmo sabendo que ele amava uma outra mulher.

-Merda! - pensou. Lá estava ele pensando em Gabriella novamente.

De repente a porta principal da casa foi invadida por luzes, batuque de pandeiros alegres e um grupo de mulatas entrou sorrindo, dançando e cantando um Parabéns pra você em forma de samba. Os convidados foram surpreendidos pelo barulho e num ímpeto de euforia aplaudiram e cantaram junto com elas. As luzes fluorescentes faziam os pequenos biquínis brilharem ainda mais tornando o ambiente em pura luz, magia, cor e beleza. O som alto dos tambores se confundia com a falta de entonação dos alemães cantando samba. Um outro grupo fez apresentação de capoeira e mulatas vestidas em plumas e paetês, com sandálias altas e douradas sambavam e se requebravam num vai e vem alucinante para os olhos apetitosos dos convidados.

Ben, para ser mais exato, também ficou surpreso, pois não sabia o que Steffany havia preparado para ele. Pela primeira vez desde a noite anterior, ele relaxou.

E cantou para ele mesmo os Parabéns pra você. Depois aplaudiu, sorriu e dançou com o grupo de mulatas. Realmente ela havia preparado uma linda festa que ele jamais vira, afinal ele estava fazendo 35 anos.

Steffany aproximou-se de Ben e na frente de todos os convidados o beijou na boca. Os fotógrafos do jornal estavam dando a maior cobertura, pois ela queria que em todos os jornais e revistas da Europa viesse uma nota sobre a festa de Benjamin Hallmann, e para isso ela fez questão de convidar a concorrência. Os jornalistas faziam fotos sem parar e é claro que eles colocariam tudo na página social relatando o belíssimo evento desta noite na mansao dos Hallmanns.

Ben deixou-se levar pelo embalo do momento. Ele já não estava tão sóbrio por causa dos whiskys que havia bebido, mas para dizer a verdade ele começava a se sentir bem com aquele estado de meio torpor. Os pensamentos já não lhe eram tão claros e em meio àquele alvoroço, ele não tinha tempo para pensar em sua dor. Simplesmente se deixou levar pela alegria da festa.

Antes da meia-noite um jantar quente foi servido. Todos apreciaram o fino bom gosto de Steffany.

Como entrada foi servido um Carpaccio de filé de boi, depois uma segunda entrada de Salmão no molho de vinho branco. Os pratos principais: Rosbife com batatas gratinadas e feijões verdes, filé de novilho, e medalhão de porco no molho de champignons frescos com sementes de pimenta verde. Também foram servidos vários tipos de legumes cozidos com Spätzle. Como sobremesa uma cascata de quase um metro de altura de sorvete foi servido em uma bandeja especial que mantinha a temperatura ideal para que as bolas decoradas em forma de pirâmide não derretessem. Por cima vinha uma cobertura de caramelo com chantilly onde os garçons serviam com uma calda de frutas quentes e silvestres.

Um verdadeiro delírio para os olhos e o paladar. Pela primeira vez desde que Ben conhecia Steffany ele sentiu orgulho de estar casado com ela. Ele sabia que nunca a amaria, mas estava satisfeito de tê-la a seu lado. Ela era a mulher certa para andar ao lado dele.

Após o jantar, ela o chamou até ao escritório e o entregou um envelope pardo.

-Este é o meu presente de aniversário para você. - disse ela com voz suave.

Ela o deixou sozinho, ele abriu o envelope. Ali estavam as fotos e os negativos que o haviam perseguido por toda sua vida, mas agora já não fazia diferença para ele. Ben já nem se lembrava mais quantas noites em claro passou pensando onde eles estariam guardados. E agora ele os tinha nas mãos, ele os tinha ali diante de seus olhos.

Steffany ao sair do escritório de Ben, foi para seu quarto, ela tinha lágrimas nos olhos. Ela podia se recordar como tudo aquilo aconteceu.

Na verdade as coisas entre Ela e Georg, não estavam nada bem. Na verdade ela não se satisfazia em ficar somente com um homem. O apartamento dela vivia cheio de universitários, música alta, bebidas, muita erva queimada, muitos escândalos. A fama que ela carregava não era nada boa para alguém que queria seguir a carreira política como Georg queria. Freddy, o pai dele, exigia uma conduta moral e política. Ele queria uma outra mulher para o filho. Mas ela não podia conceber a idéia de uma outra mulher caminhar ao lado de Georg.

Nessa época ele havia terminado a universidade de Direito e estava ingressando na carreira política quando ele conheceu Karin. Ela sim, seria a mulher ideal para ele. De uma família politicamente tradicional. Filha do Ministro do Interior Hubert Austrin. Ela havia acabado de chegar da Suíça onde tinha estudado. Ela era uma mulher preparada para esse tipo de vida, sabia falar em público, podia falar fluentemente cinco idiomas, era a pessoa certa para acompanhar Georg.

Karin exigiu que Georg rompesse imediatamente com Steffany.

Num jantar que os Hallmanns deram em sua casa, Steffany foi também convidada. Ninguém entendeu muito bem o porquê, desse convite e ela só entendeu as intenções do velho Freddy bem depois. E foi assim que naquela noite, Georg decidiu que não ficaria com ela se quisesse fazer carreira política. A diferença entre ela e Karin eram gritantes. E nesta noite Georg pôde perceber o que o pai se referia o tempo todo. Mas por outro lado Karin não era o que podemos chamar de mulher sexy. Ela não tinha um belo corpo, para dizer a verdade era meio redondinha, tinha os cabelos lisos e alaranjados, sardas no rosto de tão clara que era. Ela tinha uma beleza comum, se é que podemos chamar de beleza. Era simpática, sabia lidar com as pessoas de modo cativante. Ela era o contrário de Steffany. E nessa noite eles brigaram feio. Ele a esbofeteou e a chamou de vagabunda e vadia. E assim eles terminaram tudo, ali mesmo. Ela percebeu que ele havia preferido seguir a carreira política mesmo sabendo que ele a amava.

Tudo tinha sido muito difícil para ela naquela época. Sair daquela relação sem ficar totalmente machucada. Afinal de contas, ela o amava, à maneira dela, assim era o amor dela por ele. Por um bom tempo ela não quis saber dos amigos e das noitadas. Ficou trancada em seu apartamento a beber e a fumar. Ninguém ouvia falar dela.

Muitas noites ela chorou sozinha a sua dor. Os cinzeiros ficaram abarrotados de pontas de cigarro, as garrafas de bebidas vazias eram jogadas pelo chão do apartamento, a cozinha cheirava mal de tantos restos de comida. Ela havia mergulhado em seu próprio abismo.

Foi quando estourou o escândalo com Ben na universidade.

Depois de muito beber e fumar um baseado numa festa, ele fora pego e fotografado pelos colegas beijando Richard na boca. Outras fotos ainda mostravam os dois nus, dormindo lado a lado na cama e de mãos dadas.

Muitos desconfiavam que entre eles pudesse haver alguma coisa, mas assim numa festa tão abertamente, isso nunca tinha acontecido. Ben realmente não sabia explicar.

Tudo o que se lembrava é que fora convidado para aquela maldita festa e lá eles beberam muita Tequila. Quanto a Richard, todos sabiam o que ele realmente era e até zombavam dele porque ele tinha uma verdadeira paixão por Ben. Mas Ben nunca se importou com isso, pois eles eram somente bons amigos, e Richard em respeito a essa amizade nunca havia se declarado. Ben era apenas o seu único e melhor amigo e nada mais.

As pessoas não gostavam de Richard porque ele era pobre e seu pai um francês neurótico, um alcoólatra que quando bebia fazia vexame pela cidade inteira. Eles não podiam entender como Ben um rapaz rico e inteligente mantinha amizade com uma pessoa assim.

Pensou em seu pai homem rico e conhecido por todos, pensou no irmão que estava entrando para a carreira política, e por causa disso estava até abrindo mão de Steffany. Pensou no restante da família, nos conhecidos, nos professores na universidade, pensou na carreira que queria seguir como jornalista. Que crédito teria ele? Quem leria as matérias que ele escreveria? Ele estava acabado, arruinado e com ele a reputação da família. Ben nem mesmo sabia quais pessoas estiveram naquela festa.

Por outro lado, ele sabia que seu pai não acreditaria nele. Quando ele tinha oito anos, ele e um outro coleguinha depois de jogarem bola na chuva foram tomar banho juntos e o garoto estava passando o sabonete no pênis dele, quando exatamente entrou porta adentro o monitor do internato. O que ele viu foi suficiente para a sua expulsão. O pai de Ben deu muito dinheiro para que essa história não fosse levada adiante e que no currículo dele não viesse a mancha da expulsão e sim um pedido de transferência para a cidade mais próxima onde seus pais viviam. Mas ele se lembrava muito bem das palavras do pai.

- Você para mim é um filho morto. - e o esbofeteara.

E a partir deste dia seu pai nunca mais lhe fora o mesmo e agora acontece essa história novamente, seu pai desta vez o mataria de verdade, agora mesmo é que ele seria um homem morto.

Ben precisava vomitar. Ele não se sentia nada bem.

O telefone não parou de tocar o dia todo, ele sabia que mais cedo ou mais tarde teria que enfrentá-los. No final daquela tarde ele recebeu um bilhete que o avisava de que as fotos estavam sendo neste momento reveladas. Foi quando ele teve a idéia de vir pedir ajuda a ela.

Ela sempre fora a sua melhor amiga e foi nela que ele pensou nesta hora, pois ele sabia que a única que seria maluca bastante para acreditar nele e enfrentar essa gente toda seria ela.

Já passavam das 23 horas quando Ben insistentemente tocou a campainha da casa dela. Ela ao abrir à porta pôde ver pelo rosto dele que ele estava transtornado e totalmente bêbado. Foi ela quem falou primeiro.

-Já tô sabendo do que aconteceu. Eles fizeram fotos. Dizem que vão espalhá-las em todas as portas das salas amanha pela manha. Liguei para você o dia todo mas você não atendeu. Acho melhor eu fazer um café forte e sem açúcar, você está péssimo.

-Sim eu sei que tenho uma aparência horrível, mas nada é pior do que me aconteceu nesta festa. Eu estou apavorado. Eu não sei como tudo foi acabar assim, eu não me lembro de nada. Eu não devia ter bebido tanto.

-Eu te avisei que tomasse cuidado. Que aquela bichinha era apaixonado por você e você não quis acreditar e veja na confusão em que se meteu.

-Meu pai vai me matar, meu irmão vai me matar, todos vão me matar. Mas eu não fiz nada, eu sei disso, eu me conheço e conheço Richard. Nós sempre fomos bons amigos e nada mais que isso.

-Você sabe, mas quantas pessoas você acha que vão acreditar nessa história? Você o filho do poderoso Freddy Hallmann, dono do maior jornal da cidade. Isso vai ser um prato cheio para os outros jornais da concorrência, Ben. Você sabe disso. Você acha que depois do escândalo nos jornais alguém vai te acreditar?

-Ninguém. - respondeu ele cabisbaixo.- Graças a Deus minha mãe já morreu senão ela morreria agora. Quase que ela morreu quando eu tinha oito anos...

E Ben começou a contar-lhe tudo, enquanto tomava o café que ela tinha preparado.

-Steffi, você precisa me ajudar.

Ela sabia que as coisas para o lado dela não andavam muito boas e que a situação financeira de seu pai já era conhecida e comentada por toda a cidade. Por outro lado Ben sempre fora rico e sendo filho de quem era herdaria muita coisa e tudo também seria da mulher que se casasse com ele. E se essa mulher fosse ela, ela iria usufruir cada centavo desse dinheiro ou ela não se chamava Steffany. Dizer para os amigos que eles já estavam juntos e que queriam agora se casar, talvez ninguém acreditaria, pois os amigos sabiam que ela estava curtindo a maior dor de cotovelo por Georg.

Ben tinha a voz enrolada e embargada pelo álcool, era difícil de o entender. Ele falava sem parar, o olhar perdido no chão, às mãos entre os cabelos num sinal de total desespero.

-Steffi, case-se comigo.

-Tá maluco? Eu e você? Que idéia mais doida! Isso não seria a solução. Todos os nossos amigos sabem que morro de amor por Georg.

-Mas que também nós sempre fomos bons amigos e geralmente os bons amigos acabam se casando. Steffi, você precisa me ajudar. - implorava Ben.- Você sabe que sou rico e eu sei que sua família não vai bem financeiramente, a gente poderia fazer um acordo, esse negócio seria bom pra você também. Nós poderíamos fazer um contrato de casamento e depois nos separaríamos. Eu te dou um bom dinheiro para que você possa seguir sua vida depois. Você sabe que eu cumpro com a minha palavra.

-Espera lá, meu caro! É você quem precisa da minha ajuda e não eu. O fato da minha família não estar indo muito bem no momento não vai influenciar em nada na minha decisão.

-Você tem razão, me desculpe. - balbuciou Ben.

Ela sabia que quanto mais longe ficassem as esperanças dele fazê-la sua esposa, mais desesperado e incapaz de raciocinar ele ficaria. Ela o conhecia como a palma de sua mão. É claro que ela sabia fazer isso muito bem, pois aprendera a conhecê-lo no longo período que estivera ao lado de Georg.

Ela já sentia o gosto de sua vingança a caminho, Freddy e Georg teriam que tê-la na família custasse o que custasse.

-Eu preciso pensar Ben. Eu não quero tomar uma decisão precipitada. Afinal de contas se trata da minha vida. Me fale mais, com detalhes, sobre a noite passada.

Ela havia planejado tudo com seu irmão, Klaus. Os amigos acharam a idéia brilhante, pois não gostavam de Richard e viram nisso uma oportunidade de se ver livre dele. Ninguém diria nada é claro. Como poderiam? Sentiam prazer nisso. E quando Klaus apresentou o plano, eles toparam na mesma hora. É claro que o grupo em nada desconfiou das segundas intenções de Klaus e assim, ele tinha nas mãos todos os negativos dessa brincadeira de mau gosto. Ela sabia que mais cedo ou mais tarde Ben iria bater-lhe à porta pedindo sua ajuda e aí ela colocaria a segunda parte do seu plano em ação: Casar-se com ele e entrar para a família rica dos Hallmanns.

Ela já conhecia a história de Ben quando ele fora pego com o outro menino tomando banho no internato. Georg a havia contado num dia quando falava sobre os podres da família e brindava com champagne dizendo que tipo de político ele seria.

Mas o que ela não sabia é que um dia ela mesma, iria tirar proveito disso em seu próprio benefício.

Desde que ela percebeu as intenções do pai de Georg em afastá-la dele, ela provaria para ele que com ela não se brincava. Que ele a teria na família a qualquer preço e que ainda lhe seria agradecido.

- FREDDY HALLMANN -

Steffany podia agora ver em sua mente a pessoa de Freddy Hallmann. Um homem rico e poderoso. Famoso por ser uma pessoa que gosta de aventuras. Mas infelizmente nenhum de seus filhos o havia puxado neste espírito aventureiro. Todos os dois filhos se revelaram um fracasso em sua consideração. Ele dissera isso a ela uma vez.

Ben, ao que tudo indicava, tinha tendências homossexuais. E Georg era o que mais se parecia com ele, mas só na ambição de ser uma notoriedade, por isso o interesse dele na carreira política. Mas na verdade era um fraco que se deixava levar pelas mulheres. Estava sempre metido em brigas e em encrencas. Ele precisava ser lapidado, ser muito bem preparado se quisesse se envolver na política.

Quando tudo parecia estar correndo às mil maravilhas. Ben chegou com essa novidade. Embora ele soubesse que a fama de Steffany pela cidade não era das melhores, pelo menos ninguém poria em dúvida a masculinidade de seu filho. Pensando bem, talvez ela fosse a pessoa certa para que Ben se acertasse na vida.

Se não tivesse sido a visita dela há duas semanas atrás, ele jamais saberia da amizade do filho com Richard.

Ela havia minuciosamente pensado em tudo e preparado tudo. Ninguém desconfiou de nada. Como poderia? Ela era perfeita em tudo que fazia.

Não, não, o casamento vinha numa hora muito propícia e se as coisas haviam acontecido assim, era porque realmente Ben tinha uma grande queda para o homossexualismo, mas estando casado as coisas poderiam ficar mais abafadas e casado com ela melhor ainda, não haveria dúvida alguma em relação a sua reputação, dissera o velho Hallmann a ela naquela tarde.

Ben nunca se interessou pelo tipo de jornalismo que seu pai vinha fazendo. Um jornalismo medíocre que dava muita ênfase a sociedade. Freddy achou que agora seria o momento certo para um acerto de contas.

-Muito bem. Vamos fazer tudo para que essa história termine da melhor maneira possível. Mas eu exijo algo e não vou abrir mão dessa vez. Você vem trabalhar comigo no jornal assim que voltar da sua lua-de-mel. - exigiu Freddy naquela ocasião e ela estava presente ouvindo tudo.

-Mas pai...

-E estamos conversados.

Quando Ben e Steffany partiram, Klaus deu um telefonema para Freddy Hallmann.

-Sr. Hallmann, aqui é Klaus Gühmann, irmão de Steffany.

-Eu sei muito bem quem o senhor é, senhor Gühmann. O que o senhor deseja?

-Não desejo nada senhor Hallmann. Mas pensei que o senhor gostaria de saber que Steffany antes de viajar me pediu para que eu pegasse todas as fotos e negativos dessa tal festinha, o senhor sabe, pois ela não gostaria de ver o nome da família manchado.

-Muito bem, e quanto o senhor e ela querem pelas fotos e pelos negativos? -perguntou Freddy friamente.

-Como já disse senhor Hallmann, eu não quero nada. Fiz só o que minha irmã pediu. As fotos e os negativos pertencem a ela.

Ela queria que Freddy soubesse o que poderia acontecer caso ele não colaborasse com ela. Ele havia entendido o recado dela. Ela não era uma mulher burra como ele havia pensado antes. Ele sabia que por causa daquelas fotos teria que comer em suas mãos. Mas esperava que não fosse por muito tempo. E foi assim que tudo aconteceu.

Ben só conhecia parte dessa história. Todo o resto pertencia a ela e Klaus.

Mas nada disso tinha agora importância.

Ela deixou o quarto. Bateu levemente na porta do escritório de Ben.

- Ainda por aqui? Vim te buscar, seus convidados te esperam. - disse Steffany.

Ben deixou o envelope ali mesmo em cima da escrivaninha e voltou para a festa, para a sua festa de aniversário. Na verdade o seu mundo só ficara colorido por um curto espaço de tempo, quando ele tinha o amor de Gabriella.

Na manhã seguinte Gabriella viu e leu nos jornais os comentários da festa na mansão dos Hallmanns. Ela também viu a foto onde o casal se beijava. Ben mentiu para ela, na verdade tudo sempre esteve bem entre ele e Steffany. Por isso, ele nunca a deixou realmente. Mas por que ele quis se envolver com ela? Por que ele quis fazê-la sofrer daquela maneira?

Ele não prestava, ele era mau. Brincara com os seus sentimentos. E isso ela não iria esquecer.