segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Capítulo 11

- ARTHUR X MARGOT -

-Alô, Arthur?

-Sim.

-Sou eu, Margot. Eu estou na cidade, precisamos nos encontrar.

-Você ficou maluca? Você está pondo a sua vida em perigo, você sabe muito bem disso.

-Sim, eu sei, mas creio que chegou a hora de termos uma conversa. Você poderia se encontrar comigo hoje à tarde?

-Agora mesmo se você quiser. Onde?

-No restaurante da galeria em Düsseldorf, lá, há uma exposição de quadros franceses, há muitas pessoas e se você estiver sendo seguido, pensarão que você estará indo ver os quadros.

-Tome cuidado.

-Tomarei.

Arthur entrou no saguão do restaurante da galeria por volta das duas da tarde. Tomou todo o cuidado em verificar se não estava sendo seguido.

Margot estava já à espera dele e bebia uma água tônica. Ela usava um vestido azul marinho com gola branca, trazia os cabelos castanhos claros preso a um coque no alto da cabeça deixando-a mais elegante. Ela ficou mais atraente com o passar dos tempos, pensou Arthur.

-Há quanto tempo minha amiga! - Seus corpos se tocaram num longo e apertado abraço.

-O que você vai querer beber? - perguntou Margot.

A garçonete se aproximou e Arthur pediu um vinho branco gelado e água mineral.

-Como você está, Margot?

-Dentro do possível, bem.

-E então, o que a trouxe ao mundo dos vivos? - perguntou Arthur enxugando o suor da testa. Ele estava realmente muito nervoso com o aparecimento súbito dela. Ela o observava, ele havia envelhecido muito nos últimos tempos, pensou Margot.

-Acalme-se Arthur.

A garçonete voltou trazendo em sua bandeja o vinho e a água, e foi embora.

-Eu vim me despedir de você, estou voltando para a minha terra antes que seja tarde demais. As coisas estão tomando uma forma muito perigosa e tudo isso mais cedo ou mais tarde vai estourar. Por outro lado eu estou apavorada, pois eu sei que eles devem estar atrás da sexta pessoa e quando me descobrirem eu não terei nenhuma chance.

-Não fale assim Margot. - pediu Arthur. - Enquanto eu puder fazer alguma coisa para protegê-la eu farei. Até agora eles nem imaginam um sexto cientista.

-Pode ser, meu amigo - falou Margot pousando as mãos carinhosamente sobre as mãos de Arthur. Na verdade eu gostaria de ter mais tempo e sentar-me com você e te contar tantas coisas que você iria gostar de saber, pensou Margot com lágrimas nos olhos. - Até agora eles não sabem nada de mim, mas Georg pode se lembrar que Freddy e eu quando éramos jovens tivemos um caso e que eu sou uma cientista. Freddy deve ter fotos minhas guardadas em algum lugar e com certeza eles vão ligar o passado com o presente e podem achar que eu o ajudei com esta coisa e sendo assim, eles devem estar agora à procura do sexto cientista e esta sou eu meu caro. Se eles me descobrem, eu sou uma pessoa morta como os outros. Você precisa contar toda verdade a Ben, alguém tem que parar com isso, Arthur. Por outro lado, eles estão tentando incriminá-lo, eu não entendo o porquê. Mas o fato é que a polícia está atrás dele. Ao menos foi isso o que andei lendo nos jornais. E isso não seria justo com Ben.

-Sim, eu sei Margot. Eu tenho feito o melhor que eu posso para livrar Ben das trapalhadas do irmão e das loucuras de Steffi.

-Você sabia que Georg e Steffany queriam usar Ben para que ele fosse suspeito no caso desses corpos?

-Não, não sabia. Pra dizer a verdade eles não me querem muito no caso, eles não confiam em mim, eles sabem que eu sempre gostei de Ben como a um filho.

-Então você precisa tomar cuidado. A qualquer momento você pode ser a próxima vítima, principalmente por saber demais, você sabe disso, não é? Agora mais do que nunca você precisa contar tudo a Ben, veja quantas vidas tudo isso já custou! Eu sei que essa não era a intenção de Freddy quando começou com essas pesquisas. Por isso, quando ele desconfiou que Georg e Steffany tinham um outro plano para o que ele queria, passou a ter cuidado com o que os cientistas estavam descobrindo. Eu creio que tanto você quanto Ben estão correndo um risco enorme.

-Vai ser uma decepção muito grande para Ben. - dizia Arthur cabisbaixo.

-Mas não temos outra escolha, Arthur. Até quando você pretende ficar calado?

-Eu sou a única pessoa em que Ben confia e imagina só quando ele descobrir que eu o usei nesta história toda com Steffany. Que eu tramei junto de Steffany a separação dele com Gabriella e que a envolvi com Markus, e que ela estava grávida de um filho dele, mas que eu nada lhe disse e tantas outras coisas sobre Georg, sobre Steffany, sobre Freddy seu pai. Eu não sei se posso, Margot. Ben já tem sofrido bastante todos esses anos.

-Você pode, e é o que você vai fazer, Arthur. Esta história já foi longe demais. E quanto à separação dele com Gabriella você não tinha muita escolha e tudo o que você fez foi pra salvar a vida dela, ele vai entender. Ben mais do que nunca lhe será grato e acreditará em tudo o que você disser. Você é a única pessoa que ele tem agora, pense bem Arthur, ele não tem mais ninguém. Com certeza Freddy sabia que mais cedo ou mais tarde você diria a Ben toda a verdade. Ele esperava isso de você, Arthur. Você precisa dizer a ele toda a verdade.

-Eu sei, eu sei, Margot, mas tudo isso não é fácil. Me falta a coragem.

-Você a terá, Arthur. Você a terá.

- E quanto a Markus?

-Pelo que sei, ele ainda não descobriu muita coisa com as informações que você deu a ele e o que sei também não ajuda para pegá-los. Precisamos de provas, Arthur. Você tem que pensar em alguma coisa.

-Foi uma pena que eu só associei a morte dos cientistas tarde demais... Até então, eu nem estava muito envolvido com a coisa.

- Isso agora não vem ao caso. Do jeito como foi feito até mesmo a polícia não encontrou pistas de um possível assassinato, somente no caso de Otto Fränkel. No momento toda a minha preocupação é com Ben. Esse pessoal já foi longe demais, alguém tem que pará-los - disse Margot com determinação.

-Você mais uma vez tem toda a razão, Margot.

-Eu andei pensando. O que você acha de um encontro meu com Ben? Eu poderia preparar o terreno pra você. Eu contaria a Ben a minha parte nesta história toda e aí você continuaria com a sua parte. O que é que você acha?

-Acho muito arriscado pra você.

-Sabe o quê? Você sabe que eu adoro riscos. Foi por isso que topei toda essa história com Freddy. Arranje um encontro meu com Ben o mais rápido possível.

Arthur agora secava com um guardanapo as palmas das mãos e a testa que suavam sem parar.

-Eu vou ver o que eu posso fazer.

-Faça logo, Arthur. Eu não posso ficar tanto tempo na cidade, você sabe.

E dizendo assim, Margot levantou-se.

-Eu telefono para você amanhã, para saber onde e a que horas vai ser este encontro.

Arthur observou-a sair, viu-a passar por entre as outras mesas e no corredor de fora se perder entre as pessoas que visitavam a exposição. Arthur passou as mãos pelos cabelos grisalhos tentando tirá-los dos olhos. Ele sabia que tinha algo muito difícil para fazer.

Ele lembrava-se muito bem do dia quando Freddy entrou em sua sala no jornal e lhe disse que Steffany, Klaus e o próprio filho Georg estavam tramando algo contra ele. Freddy estava preocupado e por isso ele fez um testamento contando tudo para Ben se caso alguma coisa lhe acontecesse.

-Eu escondi os dados, Arthur. Ninguém será capaz de encontrá-los a menos que decifre o código e para isso eu conto com a inteligência de Ben. Ele sempre foi muito bom nisso, eu tenho certeza de que ele conseguirá.

-Você tem certeza de que Steffany, Klaus e Georg estão mesmo tramando algo? Não é paranóia da sua cabeça, não Freddy?

-Nada disso, Arthur. Eu consegui interceptar um telefonema deles. Eles têm novos compradores para os dados, mas ninguém me disse nada. Eles pensam que são espertos o bastante para me passar a perna. Que estou velho, mas, na verdade, o que eu sou é uma velha raposa.

-Tome cuidado Freddy, com essa gente não se brinca.

-Eu sei.

Arthur agora de olhos fechados relembrava essa conversa. Muitas foram às noites onde ele tivera verdadeiros pesadelos por causa dessa história toda.

Como ele gostaria de se ver livre de tudo isso. Sentia-se cansado e solitário, mas parecia que à medida que o tempo passava, ele se via cada vez mais envolvido. Como gostaria de poder rir livremente como qualquer outra pessoa. Mas sabia que era tarde demais para tirar o corpo fora. Agora, mais do que nunca, precisava ir até o fim. Ele também sabia que tudo isso poderia custar-lhe a vida. Mas o que era a sua vida desde que Melanie morreu? Ela não era mais nada.

Arthur sentia-se pesado, parecia que trazia nas costas o peso do mundo inteiro.

Embora ele tivesse tomado todo o cuidado de não se deixar seguir, Klaus Gühmann tinha muito mais experiência do que ele e desde que Arthur entrara naquele local, ele passou a fotografar todos quanto entravam e saíam de lá. Quem sabe Georg ao ver as fotos poderia reconhecer alguém, pensou ele. Tudo do que eu preciso é de um pouquinho de sorte.

******

- MONIKA STAHL -

Kling andou fazendo um levantamento das pessoas mais famosas e peritas em explosivos por toda a Europa. Mas recebeu uma lista tão grande que ele precisaria se multiplicar em dez para dar conta. Terminantemente esse não seria um bom caminho para seguir, mas também não iria descartar essa possibilidade. Com certeza se eles descobrissem alguma coisa relacionada, eles poderiam, no final de tudo, se é que eles iriam desta vez chegar ao final de tudo isso, concentrar-se e achar um denominador comum. O que no momento era impossível. Por isso, Teuscher pediu a Monika Stahl, uma profissional muito boa para que descobrisse qualquer semelhança, qualquer relação com algum tipo de explosivos nos últimos dez anos. A lista com os nomes eles já tinham, mas tudo era tão denso e confuso.

Monika Stahl era uma mulher jovem, de pele muito clara e magra com os cabelos curtos com as pontas pintadas em vermelho. Usava óculos de forma quadrada com aros esverdeados o que a deixava com um rosto engraçado. Vestia sempre calça jeans muito desbotada e rasgada na perna e no traseiro. Os colegas de trabalho tinham a impressão que ela só trocava de blusa. Mas em relação ao seu profissionalismo, deixava muitos que vinham trabalhar de terno e gravata, uns engomadinhos por sinal, de queixo caído.

Por outro lado, Teuscher sabia que Kling ainda não havia tido tempo para investigar que tipo de barco estava tatuado em cada corpo encontrado.

Kling havia ampliado o desenho do barco e partiu para o centro de pesquisa de Geografia e História em Düsseldorf.

-Em que posso ser-lhe útil, senhor? - perguntou o homem que estava sentado a uma mesa atrás de um computador. Ele tinha o rosto pequeno e os dentes para fora, usava um óculos arredondado de fundo de garrafa, os cabelos bem oleosos, dando uma impressão pegajosa. Kling tinha a impressão de que o homem não tomava banho todos os dias. Ele apresentou sua credencial de policial.

-Eu procuro algo parecido com este desenho. - disse Kling mostrando-lhe o desenho.

O homem se dirigiu ao computador apertou algumas teclas e depois conduziu Kling para uma sala e lhe trouxe alguns livros antigos, grandes e pesados. Estes volumes devem ser uma relíquia histórica pensou Kling.

-Eu sinto muito senhor, mas infelizmente não temos tudo computadorizado.

Depois de quase 3 horas que estava ali, Kling descobriu um barco bem parecido. Era uma embarcação grega.

-Sim, é isso mesmo, veja a ponta do barco, parece ter a figura de um cavalo marinho. - Pensou Kling. Mas será que ele não estava enganado ao tentar reproduzir o desenho? Ele precisaria ver novamente as fotos que foram tiradas da tatuagem.

Kling sequer sentiu que o tempo passou tão rapidamente e quando deu por si eles já estavam fechando a biblioteca, ele precisava se apressar para fazer cópias das navegações que ele achava que tinha algum relacionamento com as tatuagens dos corpos. O homem que o ajudara trazendo os livros lhe perguntou se ele havia encontrado o que estava procurando. Kling numa última esperança apresentou as cópias que fizera e colocou-as lado a lado do desenho do barco que ele trouxe a fim de que o homem pudesse fazer uma comparação ou uma valorização do material que havia coletado. O homem olhou tudo com grande interesse.

-Trata-se de um barco grego, com toda a certeza.

- O que o leva a pensar assim, senhor? - perguntou Kling.

-Por causa da carranca que vem à frente, essa prática era muito comum entre os gregos.

-Mitologia, o senhor diria assim?

-Sim, são histórias que o povo conta e se elas aconteceram realmente é uma icógnita. Tudo faz parte da história graga, o mundo daquela época pertenciam a eles.

-O senhor acredita em Mitologia? – perguntou Kling curioso.

-Eu acredito em tudo meu rapaz. Já vivi tempo bastante para acreditar em tudo isso que está aí - Falou apontando para os livros. - Posso saber para que tanto interesse em barcos antigos?

-Faz parte do meu trabalho, senhor.

- Entendo, deixe-me esclarecer entao um pedaço dessa história da mitologia. - continuou o homem a falar sem fazer pausa. - Poseidon era considerado o deus dos mares, era ele quem reinava sobre os oceanos e as tempestades. O mar foi um elemento muito importante para o desenvolvimento da Grécia. A Grécia por si só é a mãe, é o berço onde dorme a mitologia. Também os gregos são conhecidos pelos jogos, eles gostavam muito de jogar. Outra coisa também comum entre eles é que são um povo muito festivo e gostam de cantar e dançar. Os gregos são famosos por serem atléticos, por amarem o que é belo. A beleza do corpo para o grego era fundamental. Eles jamais poderiam imaginar alguém belo sendo deficiente, mas também o intelecto, a inteligência precisava sobressair…

Kling já estava cansado de ouvir o contador de histórias e deu um jeito de logo sair dali. Ele ainda andou sem rumo pelas ruas adjacentes à biblioteca, ele não estava satisfeito com o que havia conseguido, ele não fizera muito progresso, mas ele iria deixar para o inspetor Teuscher decidir. Mas uma coisa que o homem da biblioteca lhe contou lhe chamou a atencao: Os gregos se preocupavam com o belo, em ser belos, nao admitiam deficientes.

Kling nao sabia dizer ao certo porque essa frase tinha lhe chamado tanta atencao. Acendeu seu cigarro, tirou do bolso seu caderninho e anotou exatamente esta frase.