segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Capítulo 8

- IGOR X TEUSCHER -

A foto do corpo dilacerado encontrado à beira do mar em Den Haag foi manchete em todos os jornais holandeses naquela mesma manhã, alguém havia passado as fotos adiante. Os jornais ainda acusavam a polícia de esconder o caso, o que agravou ainda mais a situação de pânico na cidade.

Os jornais diziam se tratar de um grupo de alta periculosidade e que no mês anterior um assassino super perigoso havia fugido da prisão e que a polícia estava tratando do caso a portas fechadas. O assassino havia jurado se vingar quando fugisse daquele inferno. “Por que será que a polícia escondera o fato da população?”, perguntava o jornal. Com certeza, este assassino já havia começado o que ele prometera fazer: Vingar-se do povo.

A manchete do jornal alertava a população de que se tratava de um maníaco ou talvez até de um grupo de extermínio, que além de assaltar, cortava-lhes os dedos das mãos e arrancava-lhes os dentes possivelmente com ouro e para finalizar estupravam a vítima.

As manchetes alertavam que mulheres de certa idade deveriam ficar atentas ao saírem sozinhas e principalmente à noite, pois estas eram suas vítimas preferidas.

Outros jornais ainda deram o número do telefone especial da polícia, caso alguém tivesse algum suspeito ou achasse alguma coisa diferente do que o normal, elas poderiam telefonar e manter-se no anonimato, se assim desejassem.

O alarme foi geral. Tudo o que os jornais queriam era mais uma notícia explosiva. Com isso, a polícia holandesa passou a ter sérios problemas de chamadas falsas. Os telefones das delegacias não paravam de tocar, e como se isso não bastasse, até mesmo o telefone do corpo de bombeiros passou a ser alvo da população em pânico. Até aqueles locais onde só existiam vilas, agora a polícia tinha que visitar para a segurança dos moradores.

A polícia estava nas ruas durante as vinte e quatro horas do dia e houve um desgaste muito grande. As pessoas não agiam mais normalmente, andavam assustadas, com portas trancadas e já não davam sequer uma informação quando solicitadas por algum estranho.

A polícia holandesa requisitou junto à central telefônica, ramais especiais para essas chamadas. Eles não tinham mais paz para fazer as coisas normais do dia a dia.

Um outro jornal mais eloqüente ainda escreveu que se tratava de um maníaco assassino em alto grau e fez comparações com maníacos que outros países têm como Rick West, na Inglaterra que já tinha matado mais de doze mulheres e meninas e que a polícia ainda não o havia prendido, como Johnny Dahmer, nos Estados Unidos que no ano anterior havia matado mais de dezessete rapazes e comido os órgãos das vítimas.

A manchete ainda dizia que esses maníacos haviam invadido o país e que a polícia precisava fazer alguma coisa. Mas ela mesma não tinha nenhuma pista para seguir neste caso. Com todo este pânico espalhado pela cidade, todo o trabalho da polícia ficou dificultado.

Teuscher, desde menino, havia decido ser inspetor como o pai. Por causa disso teve que carregar durante muito tempo a chacota dos colegas de ser chamado o filho do inspetor Sebastian Teuscher. Esta sombra o perseguiu por mais de cinco anos quando Peter Andreas Teuscher, passou a ser respeitado como tal.

O modo como ele resolvera o caso das mortes na montanha em Triberg que fica na floresta negra, Schwarzwald, deu a Peter Teuscher prestígio. A partir daquele dia ele passou a ter nome próprio. Conquistou o respeito dos colegas de trabalho, e os comentários passaram a ser diferentes diziam que ele tinha faro pra coisa.

Teuscher não é um homem alto, como se pensa dos alemães. Tem estatura em torno de 1,60 m, usa cavanhaque, tem olhos castanhos e cabelos grisalhos. É um homem duro consigo mesmo, não descansa enquanto não resolve o caso por inteiro.

É muito bem casado e desde que conheceu sua esposa ficou logo apaixonado por ela. Desse casamento nasceram-lhe dois filhos e se não fosse a mulher maravilhosa que ele tinha em casa ele não poderia ter uma carreira bem sucedida. Sempre dizia que um bom profissional não tem tempo de resolver problemas em casa.

Seu maior sonho era aposentar-se e ir morar em Cuxhaven, região que fica ao norte da Alemanha. Para ele, é o local mais bonito do seu país. Ele adora ir para lá quando consegue tirar férias das suas funções de inspetor, principalmente na época das corridas a cavalos que são feitas mar à dentro. O mar evacua por algumas horas. Enquanto se dá o ebbe, a evacuação das águas, os visitantes alugam carroças tipicamente ornamentadas, e tanto os cavaleiros quanto os cocheiros se vestem a rigor no estilo do século XVI, e fazem corridas mar à dentro. Trata-se de uma verdadeira apreciação para os olhos, para a alma, e para aqueles que estão em férias no local. Os planos de Teuscher eram de passar o dia ali, pegando um pouquinho de sol, caminhar pela areia, ir pescar, jogar cartas com os amigos que certamente ele faria. Nos domingos iria beber cerveja e velejaria no seu catamarã cor de laranja e levaria os netos para tomar sorvete com o vovô aposentado. Ele babava só de pensar nessas coisas.

O telefone continuava tocando e ele foi arrancado dos seus sonhos….

-Alô!

-Teuscher, é Kling. Seu amigo, o doutor Schneider, tentou ligar para você, mas não conseguiu. Ele quer nos ver. Diz que tem novidades sobre o caso. E que as informações ele só passa adiante quando você chegar. Ele está te esperando na delegacia.

-Está certo, estou a caminho, nos encontraremos lá.

Poucos minutos depois...

-Bom dia!!! E então Igor? Quais são as novidades? - perguntou Teuscher.

- Bem... eu ainda não pude fazer uma comparação detalhada dos outros casos, porque os laudos médicos só recebi ontem no final da noite. Mas pelo que pude comparar com as minhas análises, vejo que o trabalho dos meus colegas bate com as minhas observações, salvo algumas exceções. Chegamos à conclusão de que todas as vítimas têm características muito parecidas. Isto é, têm em torno da mesma idade, entre 19 à 21anos.

- Como é que é? Entre 19 e 21 anos? Como isso é possível, eu vi seu rosto envelhecido.

- É meu amigo, neste caso temos que estudar o envelhecimento precoce que se deu a cada um desses corpos. E tem mais coisa, escute. Ao que tudo indica eles tiveram pressa em congelá-la.

- Explique-se melhor, senhor Schneider. - pediu o chefe do departamento que até agora estivera calado.

-É como se eles tivessem uma data marcada para que todos os corpos fossem despachados numa mesma noite. Veja bem, o corpo encontrado aqui em Düsseldorf me leva a crer que foi morto há coisa de uns quinze dias. Mas para que eu tenha absoluta certeza disso, preciso de mais tempo para as minhas pesquisas. Enquanto que o laudo dos outros patologistas dizem que o corpo que eles têm alguns já têm meses. Precisamos de mais um pouco de tempo, Teuscher. E isso não é tudo, não, tenho mais novidades, segura essa meu amigo. Os corpos encontrados não são de mulheres, “elas” são todas do sexo MAS-CU-LI-NO. - frisou Igor ao dizer que sexo as vítimas tinham.

- Como é que é? Homens? - interrompeu Teuscher.

-Isso mesmo, eram todos homens, ou melhor dizendo: são todos homens.

-Nós já estávamos assustados o suficiente porque os corpos não tinham vagina e como se explica isso Igor?

-Pois é meu amigo, em mais de trinta anos de profissão jamais deparei com algo tão, tão fenomenal. - disse Igor procurando as palavras.

- É exatamente o que acabo de pensar. - falou Teuscher. - Isto é o fim do mundo!

-Não se trata de travestis, doutor? - perguntou Kling. Pela expressão do seu rosto, ninguém podia saber ao certo se ele perguntava a sério ou se fazia mais uma de suas brincadeiras.

-Não, com toda a certeza do mundo não se trata de travesti. Meus relatórios dizem que este corpo sofreu alterações genéticas e por algum motivo ainda não conhecido, não deu certo.

-Você acha que alguém estaria fazendo novos experimentos? Uma nova ciência? - perguntou Teuscher segurando o queixo com uma das mãos.

-Pra ser sincero, eu sequer poderia afirmar que isso recebe o nome de ciência, o que me leva a pensar é que alguma coisa não saiu bem. - respondeu Igor. - É claro que já li muita coisa sobre o assunto, mas em se tratando de pessoas, pelo que sei isso ainda é proibido. Embora eu saiba que um médico especialista na Itália vem tentando esse processo, mas sem resultados ainda positivos. Vocês podem imaginar o susto que levei quando abri o tórax de cima a baixo, e observei que os órgãos de dentro eram masculinos? Veja bem. Embora o corpo apresentasse órgãos masculinos, como já falei, eles estavam todos atrofiados.

-Como assim Igor, atrofiados? - perguntou Teuscher de supetão. Ele estava particularmente inquieto. E fazia anotacoes em seu caderninho sem parar.

-É como se no meio de tudo isso alguém tivesse desligado a máquina na hora da operação, ou que os dados que usaram não deu certo, ou então tudo isso ainda é muito novo e eles estão à procura do caminho certo. Mas o que mais me parece é que o processo de metamorfose foi interrompido.

-Santo Deus, com todos os demônios! - Kling comentou boquiaberto.

-E essas pessoas foram usadas como cobaias ou o quê?! Será que elas ou eles sabiam o que as esperavam? - perguntou Teuscher.

-Tudo indica que todas foram mortas do mesmo jeito e pela mesma pessoa. Somente a mesma pessoa poderia tê-las executado dessa forma. Se um outro fizesse isso, com certeza teria uma outra característica e deixaria rastros. Posso chegar a afirmar que tudo foi meticulosamente planejado, isso dá pra perceber claramente.

-Você tem certeza do que você está dizendo, Dr. Schneider? - perguntou o chefe do departamento.

-Quase 100% de certeza. Amanhã estarei embarcando para a Suíça para constatar de perto tudo isso.

-Eu vou junto, quero estar lá para ver o andamento de tudo isso.- disse Teuscher. - O chefe do departamento aprovou a decisão de Teuscher.

-Depois pretendo viajar para ver os outros corpos também e só então poderei ter uma base melhor para minha colocação sobre os fatos e possivelmente passá-las para vocês. - disse Igor.

- O que eu me pergunto, é como a mesma pessoa poderia estar em outros lugares tão diferentes e ao mesmo tempo? - perguntou Kling.

-Na verdade Kling, elas foram mortas e congeladas para que os corpos não entrassem em decomposição. - esclareceu Igor.

-Quanto ao despacho dos corpos é claro que se trata de muitas pessoas envolvidas e elas foram usadas para despachar os presuntos. - disse Teuscher coçando a orelha esquerda, um velho cacoete, desde que começou a pensar sobre os casos que tinha a resolver.

-Isso me cheira a desova. - comentou Kling.

-Parece até que precisavam dos lugares vazios para colocar novos corpos nos lugares, entende? - falou Igor Schneider olhando para Teuscher.

-E pra quê? - perguntou Kling.

-Com certeza para novos testes. - disse Igor.

-Meu Deus! Precisamos desvendar esse caso antes que eles façam mais vítimas. - disse Teuscher revoltado.

-Isso é com você amigo, a minha causa é a patologia. - respondeu Igor.

-Muito engraçadinho! - Às vezes, eles voltavam ao tempo de escola. Falou Teuscher preocupado com essas revelações. - Continue, continue. Ordenou ele.

-A pergunta é: O quê cada um tinha em comum para que dessem a eles mortes tão idênticas? - Foi a indagação de Igor.

Alguém bateu à porta.

-Entre - ordenou o chefe do departamento.

Um homem baixo e gordo entrou. Era Sadler, ele se dirigiu a Teuscher.

-Esse fax acabou de chegar pra você, inspetor.

-Obrigado, Sadler. É de Robert, o meu amigo que trabalha na Holanda.

Teuscher imediatamente começou a ler a mensagem.

-Nada poderia ser pior.

-O que aconteceu? Mais um corpo foi encontrado? - perguntou o chefe do departamento.

-Nada disso. A notícia vazou na Holanda e da pior maneira. Falam em maníacos.

-E será que não se trata disso, de um maníaco? - falou Kling.

-Só se for um maníaco muito bem letrado. É meu jovem, porque o que temos aqui são pessoas altamente gabaritadas.

-Como assim? - Teuscher queria entender onde Igor queria chegar.

-Cientistas meu caro, cientistas!

Ao ouvir a palavra cientista, foi como se alguém acendesse uma luz em um quarto escuro na cabeça de Teuscher e ele voltou no tempo rapidamente.

-Espera aí. - pensou Teuscher rapidamente com os seus botões. - Será que a morte do cientista Fränkel não teria nada a ver com isso?

-Tudo é possível, Teuscher.

-Na verdade seria um risco grande deixar essas pessoas vivas e principalmente se elas não quisessem mais trabalhar nesses experimentos. Sendo assim a melhor solução seria o extermínio de todos os envolvidos.- disse Teuscher pensativo.

-Eu ainda não acabei. - disse Igor Schneider.

- Tem mais alguma coisa? - perguntou Teuscher.

-Sim, no corpo da mulher, na altura da nuca tem um barco antigo tatuado. Uma caravela, para ser mais exato. - afirmou Igor.

Teuscher entreolhou-se com Kling. Eles se lembraram ao mesmo tempo do que viram no escritório de Benjamin Hallmann.

-Kling, veja se há na cidade algum expert em tatuagem. - ordenou o chefe do departamento.

-Chefe, tenho um tio que foi marinheiro, ele agora é aposentado e conhece bem o assunto de tatuagem. Posso ter uma permissão de ir com ele no Instituto Médico Legal para ver essa tatuagem?

-E onde ele vive?

- Há uma hora e meia daqui, chefe.

-Se ele pode ajudar, sim, faca logo o contato. Senão, providencie uma outra pessoa.

-Farei isso imediatamente, chefe.

- Eu preciso voltar para o meu corpo. Ele me espera. - disse Igor.

-Teuscher viaja com você amanhã para a Suíça. Vou mandar providenciar os vôos para os dois. - disse o chefe do departamento.

-Kling, ligue para seu tio e procure saber quando ele chega? Quero que seja o mais rápido possível. - perguntou Igor.

-Vou ligar para ele e iremos ainda hoje.

-Certo. Quero que Teuscher esteja presente também. E enquanto Teuscher estiver fora quero que você faca um levantamento de quantos cientistas morreram nos últimos cinco anos e procure saber o porquê. - ordenou o chefe do Departamento.

-Nos últimos cinco anos, chefe?

-Sim, não quero nenhuma margem de erro.

-Trarei o maior número de informações possíveis, chefe.

-E assim cada um tinha muito o que fazer. Se eles estavam na direção certa, isso era outra coisa.

******


Era quase o final do dia quando Teuscher, Kling e seu tio chegaram ao Instituto Médico Legal.

-Pensei que vocês não viessem mais. - reclamou Igor.

-Estamos aqui. Pode nos mostrar a tatuagem, Igor? - pediu Teuscher.

-O desenho não é muito comum em se tratando de uma mulher. - comentou o tio de Kling.

-O que você entende sobre tatuagem, senhor...? - perguntou Teuscher.

-Becker.

-Sei muita coisa. Posso dizer que quase a minha vida passei tatuando as pessoas por algum motivo que elas achavam óbvio.

-Então me fale um pouco sobre o que o senhor sabe. - pediu Teuscher já abrindo o seu caderninho de anotações.

-Eu sei por exemplo que as tatuagens são de origem da polinésia, se chama To-Tatu, e que a palavra tatuagem significa desenho. Os desenhos representam grupos ou mesmo partes da vida privada de cada um.

-Como assim, senhor Becker, explique-se melhor? - pediu Teuscher.

-As tatuagens são sinais de identidades, pois podem indicar a vida passada da pessoa, seus costumes, sua profissão e até mesmo as suas vidas sexuais podem ser representadas por tatuagens.

-Custo a crer no que eu estou ouvindo. - disse Kling.

-Mas pode acreditar que é assim, meu caro sobrinho. A bordo do navio aqueles que eram gays, eles se deixavam tatuar no pênis uma bota.

Teuscher fez uma cara de dor e Kling riu.

-Também os criminosos ficaram famosos e impõem respeito por serem reconhecidos por suas tatuagens. - continuou senhor Becker. - O desenho impresso na pele avisa o grau de periculosidade que aquele criminoso representa.

-Isso eu já sabia. E o que será que representa esse desenho impresso na morta?

- Trata-se de uma embarcação antiga. Essa pessoa podia fazer parte de um clube de regatas. Ter paixão por embarcações antigas.

-E o que mais o senhor poderia me acrescentar? - perguntou Teuscher nada satisfeito com as explicações que recebeu.

-Não muita coisa. Talvez na biblioteca da cidade, Kling, pudéssemos achar mais alguma coisa relacionada com o desenho dessa embarcação. É um tipo bem antigo.- respondeu o homem.

-Muito obrigada, senhor Becker.

-Sinto muito não ter sido de grande ajuda. Mas uma caravela tatuada não é muito comum de se encontrar.

-Posso imaginar, tio.

- Bem..., por hoje é só. - disse Teuscher desanimado.

- Vamos tio, eu te levo para o hotel, já é tarde e está muito frio.


******

- KLAUS GÜHMANN -

Klaus Gühmann estava sentado com muitas mulheres bonitas no bar.

O lugar estava cheio de fumaça, elas o agarravam e o beijavam na boca.

Ele estava pagando as bebidas, ele queria brindar o sucesso do fim daquela operação de risco:

O sumiço dos corpos.

Não havia sido fácil, pensou. Um peso enorme havia saído das suas costas.

A polícia até agora deveria estar se perguntando o que era aquilo que eles encontraram. Ele sorria com esses pensamentos.

Foi por isso que Steffany deu ordens para que os corpos fossem jogados em lugares de muito movimento, de preferência em lugares públicos e turísticos, assim seria a polícia quem iria querer esconder os corpos e não nós, disse ela entre risos. Ela tinha cabeça, ela sabia pensar, ela era demais! Também deve ter puxado o irmãozinho aqui - pensou Klaus.

O caso das mortes dos cientistas também estava quase chegando ao fim. Ninguém iria ligar uma coisa a outra. Tudo foi muito bem planejado. Pensava Klaus enquanto todas aquelas mulheres da noite o beijavam. Outras dançavam nuas em cima de um pequeno palco e até mesmo em cima da mesa dele.

Klaus era um homem bonito, de cabelos louros e olhos azuis, como é a maioria dos alemães. Tinha uma boa altura, um corpo musculoso e as mulheres ficavam doidas com toda aquela musculatura. Mas ele se interessava muito mais em relacionamentos como o que tivera com Clóvis. Ele havia sido a sua grande paixão. Pena que teve que morrer. Pensou Klaus amargurado.

Já era tarde quando ele saiu daquele cabaré.

Lá fora o frio transpassava o corpo mal coberto pela jaqueta de couro. Ele cambaleava um pouco por causa da bebida, estava sozinho, ele não queria ouvir mais as vozes irritantes daquelas mulheres, que mais pareciam um bando de araras.

Caminhava pelas ruas escuras, parou em frente a uma pilastra e ali abriu o zíper da calça de couro preta e urinou com prazer. Foi quando achou que estava sendo observado, mais que depressa apertou o passo para certificar, se estava sendo seguido ou não. Agora ele tinha absoluta certeza de que alguém o seguia.

Xingou a si mesmo por ter estacionado o carro tão distante dali. Ele tinha vantagem sobre a pessoa que o estava seguindo, pois estava muito mais à frente, e não se deixaria apanhar.

Klaus apesar do porte atlético que tinha, se sentia cansado, tanto pela grande dosagem de álcool que bebera naquela noite, quanto por causa do frio que fazia e assim dificultava-lhe a respiração e mais ainda porque já há dois dias e duas noites que mal dormia. Seu corpo estava extremamente cansado, e se não fosse a droga que ele havia tomado, com certeza ele não teria forças para correr neste momento.

-Sheisse! Merda!

Ele viu que as ruas vizinhas estavam vazias, e certamente a escuridão da noite o estaria protegendo seja lá de quem o estivesse seguindo, rapidamente abaixou-se, levantou a perna da calça do lado esquerdo e passou a mão na canela e retirou de lá uma arma em miniatura, mas muito possante que ele trazia ali sempre escondida para uma emergência como agora.

Apesar do frio que cortava à noite, ele estava suando, pois o sangue começava a ferver-lhe nas veias ou seria o álcool que bebera que estava evaporando? Por outro lado ele se perguntava quem seria o louco de tentar segui-lo? Se ele ficasse sabendo de quem se tratava, essa pessoa estaria liquidada.

Klaus estava agora na metade da rua que o levaria até o carro, ele olhou para trás e numa fúria repentina e assassina ele começou a atirar na direção da pessoa que o seguia.

A pessoa recuou, protegendo-se atrás de uma pilastra de um dos edifícios.

Markus Krämer queria somente assustá-lo, queria deixá-lo amedrontado, queria que ele soubesse que havia alguém no encalço dele e que tomasse cuidado.

A chuva tornou-se forte à medida que Klaus se aproximava do carro estacionado na Ratingerstrasse.

Markus pôde ver como Klaus corria pelas ruas e de como ele ainda de longe acionou a chave automática fazendo abrir a porta do seu Mercedes e nele entrara e dera partida o mais rápido que pôde.

Markus não tinha dúvidas nenhuma, ele o havia assustado.

Klaus dirigia com muita rapidez, apesar de agora se sentir protegido por estar dentro do carro, sua respiração estava totalmente descompassada e ele estava morto de cansaço. Ele saiu em disparada da Altstadt, tomou a direção dos arcos da Maximiliann Weyhe Allee, e na altura do Hofgarten no sinal do cruzamento da Kaiserstrasse com a Jägerhofstrasse, ele dobrou à direita, subiu o pequeno viaduto da Jan Wellen Platz e de lá seguiu numa velocidade vertiginosa saindo na Berliner Allee. Seu plano era passar por Düsseldorf o mais rápido possível, por isso nem parava nos sinais vermelhos dos cruzamentos por onde a rua cortava. Na altura do cruzamento da Graf Adolfstrasse, quase provocou um acidente com o outro carro que vinha desta rua. Acelerou o quanto pôde para evitar o acidente e seguiu a Cornelliusstrasse tomando a direção da Uniklink e de lá pegou a auto-estrada. Ali sim, ele estaria seguro até chegar em seu apartamento em Leverkusen.

-Quem seria o desgraçado que estaria me seguindo? - pensou.

Klaus estava assustado, ele não gostava muito de perder o controle da situação e nesse caso ele não estava gostando nada, nada. Mas também sabia de mais alguém que não iria gostar disso... Mas ele nada diria a Steffany até descobrir quem o estava seguindo.

-Você vai se arrepender de ter nascido, ou eu não me chamo Klaus Gühmann.

Teuscher e Igor Schneider passaram cinco dias viajando pra lá e pra cá em busca de provas e respostas para as suas perguntas. Eles passavam horas e horas em cima dos relatórios policiais e dos laudos médicos. Por mais que lessem e relessem, não conseguiam descobrir nada que pudesse responder suas perguntas.

Igor Schneider recebeu uma equipe para ajudá-lo nas verificações. Seus colegas haviam feito um trabalho muito bom, pois eles também eram peritos no assunto.

Teuscher por sua vez, visitava os escritórios dos colegas e trocava informações para que pudessem dar continuidade ao trabalho, mas nada que eles disseram, pôde ser acrescentado como uma boa informação. Não havia absolutamente nada novo.

Teuscher anotava tudo o que podia, pois depois queria minuciosamente reler com calma as suas anotações. No momento, ele estava possesso de raiva por ver que a luz que ele imaginou ver no final do túnel havia se apagado.

Então todos tinham morrido por uma mesma pessoa, isso não restavam mais dúvidas para Teuscher. Ele tinha a impressão que as vítimas não tinham sido assassinadas aleatoriamente. Ali havia o dedo de pessoas altas, gente de dinheiro.

Mas nada fora encontrado nos arquivos e nem nos computadores da polícia. Eles trabalhavam dia e noite sem parar, buscando qualquer informação para este caso, mas não haviam conseguido qualquer indicação com o corpo encontrado. Até mesmo a Interpol não tinha melhores informações que eles.

Ninguém havia dado queixa pelo sumiço dessas pessoas. A polícia trabalhava vinte e quatro horas para localizar alguma pista referente às vítimas, mas, até agora, nada. O mais absurdo era que ninguém fizera contacto reclamando o desaparecimento de um jovem. Todos estavam na estaca zero sobre este caso e todos estavam igualmente estarrecidos com esse tipo de brutalidade jamais vista.

- Preciso descobrir o quanto antes quem anda por trás de tudo isso. - pensava Teuscher. - Mas por onde seguir?

Eram três e vinte cinco da madrugada da véspera do dia em que eles teriam que voltar à Alemanha. Teuscher não conseguia dormir, ele rolava de um lado para o outro na cama. Por fim resolveu levantar-se e observar da janela o rio Danúbio que corria com suas águas silenciosas. Eles estavam em Linz, na Áustria. Ele não podia deixar de pensar que a poucos metros dali um corpo fora encontrado morto e que ninguém sabia explicar como. A mesma coisa na Alemanha, na Holanda, e na Suíça.

-Es ist alles Sheisse! Isso tudo é uma merda só! - Dizia Teuscher acendendo seu cachimbo. Ele dizia que fumar cachimbo o ajudava a pensar. Foi até o bar que tinha em seu próprio quarto e preparou uma dose de Black Label, isso talvez o ajudasse a clarear melhor as idéias e se não, ao menos serviria para ajudar a descontrair.

Ele não se conformava de ter que voltar para a Alemanha sem nada novo nas mãos para este caso. Haviam caminhado, mas não chegaram a lugar algum. Essa era a conclusão a que ele chegava, mas também ninguém podia dizer que eles não tentaram.

A merda toda era que sempre alguns engraçadinhos viviam dizendo que numa viagem assim na verdade o inspetor fazia férias em vez de apresentar trabalho. Que freqüentava os restaurantes, que freqüentava as saunas nos hotéis e tomava o melhor whisky que lá tinha.

Por pensar em whisky ele olhou para o copo que tinha nas mãos e viu que estava vazio, precisava de uma nova dose.

-Que falem o que quiserem, eu vou beber é a garrafa toda e se reclamarem alguma coisa eu pago.

É claro que Teuscher não bebeu a garrafa toda, já na terceira dose ele dormia profundamente, como um bebê.