Naquela madrugada, Klaus conseguiu fugir ajudado por Jochen Sadler e agentes disfarçados de policiais.
Ele podia apostar que Steffany estaria na ilha com Georg e Karin até que chegasse o dia da transação. Ele ainda não sabia o que tinha acontecido na ilha.
Um dos agentes passou para Klaus um celular que não era o dele.
- Você deve ligar para “ele”. - disse o homem.
Imediatamente Klaus completou a ligação. Ele sabia que não podia ficar de bobeira por ai e nem perder muito tempo. Ele tinha que sair de circulação, pois a polícia com certeza já deveria ter descoberto a sua fuga.
- Georg, é Klaus. Eu consegui fugir, deu tudo certo.
- Klaus! Que bom ouvir sua voz. Ótimo que a operação de fuga deu certo.
- Onde vocês estão? Na ilha?
- Não nada disso. As coisas não saíram como nós planejamos e por isso tivemos que usar o plano “BO”. - disse Georg.
Klaus não podia entender como alguma coisa poderia ter saído errado.
A mensagem de Georg tinha sido clara. Ele não poderia usar seu apartamento para pegar alguma coisa por lá e tão pouco ir para o laboratório subterrâneo do jornal de Ben. Ele podia de longe farejar que na redação e pelas ruas adjacentes aquele lugar deveria estar fervilhando de policiais. Aquele inspetor maldito estava chegando perto demais dos fatos, pensou Klaus.
Ele seguiu imediatamente para o aeroporto de Colônia na intenção de pegar o helicóptero de Georg que ficava estacionado num dos galpões do aeroporto. Mas ao chegar lá ele percebeu que o helicóptero não estava, certamente Steffany deveria ter seguido nele, foi o que ele pensou. Mais que depressa ele tomou a direção que o levaria à Bottrop.
Ao chegar Klaus ficou sabendo do que havia acontecido.
-Scheisse! Isso não poderia ter acontecido de jeito nenhum. Pelo jeito ela não era tão boba assim como todos nós pensávamos - explodiu Klaus. - E até onde será que ela sabe? Como ela conseguiu fugir desse jeito? E vocês o que é que estavam fazendo? - Klaus estava indignado com a situação.
-Até onde ela sabe, isso nós não sabemos, o que nós deduzimos é que ela ouviu ontem à tarde a minha conversa com Steffany ou parte dessa conversa e descobriu quem nós somos na verdade.
-Aquela desgraçada não tem nada de boba. Nós ficamos presos na ilha até o dia seguinte quando Jacob descobriu que Karin não estivera no hospital da cidade. Então ele veio logo para cá.
-E vocês não contactaram com nenhum dos nossos homens? Para avisar da fuga dela? Com certeza ela se escondeu nos pais. - disse Klaus furioso.
-Ela não apareceu por lá. Nós ligamos.
-Merda! E se ela foi direto para Ben contar tudo o que sabe? Ou para a polícia?
-Nós esperamos que a sorte não tenha nos abandonado dessa maneira. Seja lá como for, se ela fez contato com ele, nós vamos ficar sabendo.
-Não se esqueça meu caro Georg que ela está agora numa posição de vantagem. - comentou Klaus pensativo.
-Tudo o que ficamos sabendo é que Ben os visitou.
-E nossos homens o pegaram?
-Dei ordens de não fazê-lo.
-Mas por que não?
-Nós queremos chegar até Karin com o menino, não é?
-Mas isso ainda não é tudo.
-Tem mais? Bastou eu ficar algumas horas preso, para que tudo isso acontecesse?
-O pior de tudo isso, é que nós perdemos o contato, pois alguma coisa na casa do velho Austrin foi descoberto e o pessoal que estava vigiando a casa não conseguiu ouvir mais nada. - Klaus não gostou nada das novidades.
-Ela não perdeu tempo, então os velhos já estão sabendo de tudo. - comentou Klaus. Acho que vou ter que fazer um servicinho extra. - falou Klaus já pensando que deveria eliminá-los.
-Por enquanto não Klaus, pois todo o cuidado é pouco e por outro lado eles são o nosso único contato para chegarmos até Karin e o menino.
As coisas estavam ficando difíceis e fugindo do controle deles. Eles estavam indignados e de mau humor. Primeiro o atentado da morte de Gabriella não deu certo. Segundo eles ainda não tinham os dados com eles e tinham um encontro com as duas partes que estavam indóceis para recebê-los. Ben, por outro lado já deveria estar ligando todos os fatos e se ele e Karin se encontrassem, eles poderiam dizer adeus para tudo isso, pois eles não tinham mais o menino para chantageá-lo.
E certamente conhecendo Karin e Ben do jeito que ele os conhecia, ele sabia perfeitamente que eles iriam direto para a polícia. E a polícia não precisaria de muito esforço para acreditar na história deles e sendo assim eles estariam encrencados para o resto de seus dias. Toda essa história não poderia ficar assim, alguma coisa teria que acontecer a favor deles. Pensava Klaus agora.
-Eu preciso ir pra casa. A polícia e nem ninguém tem provas contra mim - falou Steffany - Quanto a vocês dois é melhor que fiquem aqui até o dia da viagem. Eu vou indo.
Teuscher e Kling observavam a mansão dos Hallmanns, esta chegara tarde da noite em Düsseldorf, eles tiveram um dia e uma noite cheia, pois precisavam planejar minuciosamente os próximos passos. E localizar Ben seria sua próxima tarefa.
A campainha tocara na casa de Stefanny, eram Teuscher, Kling e mais alguns policiais.
Teuscher tinha um mandado de busca caso ela oferecesse resistência, mas para sua surpresa ela os convidou a entrar.
-Talvez seja melhor que os senhores entrem, eu não quero que toda a criadagem acorde. Aliás esse deve ser o costume da polícia por esses lados, vir sem ser convidado, chegam quase de madrugada, muito interessante este trabalho de vocês. - Falou Steffany debochadamente.
Teuscher e Kling fingiram não entender o que ela dizia e foram conduzidos por um imenso corredor com tapetes em vermelho, as paredes forradas com papel de parede com florais em tons de rosa claro com fundo bege.
Os outros policiais ficaram esperando do lado de fora. Kling estava meio impressionado com tudo aquilo, mas Teuscher já estivera ali uma vez e nada disso estava interessando a ele. Ele queria chegar nos fatos e nos finalmentes.
Teuscher a achou audaciosa, pois os convidara a entrar àquela hora da noite sem nem mesmo perguntar por uma ordem judicial. Ele sentia que ela queria desafiá-lo e querendo dizer-lhe que eles estavam ali perdendo o seu tempo, que ela não tinha nada a esconder e que estava zombando de tudo isso. Com certeza ela já sabia da fuga do irmão. Teuscher não acreditava nela, havia qualquer coisa que ele não gostava e esse sentido que ele tinha nunca o havia enganado.
Para ele estava mais do que claro que ela já os esperava, e como seria bom fazê-los de bobo. Ela não era mulher de se intimidar, isso ela já havia deixado bem claro desde a primeira vez.
Steffany sabia que a polícia a estava seguindo, ela tinha a impressão de que mesmo depois que eles verificassem que na casa só estava ela e os empregados, eles iriam continuar vigiando-a. Ela precisava ser condescendente e educada, para não levantar mais suspeitas, pois nos próximos dias a transação iria acontecer, e até lá ela teria que tomar muito cuidado, até mesmo colaborar com a polícia se preciso fosse. Por isso ela seria boazinha.
Enquanto Steffi os conduziu pela casa, Kling pôde observar que a casa tinha muitas portas, pena que todas estavam fechadas. Ela os recebeu no escritório de Ben.
Ela foi a primeira a entrar e a acender as luzes. O que Kling viu pareceu aos seus olhos um mundo grego de tantos livros empilhados parede acima por uma gigantesca estante que cobria tudo. As decorações em estilo antigo e algumas estátuas.
O chão era de madeira escura e vários tapetes persas estavam espalhados protegendo a madeira que certamente era de Lei. Nas duas paredes livres que restaram, estavam pendurados quadros dos mais conhecidos pintores. A sala era gigantesca para um escritório. E muitas obras de arte decoravam o ambiente. Uma estante de vidro no canto da sala chamou a atenção de Kling pela quantidade de navios ali colecionados. Todos em estilo de caravelas. Steffany o observou.
-Pertenciam ao meu sogro, o pai de Ben.
-Interessante. - respondeu Kling.
-Ele era um admirador de Alexandre Magno e por suas embarcações. Por pouco ele não fez também o mesmo trajeto que Alexandre em suas viagens. - falou Steffany desdenhosamente.
-E o que o impediu? - perguntou Teuscher curioso.
-A morte, caro inspetor. - dissera Steffany ironicamente acendendo um cigarro.
Teuscher podia ter quase a certeza que ela podia dar uma boa risada ao responder-lhe assim. Ele sentia que ela sabia mais sobre a morte do sogro.
-Posso oferecer-lhes algo para beber, caro inspetor? Eu não posso viver um segundo a mais sem o meu whisky. - Ela já entornava o líquido no copo.
-Nós agradecemos senhora Hallmann, mas não queremos tomar muito do seu tempo e por isso eu prefiro ir direto ao assunto que nos trouxe até aqui. - respondeu Teuscher.
-Certamente. Por favor, sentem-se.
-Eu prefiro ficar como estou se a senhora não se ofender. - tornou a replicar Teuscher em pé e observando-a nos mínimos detalhes.
Steffany nada respondeu e foi sentar-se numa poltrona de couro.
-A senhora já deve saber que seu irmão é suspeito de matar um agente da Interpol, não é?
-Suspeita absurda esta. Só porque ele foi encontrado no quarto do morto.
-E como a senhora explicaria isso?
-Eles simplesmente se conheciam.
-Há algumas horas seu irmão ajudado por alguém da polícia conseguiu fugir.
-Vejo que já não temos mais policiais como antigamente. - falou sorrindo e entornando o líquido do copo garganta a baixo. - E o que eu tenho a ver com isso? - falou Steffany projetando no rosto um desdém que não convenceu Teuscher.
-A senhora é irmã dele e poderia estar acobertando-o, o que eu a lembraria senhora Hallmann que há leis contra isso.
-Primeiro senhor... Teuscher, é assim que o senhor se chama não é?
Teuscher afirmou com a cabeça.
-Os seus homens me seguiram esses dois dias sem parar, o senhor acha que eu sou alguma idiota? Eu faço agora a gentileza de recebê-los a estas altas horas da noite e sem nem mesmo exigir um mandado de busca de vocês, mas para quê tudo isso? Para que o senhor entre aqui na minha casa e me ameace com a lei?
Steffany era esperta, Teuscher tinha agora absoluta certeza de que ela sabia aonde o irmão se escondia. Talvez ele estivesse escondido ali mesmo e tudo o que ela fazia era tentar desvirtuar a atenção deles. Mas ele viera até ali com uma intenção: a de vasculhar cada centímetro daquela mansão e se ela se negasse ele já havia trazido o mandado de busca.
-Então a senhora não se incomodaria se meus homens derem uma busca pela na casa, não é mesmo?
-Se vocês querem perder tempo com isso, estejam à vontade.
Teuscher chamou alguns homens que estavam do lado de fora da casa pelo walk talk. Ele sabia que a busca iria demorar em se tratando de uma casa tão grande quanto aquela, por isso resolveu sentar-se e esperar. Steffany tinha no rosto um ar de deboche.
-Se a senhora não se ofender, poderia me dizer onde passou a tarde de ontem e o dia de hoje?
Steffany o olhou bem nos olhos.
-O senhor quer me dizer que o seu pequeno quartel militar não conseguiu me seguir? Que eu acordei primeiro que eles? O seu pessoal deveria ser mais eficiente inspetor.
Teuscher teve que engolir a seco o que ela estava lhe jogando na cara, pois afinal ela tinha razão. Um idiota qualquer dormiu no volante e a perdeu de vista. Teuscher repetiu a pergunta mas não mais com o tom amigável de antes, ele agora era o inspetor Teuscher. Ele pôde sentir que Steffany se mexera na cadeira, é claro que ela não estava com medo, afinal ela não tinha medo de nada e nem de ninguém, essa era uma palavra que ela desconhecia: medo.
-A senhora esteve com seu irmão hoje, não foi senhora Hallmann? - A pergunta foi à queima roupa, ela não esperava por aquela acusação assim. Ele também sabia ser terrível quando ele queria, ela pensou. Mas Steffany não perdeu a pose.
-Eu vou responder amigavelmente a sua pergunta inspetor e pela última vez. Eu não sei onde o meu irmão está. - Falou Steffany pausadamente.
Nesse instante os homens retornaram da busca e lamentavelmente fizeram uma negativa com a cabeça. O que Steffany sorriu.
-Satisfeitos? - perguntou Steffany dirigindo-se a Teuscher e a Kling.
-Só mais uma pergunta senhora Hallmann. Onde posso encontrar o seu marido?
-No inferno, inspetor, no inferno. - E mostrou-lhe a porta de saída da casa.
Steffanny agora se perguntava quem a estaria seguindo todos aqueles dias.
Teuscher estava agora em seu quarto e relembrava sua visita à mansão dos Hallmanns.
É claro que Steffany lhe mentira em relação ao paradeiro do irmão. Mas também o que ele esperava: que ela o entregasse assim de mãos beijada para a polícia? Seria mais fácil que um pombo lhe sujasse a cabeça.
Por outro lado, ele não abriu mão de deixar os policiais vigiando-a vinte e quatro horas por dia. Ele queria saber cada passo de Steffany, com quem falara, aonde fora, tudo tintim por tintim. Algo lhe dizia que em alguma coisa eles iriam falhar e ele queria saber no quê. Ninguém poderia ser tão perfeito desse jeito. Que diabos!
Ele desligou a luz do abajur quando acabou de fazer os últimos apontamentos daquele dia e tentou dormir.
Eram quinze para as quatro da madrugada e Teuscher estava exausto com este caso.
Primeiro eram todos esses corpos deformados onde ninguém sabia por onde começar e aí começava uma maratona que não estava levando-o a lugar nenhum.
Para início de conversa, Benjamim Hallmann, um homem rico e bem sucedido no mundo dos negócios, era o principal suspeito de ter assassinado um desses corpos, o que por outro lado também não tinha um álibi para aquela noite. A polícia tinha a prova do casaco, mas Teuscher não podia contar muito com isso não, pois era pouco para fazer de alguém um criminoso.
E os outros? Que ligação teria ele com os outros corpos nos ou tros países? Alguma coisa lhe dizia que esse não era um caso separado. Como será que tudo isso acontecera? Onde arranjar as provas? Tudo isso parecia mais um filme de terror com todos esses corpos monstruosos.
Igor aparecera assassinado, seu amigo Robert e para completar ainda mais a salada das confusões, Klaus Gühmann, cunhado de Benjamim Hallmann é o principal suspeito envolvido na morte de Robert. E como se isso fosse pouco ele conseguiu fugir debaixo das suas barbas, ou melhor dizendo do seu cavanhaque.
O que eles teriam em comum? E Georg Hallmann, onde ele estaria? O que ele estaria fazendo? Tudo o que ele sabia é que estava viajando em férias há duas semanas, ao menos foi assim que sua secretária lhe informara.
E como podia um político fazer férias tão longas? Só de pensar lhe doía a cabeça, ele não conseguia se desligar, ele se sentia em estado de alerta, como se tivesse tomado guaraná em pó, ele estava à mil. Fechar os olhos e buscar o sono era algo inútil e impossível. Em seu cérebro sempre explodia uma nova pergunta. Ele sabia que eles estavam andando em círculos e estava furioso por causa isso.
Naquela tarde Kling havia lhe trazido a lista com os nomes das pessoas que Robert lhe deixara.
E o nome de Klaus Gühmann constava na lista de homens perigosos. O mais interessante é que o SSI, Serviço Secreto Internacional também tinha uma ficha de Klaus, o que isso deveria equivaler que ele já deveria ter uma ficha suja em algum lugar no estrangeiro. E adivinha aonde: Na Austrália, no Brasil, na Inglaterra, na Holanda. Mas no quê? Droga! Exclamou Teuscher. Ele não sabia no quê. Faltavam informações. Ele era considerado apenas como suspeito.
Por outro lado lá estavam duas coisas em sua ficha que lhe haviam chamado à atenção: a primeira delas é que ele não era só um perito em explosivos, mas considerado excelente como nenhum outro e altamente profissional em tudo que faz. Então seguia-se uma lista das coisas onde ele era um verdadeiro Ás:
“Exímio atirador à longa e curta distância, grande conhecedor de diversos tipos de armas, explosivos, muito bom em velejar, esquiar, pilotar pequenos aviões, escalar montanhas, pilotar barcos. Participou de algumas guerras como exímio atirador, que participou de casos de espionagens, etc, etc e tal.”
O pior de tudo é que nada fora encontrado em seu celular. Monika Stahl não conseguiu achar absolutamente nada.
- JOCHEN SADLER -
Era tarde da noite quando Jochen Sadler conseguiu finalmente chegar
Jochen Sadler era casado e pai de dois meninos. A mulher e as crianças haviam ido para os avós naquele dia e ele estava sozinho. Sozinho para comemorar a façanha daquele dia.
Primeiro ele se dirigiu para o banheiro e tomou uma chuveirada. Depois foi até a cozinha e pegou uma cerveja na geladeira, e ainda de roupão deitou-se no sofá. Pegou o controle remoto, ligou o som. Fechou os olhos e se deliciou com um gole da cerveja.
Ele havia passado todo o dia operando telefones e computadores, mas tudo já havia sido preparado por ele para a fuga de Klaus. Por volta das dez horas quando tinha a troca da ronda, ele sabia perfeitamente que o local ficava quase vazio e, muitas vezes, vazio mesmo. Era quando os que chegavam tomavam café junto com aqueles que estavam saindo e contavam as piadas do dia ou da noite. Seria fácil para ele deixar os sistemas eletrônicos desligados para que Klaus tivesse acesso às saídas.
Sadler agora estava relembrando os fatos do dia quando a campainha da porta começou a tocar sem parar.
-Scheisse! Quem será a estas horas? O que é que há? - perguntou ao abrir a porta.
Ele mal teve tempo de perceber o que é que estava acontecendo. Dois homens estavam a sua frente com armas silenciadoras. O único barulho que se ouviu foi o da garrafa de cerveja que caiu de sua mão quando ele recebeu o impacto das balas entrando em seu corpo.
Klaus havia percebido que Sadler não era uma pessoa segura dos atos que fazia, por isso seria melhor liquidá-lo o mais rápido possível antes que ele desse com a língua nos dentes ou se arrependesse do que estava fazendo. Por isso, ele deu ordens a seus homens de confiança que Jochen Sadler deveria ser liquidado naquela madrugada.
Teuscher agora contava carneirinhos como fazia quando criança tentando achar o sono. Ele estava deitado de costas procurando uma posição para relaxar, pegou sua viseira para fazer as pálpebras mais escura porque ele já podia ver que o dia amanhecia através da claridade das cortinas das janelas. Ele precisava dormir, ele sabia que o dia seguinte seria puxado e quem sabe os próximos dias também, ele não via a hora desse caso terminar. Ele se encontrava assim, procurando o sono quando o telefone tocou, só podia ser Kling pensou.
-Fala, meu filho - atendeu Teuscher já sabendo de quem se tratava.
-Desculpa te acordar tão cedo, chefe.
-Você não me acordou tão cedo não, meu rapaz, eu não preguei o olho à noite inteira. O que foi, alguma novidade?
-Ainda não sei, mas uma mulher de nome Karin Austrin está na sua sala e diz que só sai daqui quando você aparecer. - E colocando a mão direita no fone esclareceu a Teuscher que ela era a filha do ex-Ministro do Interior e que nessa madrugada seus pais foram baleados e que se encontravam gravemente feridos no Krankenhaus, isto é, no hospital em Düsseldorf.
-O quê? Você sabe com quem essa mulher é casada Kling?
- Claro que sei chefe. E isso não é tudo não, Benjaminn Hallmann também está aqui.
-Segura eles e não os deixem ir embora, eu vou voando.
Teuscher chegou na delegacia em poucos minutos, ele realmente voara. Passara todos os sinais vermelho da cidade. Da próxima vez ele iria morar mais perto da delegacia para facilitar todo este transtorno. Quem sabe ele levaria a sua cama para o seu escritório e já moraria por lá mesmo, pois ele vivia mais na delegacia do que
-Bom dia senhora Austrin, bom dia senhor Hallmann. - cumprimentou Teuscher.
Karin tinha os olhos vermelhos. Ela havia chorado e pelo jeito muito. Teuscher teve um bom sentimento em relação a ela. Ele não sabia porque, mas sentiu que aquela mulher era diferente do que ele já vira na família dos Hallmanns, ela tinha classe.
-Poderíamos conversar em particular, senhor Teuscher. - pediu Ben.
- Certamente que sim. Vocês gostariam de um café?
-Vou aceitar, obrigada. - respondeu Karin delicadamente.
Já de volta com três xícaras de café nas mãos ele sentou-se de frente para Karin e Ben Hallmann. O que será que eles teriam para contá-lo? Ele observou que ela tomou dois pequenos goles e depositou a xícara sobre a mesa. Ben nem tocou na sua, ele não tirava os olhos de Karin.
-Eu nem sei por onde começar inspetor, é tudo tão difícil.
-Tente começar pela coisa que lhe vier primeiro a cabeça e depois as coisas irão por si só se ajeitando. - falou Teuscher calmamente, pois ele sentia que não deveria amedrontá-la mais do que ela já estava.
-Meus pais foram baleados esta noite, eu ouvi às notícias e foi isso o que me motivou a vir procurá-lo inspetor.
-A senhora desconfia de alguém?
-Do meu marido e de sua amante Steffany Hallmann.
Teuscher engoliu
E então Karin começou a lhe contar tudo o que ela ouviu na ilha. De que Klaus, Georg e Steffany não passavam de assassinos a sangue frio e que eles se encontrariam dentro de dois dias com alguns australianos e russos num trem noturno que vinha à da Suíça para fazer a transação.
-Que tipo de transação, senhora Hallmann? A senhora sabe do que se trata?
-Eu não entendi direito, eles falaram que tinham que entregar uns dados.
-É nessa parte que eu entro inspetor. Eles estão à procura dos dados que multiplicam as células de rejuvenescimento em nosso corpo.
- Mas que beleza! Se esses dados existem, eu também os quero. - falou Teuscher zombeteiramente achando que aquela história estava mais para bico de papagaio que repetia o que ouvia.
-Isso não é brincadeira não inspetor. - retrucou Ben. - Parece absurdo, não é mesmo? Difícil de acreditar. O senhor se lembra da mulher que foi encontrada morta na Altstadt, no rio Reno?
-Como eu poderia esquecer? O senhor é o principal suspeito - lembrou Teuscher.
-O senhor não pode me acusar sem provas e tudo o que eu tenho para lhe contar vai lhe ajudar e muito a resolver este caso. - Teuscher olhou Ben de modo interrogativo e falou:
-Então continue senhor Hallmann, eu sou todo ouvidos.
Assim como Karin, Ben não sabia por onde começar. Era-lhe difícil arrumar as idéias e narrar toda aquela história que para ele era mais do que absurda. Mas que infelizmente era uma pura e dolorosa realidade que ele estava vivendo.
Ben começou a contar-lhe sobre a deformação dos corpos, e que eles foram categoricamente planejados para que fossem despachados em lugares estratégicos. Com a única intenção de fazer a polícia se calar e abafar os casos para não deixar a população
Falou da morte de seu pai, do atentado no aeroporto em Düsseldorf levando a morte de oito árabes que estariam envolvidos na compra desses dados. Ben falou na morte de todos os cientistas e inclusive na última cientista assassinada, Margot Krämmer que também estava envolvida no caso, onde ele mesmo, o inspetor estava cuidando do caso. Quando Ben falou assim, Teuscher já estava abrindo o seu caderninho de anotações e procurando o nome de Margot.
-Espera aí, senhor Hallmann. Quer dizer então que essa senhora Krämer também estava envolvida com essa história dos corpos deformados? Que história mais complicada! E o senhor Markus Krämer? O que ele tem a ver com o caso? O que ele sabe? Se não me engano ele é parente da morta. Falou Teuscher estendendo para Ben o cartão de visita que Markus havia lhe dado. Ben estava surpreso por ver que o inspetor já havia ido tão longe em suas investigações, ao menos era assim que ele pensava. Na verdade Teuscher esperava conseguir através de Ben maiores informações, pois ele se achava montando um quebra-cabeças, tateando no escuro.
-Ele sabe tudo sobre este caso inspetor. - respondeu Ben.
-E onde estão estes benditos dados? - perguntou Teuscher intrigado, pois parte da história que ele acabava de ouvir, ele já conhecia do relatório do seu amigo Robert deixado para ele e também, pelo que Kling já havia conseguido.
-Meu pai os escondeu muito bem em algum lugar onde ninguém até agora conseguiu encontrá-los. Por favor, inspetor, acredite
Ben havia narrado tudo o que ele sabia e nos mínimos detalhes, por último relatou o rapto do filho e do atentado de sabotagem no avião de Gabriella. Tudo isso para chantageá-lo e forçá-lo a entregar a eles esses dados.
Teuscher coçou uma das suas orelhas, desviou o seu olhar de Ben e olhou para Karin e novamente para Ben. Ele podia sentir que tudo o que eles lhe contaram fazia sentido, que a história batia até onde ele sabia. Mas por outro lado também Ben poderia agora estar querendo tirar o corpo fora de tudo isso e sair limpo de toda esta história e jogar a culpa em cima do irmão. Pelo visto tudo era possível nesta família. Toda esta história era mirabolante demais.
-E onde estão estes benditos dados senhor Hallmann?
-Eu ainda não os encontrei, inspetor. - mentira Ben pela primeira vez desde que começou a relatar essa história. Karin ainda o olhou na esperança dele dizer que já os havia encontrado. Na verdade ela mesma não conhecia toda a história e estava chocada.
-Quem são as pessoas dos corpos deformados encontrados pela polícia, senhor Hallmann?
-Sinceramente eu não sei, inspetor. Eu não as conheço, nunca as vi. O que eu sei é que Klaus Gühmann faz os contatos com eles.
-Por que os corpos sofrem essas transformações monstruosas, senhor Hallmann?
-Pelas explicações da senhora Krämer, inspetor esses corpos deformados são o resultado das experiências que não foram bem sucedidas, entende? Até onde eu sei inspetor, meu pai deixou vários outros dados espalhados e a medida que eles as encontram, eles as testam e como os dados não estão corretos os órgãos sofrem um atrofiamento. Por isso a aparência monstruosa.
- Por que os corpos têm tatuados um barco antigo na altura da nuca, senhor Hallmann?
-Meu pai tinha verdadeiro fascínio por embarcações antigas. Creio que ele quis deixar registrado a marca de sua obra prima.
-E que obra prima! - exclamou Teuscher aborrecido.
-Mas afirmar isso com certeza eu não posso inspetor. - respondeu Ben sinceramente.
-Por que é que o senhor não me contou toda essa história antes, quando o senhor esteve aqui da outra vez prestando depoimento?
-Porque naquela ocasião eu também não sabia que as coisas eram desse jeito, inspetor.
-Me responda uma coisa senhor Hallmann, fale-me a respeito de Robert Janssen.
-A respeito de quem? Eu não o conheço, inspetor. Nunca ouvi falar dessa pessoa.
-Mas ele conhecia o senhor - jogou Teuscher com as palavras.
-Isso pode ser, pois sou um homem conhecido. - respondeu Ben vendo que o inspetor Teuscher mexia em seu caderninho de anotações e virava várias folhas procurando alguma coisa.
- Me diga uma coisa, o que o senhor tinha com Richard Làcond?
Teuscher pôde ver que ele empalidecera. Ben já esperava que a polícia tinha ido tão longe em suas vasculhações. Ele virou-se para Karin e pensou em pedir-lhe que se retirasse, mas segundos depois ele pensou diferente. Já era hora dele enfrentar essa parte negra do seu passado, afinal ele nada fizera e nada tinha para esconder. E então ele começou a narra-lhe tudo o que aconteceu naquela noite e de como Steffany e Klaus haviam planejado as coisas.
-Eu não o matei, inspetor. Ele era o meu melhor amigo. - falou Ben com lágrimas nos olhos.
Teuscher pôde sentir que ele não lhe mentia e somente agora, ele podia entender o porquê da tristeza de Ben retratada no quadro que ele vira em sua casa, quando lá estivera pela primeira vez. Ele ainda podia se lembrar dos olhos tristes de Ben no quadro. Com certeza toda a vida desse homem tinha sido um pesadelo ao lado dessa mulher e ainda continuava sendo, pensou Teuscher sem saber o que lhe dizer.
-Senhor Hallmann, o senhor sabe onde nós podemos encontrar seu irmão, sua esposa e Klaus Gühmann?
-Eu não tenho a menor idéia, inspetor.
-Senhora Karin, a senhora acha que eles ainda estariam nessa tal ilha de onde a senhora fugiu?
-Não acredito inspetor, com certeza foram eles que deram ordens para eliminar os meus pais. - falou Karin com um nó na garganta. - Mas eles vão se encontrar com esses negociadores na noite do dia cinco.
-Mas onde? - inquiriu Teuscher.
-Pelo que eu ouvi, toda a transação será feita no trem que vem da Suíça, como já falei. Mais eu não tenho certeza, inspetor. Eles podem ter mudado os planos.
-O senhor sabe alguma coisa a respeito, senhor Hallmann?
-Nada inspetor.
-Vocês sabem que estão correndo um sério risco de vida não é mesmo? - Teuscher fixou o olhar nos dois.
-Sabemos inspetor - respondeu Ben - E como nós poderíamos ajudá-lo?
-Por enquanto eu ainda não sei, mas vou pensar em alguma coisa. A polícia irá escoltá-los e qualquer novidade o senhor entre imediatamente em contato comigo através desse número, é do meu celular. Eu, junto com o meu assistente, vou fazer um levantamento do horário dos trens que vêm da Suíça neste dia e principalmente o desta noite que a senhora me falou. Por hora é só e muito obrigado. - Teuscher estava realmente agradecido.
E dizendo assim, ele abriu a porta e chamou Kling. Deu ordens que ele arranjasse homens de confiança e que mantivesse o senhor Hallmann e a senhora Karin sob escolta vinte e quatro horas. Ele queria também, que os homens estivessem à paisana, para o acaso deles estar sendo seguidos. Teuscher não iria facilitar em nada o trabalho daquele pessoal.
Karin seguiu escoltada por dois policiais diretamente para o hospital onde se encontravam seus pais.
Assim que eles deixaram a sala de Teuscher o telefone tocara. Era a esposa de Sadler, ela estava histérica ao telefone dizendo que haviam matado o marido dela. Ela tinha chegado com as crianças da casa da mãe e encontrou o corpo dele todo ensangüentado estendido no tapete branco da sala.
Sadler até que era um cara legal, pensou Teuscher por alguns segundos enquanto a mulher gritava ao telefone, mas estava muito longe de ser um bom profissional.
Rapidamente eles chegaram ao local e fizeram uma busca por todo o apartamento.
Eles descobriram que Sadler tinha fitas gravadas das conversas que Teuscher havia tido. Até mesmo o telefone de sua casa havia sido grampeado. Mas como Sadler se envolveu com Klaus Gühmann? Para Teuscher estava mais do que claro que ele não poderia confiar em ninguém no departamento em que ele trabalha e isso era o fim do mundo: Não poder confiar mais na própria polícia. Quantos mais estariam envolvidos? Ele olhou para Kling, será que até ele? Será que Kling estaria trabalhando para essa gente também? E o caso da morte do patologista
-Não se pode jogar cartas sem ter cartas nas mãos para jogar. - pensou Teuscher decepcionado.
******
- GEORG HALLMANN -
Já passavam das duas da tarde quando Ben chegou à redação do jornal.
-Arthur, como vão as coisas por aqui? - perguntou ele preocupado.
-Eu não tenho boas notícias Ben. - respondeu Arthur. - o pai de Karin não resistiu aos ferimentos e morreu esta manhã enquanto vocês estavam na polícia.
-Meu Deus! Karin não vai agüentar, ela tinha verdadeira adoração pelo pai e juntando os acontecimentos dos últimos dois dias seria demais para ela, na verdade seria demais para qualquer pessoa.
-Sim eu sei, mas isso não vai durar muito tempo Ben.
-Você fala assim por causa da transação que vai acontecer daqui a alguns dias, não é?
Ben não sabia que Arthur tinha uma outra coisa
Seria altamente perigoso, nem mesmo ele sabia se iria conseguir ou não. Mas tentar pôr fim em tudo, seria melhor que nada.
Ben tinha toda a razão, Karin perdeu todo o controle. Suas últimas forças lhe abandonaram. Ela pegou o celular e ligou para casa na esperança de encontrar Georg por lá e acertou, ele estava lá, exatamente à espera da ligação dela.
-Você vai me pagar caro Georg - ameaçou Karin.
-Es tut mir so Leid, Karin. - Georg lhe dissera que ele sentia muito. Mas não era verdade.
Ele já podia imaginar que ela se encontrava no hospital onde seus pais estavam internados. Assim que ele soube para onde os Austrin tinham sido levados, deu ordens expressas de que o pai dela fosse morto. Mas somente o pai.
-Karin, me escute bem com atenção. - ordenou Georg. - Se você não quiser que o mesmo aconteça a sua mãe, você tem que trazer o meu filho de volta.
-O filho de Ben você quer dizer não é?. - corrigiu Karin.
-Então você já sabe de tudo, é melhor assim, me poupa esclarecimentos.
-Como você pôde fazer isso comigo Georg? Com seu pai, com seu irmão? Com meu pai que tanto te ajudou.
Nesse momento Steffany pegou o telefone.
-Escuta aqui sua cadela engomada, você tem meia hora para me trazer o menino. Senão a sua mãe estará morta também.
Karin desligou o telefone. As pernas lhe tremiam e as mãos também, ela não pensava em mais nada a não ser estar ao lado do filho, ela queria protegê-lo caso alguma coisa acontecesse. Dirigiu-se para o policial que a escoltava e que a esperava no corredor. Ela percebeu que era um outro.
-Onde está o outro guarda que me trouxe até aqui?
-Está na hora da troca de ronda senhora Hallmann.
-Deixe-me ver a sua credencial de policial, por favor. - ela não confiava em ninguém mais.
Ele a apresentou e ela balançou a cabeça dizendo que estava tudo bem.
Karin deu-lhe ordens de dirigir o carro para o endereço que ela lhe disse.
Um carro cinza escuro com vidros fumê também deu partida no mesmo instante. O policial disfarçado observou pelo espelho retrovisor que eles estavam sendo seguidos, mas nada disse.
Ela podia se lembrar de todos os detalhes do dia em que eles apareceram no apartamento onde Gabriella está escondida.
Ben buscou-a na pequena pensão
Karin pediu a Victor que desse um forte abraço naquela moça bonita e também um beijo bem gostoso que somente ele sabia dar.
Ben teve que ajudá-la a levantar-se, pois Gabriella se sentia enfraquecida e quase tombou para trás quando o menino a abraçou fortemente. Ela não parou de chorar o tempo todo. Ela não sabia o que dizer. Karin tentou imaginar no quanto ela deveria ter sofrido no hospital quando lhe contaram que o bebê havia morrido.
-Meu Deus! Que tipo de homem foi que me casei? E como não percebi nada durante todo esse tempo?
Karin pensava agora que se isso tivesse acontecido com ela, certamente teria enlouquecido.
Gabriella era uma mulher muito forte e já estava mais do que na hora dela ser feliz ao lado de Ben.